Desde setembro, jovens da Vila Guacuri, na Zona Sul, vêm tendo aulas em meio aos monumentos do Parque da Independência. Com idade entre 15 e 17 anos, eles compõem a primeira turma do projeto Agentes Históricos, cujo objetivo é ajudar a evitar o vandalismo ao ensinar a importância da preservação dos símbolos de São Paulo. “Só preservamos aquilo que conhecemos”, acredita Francisco Zorzete, coordenador-geral da iniciativa, idealizada pelo Museu a Céu Aberto, instituição privada sem fins lucrativos.
Os estudantes aderiram ao curso por meio da Casa da Cultura e Cidadania de Vila Guacuri, que também ministra outras disciplinas, como a que ensina a ser DJ, por exemplo. Às quartas, o grupo tem aulas expositivas sobre a história da cidade, do estado e do país. Aos sábados, ocorrem as visitas ao parque. São quarenta alunos, mas nem todos comparecem nos fins de semana. No último dia 27, apenas dezessete conseguiram acordar cedo o suficiente para chegar às 9 horas ao Ipiranga. “Acordar cedo é um sacrifício”, diz Stephany de Sousa Gomes, de 17 anos. “Mas vale a pena vir. É bem diferente de como aprendemos na escola.”
Nos últimos três meses, foram repassados detalhes de atrações como a Casa do Grito e os museus de Zoologia e do Ipiranga. “A gente vai ao colégio e muitas vezes não aprende nada. Aqui temos liberdade para fazer perguntas sem vergonha do que vão pensar”, conta Evellyn Ferreira, de 15 anos, após descobrir que a independência do país não ocorreu apenas com o brado do imperador “às margens plácidas” do Ipiranga. “Não foi como mostra o quadro (“Independência ou Morte”, de Pedro Américo). Dom Pedro I nem sequer estava a cavalo, já que só uma mula poderia carregá-lo pelo caminho de Santos até lá”, explica a garota. Sentado ao lado do Monumento à Independência, Sérgio De Simone, arquiteto e historiador que coordena as aulas, pergunta: “É correto utilizar ferro para restaurar essa estátua de bronze?”. O grupo responde “não” e mostra as manchas de ferrugem decorrentes da utilização do elemento.
A lição mais importante está na ponta da língua de todos: “Educar para não restaurar”, repetem em coro. “O dinheiro dos impostos pagos por nossos pais é usado para consertar essas coisas. E um dia nós vamos pagar”, afirma Stephany. A maior parte da classe assumiu conhecer alguém que já cometeu vandalismo. Alguns, inclusive, foram alvo de indiretas dos colegas. Envergonhados, garantem que aprenderam a lição. A parte teórica termina no próximo dia 20 e, a partir de janeiro, os estudantes passarão mais três meses atuando como monitores culturais, ajudando na preservação e ensinando aos visitantes um pouco de história. Quem quiser participar dessa etapa trabalhará cinco horas por dia, recebendo uma bolsa de 210 reais por mês. No futuro, a tendência é que o projeto seja ampliado. “Queremos expandi-lo para outros locais que são símbolos da história da cidade, como o Parque da Luz”, diz o presidente do Museu a Céu Aberto, Paulo Solano Pereira.