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OLÁ,

Prefeitura abre 120 novas vagas para taxistas no Aeroporto de Congonhas

O ponto é disputadíssimo e chega a valer 350 000 reais

Por Giuliana Bergamo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h30 - Publicado em 18 set 2009, 20h28

O ponto do Aeroporto de Congonhas está para os taxistas assim como a primeira classe para os passageiros de avião. É cobiçadíssimo e muito caro. Não à toa. Quem trabalha ali embolsa cerca de 7 000 reais por mês. A cada desembarque de aeronave, isso acontece em intervalos de quatro minutos, sessenta carros são requisitados, segundo estimativa do Departamento de Transportes Públicos (DTP). Atualmente, 336 táxis comuns e outros 400 especiais atendem o aeroporto. Ainda é pouco. Nos horários de pico, sextas e domingos à noite e manhãs de segunda, os passageiros esperam, em média, trinta minutos por um carro. Carregados com bolsas e malas, eles ficam prostrados em pé na área externa. “Quando a fila está muito longa, já ligo para um disque-táxi”, comenta a carioca Tatiana da Fonseca Souza, que vem a São Paulo semanalmente. Para amenizar o transtorno, a prefeitura anunciou, na semana passada, a criação de mais 120 vagas, disponíveis a partir do dia 18 de fevereiro. “Com essa medida, pretendemos acabar com as filas”, diz Trajano Conrado Carneiro Neto, diretor do DTP.

A notícia não alegrou apenas os passageiros. Taxistas que trabalham em outros bairros estão ansiosos para se candidatar a essas vagas de ouro, concedidas por sorteio a profissionais que já atuam na praça, em 2003, a última vez em que surgiram oportunidades ali, foram 5 000 inscritos para apenas duas vagas. “Esse é o sonho de todos nós”, diz José Carlos de Souza, que fatura 2 500 reais por mês atendendo uma empresa de radiotáxi. “Mas é muito difícil conseguir, equivale a ganhar na Mega-Sena.” A outra maneira de adquirir um alvará em Congonhas é recorrendo a taxistas que negociam pontos de forma irregular. No mercado paralelo, uma vaga custa 350 000 reais. Há, inclusive, a chamada “boca”, região no Pari, nas imediações do DTP, onde funcionários das lojas de carro especializadas em táxis negociam licenças. Na Rua Joaquim Carlos, um Astra 2006 com alvará de ponto livre (que não tem local fixo para esperar passageiros) sai por 88 000 reais. Para oficializar a troca de dono, o vendedor e o comprador precisam ir até o DTP. São, então, submetidos a uma entrevista. Caso haja desconfiança de que se trata de comercialização, a transferência é cancelada. Mas isso raramente acontece.

Enquanto os taxistas de pontos menos nobres salivam pelas novas vagas de Congonhas, quem já trabalha no local está preocupado com a chegada da concorrência. “Não é verdade que faltam carros”, reclama Milton Toshio Matsu-bara, coordenador do ponto de táxis comuns do aeroporto. “O problema é que, quando chove ou ocorre algum acidente, o acesso a Congonhas fica impossível, e não há como entrar para pegar passageiros.” Eles também têm outra preocupação, essa mais antiga. São os chamados “arrastadores”, ajudantes daqueles taxistas que não têm permissão para trabalhar ali e, portanto, só podem entrar em Congonhas se estiverem carregando passageiros. Caso contrário, são multados em 46,04 reais. Para burlarem essa regra, eles pagam 2 reais aos tais arrastadores para que entrem com eles e desembarquem vagarosamente até que um passageiro real suba no carro. Ficam sussurrando “táxi, táxi, táxi” para os transeuntes que circulam na área externa do aeroporto em frente ao check-in e no desembarque. Os taxistas com permissão para trabalhar no aeroporto só podem aguardar no piso inferior, em frente à rampa que sai do desembarque.

Excesso de passageiros é um privilégio de poucos pontos na capital, caso de Congonhas, da Rodoviária do Tietê e do Shopping Iguatemi. O fato é que São Paulo tem táxis demais e clientes de menos. São 32 000 cadastrados, a terceira maior frota do mundo, atrás da Cidade do México (60 000) e de Buenos Aires (45 000). Para se ter uma ideia, Nova York, com população quase equivalente, conta com 13 000. Com tantos carros dando sopa nas ruas, o preço da corrida deveria ser menor. A bandeirada do táxi comum custa 3,50 reais, o quilômetro rodado 2,10 reais e o minuto parado 46 centavos. Para um taxista paulistano atingir 3 000 reais de lucro mensal, ele trabalha cerca de quinze horas diárias, seis dias por semana. Por essa razão, todos querem Congonhas.

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