“Não deixei nada para ninguém. Velho é muito humilhado na cadeia”, resmungava Leonilda Lopes da Silva, de 58 anos, ao partir do Centro de Progressão Penitenciária do Butantã, em 8 de outubro. Nas mãos, um saco cheio de roupas, uma sacola com outros pertences (como cotonetes) e uma cesta com doces e batom que ganhou em um concurso de redação. Nos anos 90, era sacoleira, quando, em sua versão, descarregou o revólver nas costas de um ladrão que sempre tomava seu estoque. Passou presa de 1994 a 1998, ano em que conseguiu o direito de trabalhar fora em regime semiaberto e aproveitou para fugir. Ficou foragida até 2011, quando se entregou espontaneamente. “Cansei de viver escondida.” A volta para a casa da família (filha, genro, netos e uma bisneta), em uma favela da Zona Sul, pegou a mãe, que tem 82 anos e mora em um barraco próximo, de surpresa. Ao avistá-la, começou a gritar como uma criança, puxando a filha pela blusa, agarrando-se a seus cabelos longos e brancos. Quase foram ao chão. “Mãe, eu voltei, e desta vez é para sempre”, prometia, cercada por lágrimas dos parentes.
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