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Estudo aponta situação grave em viadutos e pontes da capital

Prefeitura anuncia plano emergencial para a recuperação das estruturas

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 29 set 2017, 06h00 - Publicado em 29 set 2017, 06h00
 (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Na noite de 6 de março, um incêndio iniciado por moradores de rua atingiu a parte inferior do Viaduto do Glicério, próximo ao acesso à Radial Leste, e causou danos à estrutura. Nas semanas seguintes, um laudo da Secretaria Municipal de Serviços e Obras alertou para o “risco de colapso iminente” se medidas urgentes, como o reforço dos pilares, não fossem tomadas.

Na época, a prefeitura contratou uma obra emergencial, ao custo de 1,5 milhão de reais, para ser entregue em seis meses. A empresa de engenharia Falcão Bauer, responsável pelo trabalho, pediu mais prazo para finalizar o serviço. Há duas semanas, a administração municipal estabeleceu um novo limite, de 120 dias.

Ou seja, caso não ocorram mais atrasos, a recuperação do viaduto será concluída quase um ano após o incidente. Não bastasse o perigo para os moradores do entorno, a demora também trouxe consequências ao trânsito. A CET bloqueia uma das faixas do local diariamente para evitar o excesso de peso, o que provoca congestionamentos constantes na região.

Não se trata de um episódio isolado. Em anos anteriores, incêndios causaram interdições de outros viadutos da capital, como o Santo Amaro, o Pompeia e o Engenheiro Orlando Murgel, no centro. O que deveria ser um problema transitório, com duração até o fim do trabalho dos bombeiros, torna-se uma dor de cabeça de longo prazo por atingir estruturas desgastadas após décadas de manutenção precária.

Ponte Eusébio Matoso
Ponte Eusébio Matoso, na Marginal Pinheiros: danificada por caminhões (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Um estudo recente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco) analisou as condições de setenta dos mais movimentados viadutos e pontes. Os resultados são alarmantes.

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Em graus diferentes, todos exigem algum tipo de intervenção imediata. Em quinze deles há avançado estágio de deterioração, com a existência de fissuras, infiltrações e corrosão de metais. “Eles estão sujeitos a danos maiores, como rupturas e quedas”, diz o engenheiro Gilberto Antonio Giuzio, responsável pelo levantamento.

Além de evitar que os cidadãos sejam expostos a riscos, a manutenção constante representa economia para os cofres públicos. “O custo de uma obra de recuperação emergencial pode ser 25 vezes maior que o de um trabalho preventivo”, afirma Giuzio.

Um dos exemplos mais gritantes de descalabro é o Viaduto General Olímpio da Silveira, sobre a Avenida Pacaembu, na Zona Oeste. Há cerca de um ano, a laje de concreto da parte inferior teve de ser retirada às pressas após alguns pedaços se soltarem e atingirem automóveis que circulavam por ali.

Em vez de refazê-la, a prefeitura deixou as vigas expostas, o que ajudou a danificar ainda mais as combalidas ferragens. Nas pontes da Vila Maria, na Marginal Tietê, e Eusébio Matoso, na Pinheiros, são visíveis os sinais da falta de manutenção, como corrosões, proliferação de mato em meio ao concreto (indício de umidade excessiva) e “arranhões” provocados por veículos com altura maior que a permitida.

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Viaduto do Glicério
Viaduto do Glicério, no centro: transtornos após incêndio em março (Alexandre Battibugli/Veja SP)

O Poder Executivo municipal reconheceu as falhas apontadas pelo estudo independente do Sinaenco e anunciou na última semana um plano de recuperação das quinze estruturas mais comprometidas da cidade. Orçado em 8 milhões de reais, o projeto será bancado com recursos arrecadados com as multas de trânsito, mas não deve sair do papel tão cedo.

A estimativa é que os engenheiros da prefeitura levem um ano para avaliar a situação dos equipamentos. A intenção é realizar na sequência a licitação para a execução das obras, que não seriam concluídas antes de 2019. A iniciativa englobará 5% dos 270 viadutos e pontes da capital. “Vamos priorizar os locais mais degradados”, diz o secretário adjunto da pasta de Serviços e Obras, Luiz Ricardo Santoro. “Os demais pontos serão objeto de análise no futuro.”

Em fevereiro, o prefeito João Doria anunciou uma doação de 20 milhões de reais da Qatar Airways para a manutenção das pontes instaladas sobre as marginais Tietê e Pinheiros. O negócio não avançou em razão de uma contestação do Tribunal de Contas do Município, que apontou erros no processo. Após a polêmica, a empresa aérea desistiu da ideia.

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Agora, as estruturas mais problemáticas foram incluídas no plano emergencial da Secretaria de Obras. Em agosto, o designer Hans Donner, famoso pelas vinhetas criadas para a TV Globo, apresentou um projeto para permitir a divulgação de marcas interessadas em bancar a recuperação de alguns desses locais, sem ferir a Lei Cidade Limpa. A proposta está em estudo e pode ser anunciada nas próximas semanas. “Mas esses reparos serão mais superficiais, e não estruturais”, afirma Santoro.

Em 2007, um acordo firmado com o Ministério Público (MP) estabelecia que o município reformasse sete pontes ou viadutos por ano, durante uma década, sob pena de cobrança diária de multa de 10 000 reais. Como o acerto nunca foi cumprido, o órgão entrou na Justiça em 2014, e hoje a dívida ultrapassa 50 milhões de reais.

Pontes e viadutos – engenheiro Gilberto Antonio Giuzio
O engenheiro Giuzio: diagnóstico preocupante (Alexandre Battibugli/Veja SP)

A gestão João Doria afirma que pegou o imbróglio em andamento, mas vai assumir a responsabilidade pelos acordos firmados anteriormente. Com o anúncio recente do projeto de recuperação, no entanto, o MP pediu a suspensão temporária do processo. “Vamos aguardar a conclusão dessas quinze obras para definir se a execução da dívida será ou não concretizada”, afirma a promotora Paula de Figueiredo Silva, uma das profissionais à frente do caso.

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S.O.S. NO TRÂNSITO

Locais que vão receber obras até 2019

ZONA LESTE
Ponte Deputado Ricardo Izar (Tatuapé)
Viaduto Pacheco e Chaves (Vila Prudente)
Viaduto Engenheiro Alberto Badra (Aricanduva)
Viaduto Carlos Ferraci (Tatuapé)

ZONA NORTE
Ponte Adhemar Ferreira da Silva (Limão)
Ponte Jânio Quadros (Vila Maria)
Ponte Cruzeiro do Sul (Canindé)

ZONA OESTE
Ponte Cidade Universitária (Butantã)
Ponte Eusébio Matoso (Pinheiros)
Ponte da Freguesia do Ó
Viaduto Comendador Elias Nagib Breim (Lapa)
Viaduto General Olímpio da Silveira (Pacaembu)
Viaduto Miguel Mofarrej (Vila Leopoldina)
Viaduto Naor Guelfi (Rodovia Raposo Tavares)

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ZONA SUL
Ponte Engenheiro Roberto Rossi Zuccolo (Cidade Jardim)

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