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Plano Diretor ameaça Vila Madalena

Casas em ruas de declive sofrem com deslizamentos provocados pela construção de novos prédios

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 1 jun 2017, 16h32 - Publicado em 1 nov 2015, 11h07
Rua Rodésia, na VIla Madalena
Rua Rodésia, na VIla Madalena ( Reprodução/)
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O perfil da Vila Madalena, do Sumarezinho e da Vila Anglo, na Zona Oeste, está em transformação desde que o novo Plano Diretor de São Paulo, elaborado pela gestão Fernando Haddad (PT), entrou em vigor. Apesar da crise econômica ter desacelerado o mercado imobiliário, pelo menos noventa casas foram derrubadas por construtoras no entorno da Estação Vila Madalena do Metrô para quinze lançamentos residenciais. Com o declive característico desses bairros, demolições já provocam danos estruturais em imóveis vizinhos das futuras torres.

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Há dez dias, um deslizamento de terra em obra da Even interditou um hostel na Rua Girassol depois de a parede de um dos quartos ir ao chão. Nenhum dos três hóspedes que dormiam no local se feriu. Na casa de cima, com frente para a Rua Senador César Lacerda Vergueiro, parte do quintal também ficou fechada para a realização de reparos. A construtora informou que já concluiu a contenção na área e não há mais riscos.

Na hora do incidente, porém, a movimentação de terra provocou pânico. “Tomamos um susto enorme, o estrondo estremeceu minha casa. Agora a tensão é constante, porque não sabemos o que mais pode acontecer. Os terrenos aqui são muito íngremes, não deveriam receber torres enormes de apartamentos”, diz a administradora de empresas Yara Sanchez, uma das poucas moradoras que resistiram à pressão do mercado imobiliário. Na região, alguns sobrados chegaram a ser vendidos por mais de 2 milhões de reais.

Os trabalhos de demolição começaram no início deste ano, cerca de seis meses após a aprovação do Plano Diretor. A consequência direta da medida foi a procura por áreas vagas. Como elas são raras, as construtoras passaram a comprar e demolir casas. No local em que houve o deslizamento de terra, por exemplo, eram treze lotes, todos já derrubados para a construção de uma torre de 22 andares e 166 apartamentos.

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“É um cenário de destruição. Parece que caiu uma bomba atômica ali”, diz a produtora Beatriz Torres, que faz parte do conselho participativo da Subprefeitura de Pinheiros.

plano diretor
plano diretor ()

Os moradores reivindicam que a prefeitura reveja a liberação dos espigões e a marcação do perímetro a ser adensado – a proposta é que ele seja reduzido de 700 000 metros quadrados para 260 000 metros quadrados. “Nossa luta é pela preservação das casas e dos sobrados que caracterizam a Vila Madalena. Em 2012, o prefeito Haddad, durante a campanha eleitoral, chegou a participar de um abaixo-assinado exatamente com essa finalidade. Não pode agora agir de forma tão contrária”, afirma Beatriz, que guarda os documentos.

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Os futuros prédios tomarão conta de ruas tranquilas, até então formadas por sobrados de médio e alto padrão – alguns com piscina. É o caso da Rua Senador César Lacerda Vergueiro. A via tem três empreendimentos residenciais em projeto e com demolições em andamento. “Trabalho aqui há dezessete anos e nunca vi tanta mudança ao mesmo tempo. Além das casas derrubadas, há outras vazias”, diz o vigia José Gonzaga.

Outro exemplo fica no cruzamento das Ruas Luminárias e Paulistânia, onde a Camargo Corrêa abriu um terreno para uma torre de 23 andares. Durante a demolição, o muro de uma casa vizinha foi danificado. A empresa lamentou o incidente e afirmou que vai providenciar o reparo, mas os moradores da região temem mais problemas em função da declividade dessa parte do bairro.

Segundo o urbanista Francisco Luiz Scagliusi, que mapeou em outubro todas as quinze áreas abertas no bairro para verticalização, há casos em que a declividade dos lotes passa de 65 graus. “Nessas condições é impensável liberar prédios. Além disso, as vias ainda são muito sinuosas e com calçadas estreitas.”

Com base no estudo feito por Scagliusi, cinco associações de bairro da Vila Madalena esperam convencer os vereadores da capital a promover as alterações pedidas a tempo de evitar mais lançamentos imobiliários com altas torres na região. “O próprio Plano Diretor abre brecha para a revisão do perímetro a ser adensado. Nosso mapeamento apresenta dados técnicos que justificam a necessidade dessa mudança”, afirma Scagliusi.

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