‘Se minha convicção incomoda, lamento’, afirma professor da USP que defendeu ditadura
Eduardo Lobo Botelho Gualazzi diz que se arrependeu de ter ido dar aula na data que marcou os 50 anos de golpe militar
Professor da Faculdade de Direito da USP desde 1983, Eduardo Lobo Botelho Gualazzi, de 67 anos, já estava acostumado ao “choque de opiniões” dentro da universidade – que considera “comum e salutar” no ambiente de ensino. Na última segunda-feira (31), porém, ficou surpreso com um protesto de alunos durante sua aula de direito administrativo internacional e, principalmente, com a repercussão nas redes sociais. Ele disse que se arrependeu de ter ido à universidade naquela noite. “Acho que houve uma terrível coincidência, mas o que posso fazer? Era meu dia de dar aula e insisti em ir. Deveria mesmo era ter ficado em casa ou ido ao cinema”, disse para a reportagem de VEJASÃOPAULO.COM.
Na data que marcou os 50 anos do início da ditadura militar no Brasil, Gualazzi distribuiu e leu um texto de sua autoria em defesa do regime. Os alunos registraram em vídeo a aula e a manifestação, que começou com a simulação de uma sessão de tortura por parte dos militares. O professor foi embora da sala.
“O choque de opiniões é normal e até salutar em uma faculdade. O que não estava salutrar era o clima geral do Brasil nesse dia. Simplesmente não entendo porque tanta vibração emocional em torno da revolução de 1964, que hoje chamam de golpe”, opinou. “Por que não tratam também emocionalmente a Proclamação da República, o descobrimento do Brasil?”
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No texto, cujo título é “Continência a 1964”, Gualazzi afirma que “humildemente apoiou, em silêncio firme, a Revolução de 1964, decisão íntima de que sempre me orgulhei”. Durante a leitura em sala, falou ainda que “os líderes civis e militares da revolução de 1964 sabiamente consolidaram, ao longo de 21 anos, infraestrutura e superestrutura que tornaram o Brasil imune a qualquer tentativa de subversão”.
Gualazzi, que já atuou como Procurador do Estado e diplomata, era conhecido na universidade por suas convicções e por referir-se a 1964 como “revolução”. De acordo com o professor, sua posição política sempre ficou clara até nos livros que escreveu sobre direito administrativo. “Sou um liberal de direita moderado. Impossível imaginar alguém mais moderado do que eu. Mas, se minhas convicções incomodam, lamento muito. Estão dando a isso uma importância impossível, que eu não tenho e que minha aula não tem”, concluiu.