A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente informou que irá remover as duas lixeiras especiais para descarte de camisinhas criadas pelo engenheiro Michel Friedhofer e instaladas por ele em árvores entre os portões 7 e 8 do Parque do Ibirapuera no último fim de semana.
Cansado de ver a cena corriqueira de prática de sexo na área verde e os preservativos sendo jogadas no chão, o frequentador decidiu arregaçar as mangas e projetou as latas pretas e anexou placas com os dizeres “QUERO DAR… um pequeno exemplo de civilidade” e algumas imagens associadas que causaram polêmica.
“As lixeiras foram colocadas à revelia da administração do parque e estão fora do regulamento”, diz a prefeitura. “O engenheiro não pediu autorização para fazer a ação e existem regras a serem cumpridas no Ibirapuera”.
Em uma das placas implantadas mostra um casal heterossexual de um lado e, do outro, um homossexual, com setas apontando para qual das duas lixeiras a camisinha deve ser direcionada.
Em outra, há a imagem de duas mãos, uma insinuando um órgão sexual masculino pequeno e outro maior e, novamente, as setas levando aos baldes pretos.
Por fim, a terceira traz a foto de dois armários, um aberto e, outro, fechado, em alusão aos “enrustidos” e “assumidos”, ou seja, pessoas que contaram ou omitiram suas orientações sexuais. Nas três placas lê-se “Brincadeiras à parte… jogar no chão não vale, né? Pelamor…!”
“O problema do sexo nos parques dura décadas e ninguém conseguiu solucionar, mas o das camisinhas achamos que dá para resolver”, diz Friedhofer, fundador do projeto “Um convite à civilidade”. “Só que eu fui por uma fórmula diferente das placas nas quais está escrito ‘Mantenha o parque limpo’. Elas não são mais efetivas, perderam a sensibilidade. Optei por usar outro tipo de linguagem, de layout de videogame, com uma comunicação que, ao se destacar e causar choque, atingisse de fato o público.”
Questionada pela reportagem sobre qual será a proposta, então, para coibir a prática de sexo e o lixo causado pelas camisinhas no chão, a prefeitura informou que vem realizando uma série de ações no parque, incentivando os jovens a ocupar o espaço de forma segura e saudável, mas deu como exemplo somente ações desenvolvidas para os rolezinhos (eventos marcados via redes sociais que congregam jovens da periferia) e nenhuma em relação ao tema perguntado.
“Todos os domingos, por exemplo, durante os chamados rolezinhos são realizadas ações envolvendo diversas secretarias em que os jovens passam por uma revista na entrada do parque, inibindo a entrada de bebidas e drogas”, diz. “A Prefeitura Regional tem feito um trabalho com os ambulantes, retirando mercadoria ilegal, em sua maioria bebidas alcoólicas, as secretarias de Cultura e Esporte têm levado atividades para a Marquise, a Saúde colabora com ambulância, e assim por diante”, ressaltou finalizando que a ação “reduziu drasticamente e praticamente zerou casos de abusos sexuais e comas alcoólicos”.
No dia seguinte após a implantação, uma das lixeiras foi destruída; mas a outra foi mantida intacta e proporcionou resultados. “A primeira foi quebrada em questão de minutos, o que mostra que está causando incômodo. A segunda, no entanto, tinha preservativos dentro, o que já é um avanço”, comenta o engenheiro. A reportagem apurou que os frequentadores do Ibirapuera estavam divididos em relação à campanha. Alguns acharam a iniciativa divertida e uma forma de chamar atenção para o problema; outros acreditavam que ela estava servindo mais para endossar o sexo no parque.
No próximo fim de semana, o engenheiro pretendia instalar mais quatro lixeiras, mas com a decisão resolveu recuar. “É uma pena porque tentei achar uma forma de amenizar o problema por um caminho criativo, mas estou aberto a discutir com a prefeitura possíveis alternativas”. O secretário Gilberto Natalini informou que está à disposição para receber o engenheiro.