Prédios sem garagem aumentam 138% em SP, diz pesquisa
É a primeira vez que a capital paulista apresenta a construção de mais prédios sem garagem, aponta Secovi

No primeiro semestre de 2025, a construção de prédios sem garagem em São Paulo cresceu cerca de 138% em comparação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Secovi-SP (Sindicato de Habitação de São Paulo).
De acordo com o sindicato, essa também é a primeira vez que a capital paulista apresenta a construção de mais prédios sem garagem (58%) do que de empreendimentos com áreas destinadas aos carros (42%).
Por que isso aconteceu?
João Meyer, arquiteto urbanista e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, aponta um padrão mundial de prédios sem garagem em centros de alta densidade, a fim de melhorar o fluxo na cidade.
Essa mesma lógica está presente no Plano Diretor Estratégico de São Paulo que retira a obrigatoriedade de vagas de garagem por unidade em prédios construídos em regiões próximas de transportes públicos, os chamados Eixos de Estruturação da Transformação Urbana.
Esses eixos são determinados como pontos que estão a 150 metros de cada lado dos corredores de ônibus e no raio de 400m ao longo das estações de metrô e trem. Essa medida busca incentivar o uso de transportes públicos coletivos no lugar do carro. Hábito que tem ganhado espaço entre a população.
“É uma opção que a pessoa tem de morar em um local mais central sem carro. Isso foi um grande passo. Essa prática está pegando uma grande classe média, classe média baixa e mesmo os jovens”, afirma o professor. Com o incentivo do uso, ele acredita em um incentivo de se investir mais no transporte público para atender a demanda,
Em paralelo, Meyer também explica que a construção de prédios sem garagem reduz o valor de compra das unidades. Como consequência desse barateamento, o mercado imobiliário encontrou uma demanda de consumidores de pessoas de classe média.
Falha no plano urbanista
Uma alteração feita em 2023 no Plano Diretor afetou a efetividade desse incentivo ao uso do transporte público. Segundo o arquiteto, a nova versão, apesar conservar a não obrigatoriedade de vagas, permitiu que prédios construídos nos eixos pudessem ter uma vaga a cada 60m² de apartamento.
Dessa forma, foram autorizados empreendimentos de alto padrão com maiores metragens e, consequentemente, maior número de vagas por apartamento. “Isso acabou gerando um incentivo para fazer apartamento de alto padrão cheio de vaga. A ideia que seria justamente aumentar densidade ao longo do metrô para pessoas que não precisem ter carro e as pessoas que querem ter carro podem morar em outros locais da cidade que não precisa ter metrô”, diz.