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Prédio no Brooklin é projetado para enturmar moradores

Ideia teve consultoria de gestão sustentável da Aha!

Por João Batista Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 19h32 - Publicado em 18 set 2009, 20h26
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  • Nada de elevador privativo, muitas vagas na garagem ou jardim de inverno dentro de casa. Quando vendeu seu apartamento na Vila Mariana, o empresário Julio Lagheto saiu à procura de um lugar que ampliasse seu círculo de amizades. Dono de uma corretora de seguros, ele optou por viver em um condomínio no Brooklin projetado para enturmar seus moradores. “Aos 67 anos, senti que minha qualidade de vida melhoraria se estivesse rodeado de gente interessada em viver como uma comunidade”, diz ele, que é separado há dezesseis anos. Para que o Companhia dos Amigos ficasse com a personalidade de uma vila – dessas em que os vizinhos são amigos e se frequentam -, a construtora Obracil contratou a Aha!, consultoria de gestão sustentável que presta serviços para empresas como Vale e Gradiente. “Pensamos em diversas maneiras de aproximar quem se mudasse para cá”, conta a sócia da Aha! Anita Prado, que gostou tanto da ideia que comprou uma unidade no prédio, inaugurado em abril. Formas de integração: assim que assinava o contrato, cada novo proprietário se comprometia a doar duas receitas caseiras de família, uma salgada e outra doce, que seriam transformadas em um livro de culinária.

    A engenhoca que mais faz sucesso foi batizada de “termômetro da amizade”. Trata-se de uma espécie de semáforo instalado na sala de cada um dos apartamentos. Ele indica se seus vizinhos estão abertos a visitas (luz verde), se não querem ser incomodados no momento (luz amarela) ou se estão passando por algum problema (luz vermelha). “Só fica sozinho quem quer”, diz a publicitária Elisa Leitão. Lagheto, por exemplo, afirma que deixa seu apartamento sempre na condição verde. “Até comprei uma mesa de bilhar oficial, por 12 000 reais, para receber quem curte uma partida acompanhada de rodadas de cerveja e vinho.” Todos levam a sério a brincadeira. “Quando estava de mudança, um móvel esbarrou no botão vermelho e, em poucos minutos, diversas pessoas interfonaram para saber se eu estava bem”, lembra Lazaro Moura, professor de artes da Faap e do Senac. Nas paredes das áreas comuns foram pintadas frases sobre amizade, entre elas “Jamais sofrerá de solidão se tiver ao menos um amigo” e “Amizade é o amor que nunca morre”.

    Como a dinâmica de viver em comunidade implica em pôr a mão na massa, todos foram escalados para equipar o espaço gourmet (sala de estar e cozinha comunitárias), que conta com fogão semi-industrial e forno de pizza. “Muitos deixaram imóveis grandes para viver em apartamentos de 104 metros quadrados”, conta Anita. “Nem tinham onde colocar os móveis.” Jogo de sofá, estante e louças estão entre os itens doados para as áreas comuns do edifício. Os condôminos também colaboram dividindo experiências. A partir desta semana, um dos moradores dá início a aulas gratuitas de italiano todos os domingos de manhã. Das 22 unidades, apenas três têm proprietários com menos de 40 anos de idade. “Esse modelo de condomínio, que existe há dez anos nos Estados Unidos, reúne pessoas de classe alta e cai no gosto dos mais velhos por minimizar a solidão”, explica Carlos Leite, professor de arquitetura do Mackenzie. O residente mais novo é Alexander São Thiago, de 15 anos, que vive com os pais. “Minha rotina ficou mais agitada por aqui”, diz o garoto.

    Assim como alguns sítios e fazendas, o condomínio não tem porteiro, mas um casal de caseiros. Enquanto Edson Gaiao é o responsável pela manutenção do prédio, Marli Bernardo cuida da horta e paparica os moradores com pães, tortas e bolos de chocolate feitos ali. “A Marli já preparou um curau para eu comer enquanto corrigia provas”, afirma Luigi Gagliardi, professor de física e matemática do colégio judaico Beit Yaacov. “Além disso, ela deixou um vaso de flores na minha porta quando voltei de viagem da Itália, há uma semana.” Carlos Ferraro, proprietário da construtora que investiu 6,2 milhões no projeto, colocou uma equipe de corretores à procura de terrenos nos Jardins e no Itaim Bibi para implantar edifícios com a mesma proposta. “A demanda por esse tipo de condomínio só tende a crescer.”

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