Avatar do usuário logado
OLÁ,
Continua após publicidade

Pizza no almoço?

“Eu trabalho para uma empresa americana de aviação executiva e, há dez anos, tenho amizade com os gringos rsrsrs.” Assim começa a mensagem curiosa recebida por e-mail de um leitor, que podemos chamar de Igor. “Todos são gente boa. Sempre que vêm ao Brasil, me enchem a paciência com a história de as pizzarias de […]

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 12h42 - Publicado em 14 mar 2015, 00h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • “Eu trabalho para uma empresa americana de aviação executiva e, há dez anos, tenho amizade com os gringos rsrsrs.” Assim começa a mensagem curiosa recebida por e-mail de um leitor, que podemos chamar de Igor. “Todos são gente boa. Sempre que vêm ao Brasil, me enchem a paciência com a história de as pizzarias de São Paulo só abrirem as portas depois das 18 horas. Procurei no Google e em um monte de lugares, e ninguém sabe me dizer o porquê disso… Nós estamos acostumados. É assim por gerações. Mas, toda vez que chego aos Estados Unidos no voo da manhã, a primeira coisa que fazem, adivinhe, é me levar a um restaurante às 11 horas para provar que ali, a qualquer hora, você come pizza. Eu dou risada e entendo. Mas é difícil explicar aos estrangeiros a razão de agirmos de forma diferente por aqui. Se você puder ajudar, agradeço.

    ”Como se explica a diferença entre os horários das pizzarias nos Estados Unidos e em São Paulo? A dúvida é essa. Já pensei a respeito do assunto, por improvável que possa parecer. Quando me mudei para São Paulo, vindo da Califórnia, em meados da década de 80, vira e mexe ficava com vontade de comer pizza na hora de almoço. Mas o prato não era servido em nenhum lugar, ou quase. Tal como hoje, a grande maioria dos restaurantes do tipo só ligava os fornos a partir do fim da tarde. Refleti muito sobre possíveis explicações para essa “pequena diferença”, para usar a frase dita por John Travolta no filme Pulp Fiction a respeito da cultura europeia.

    No cerne da questão, concluí, está a distinção tradicional, mantida no Brasil, entre comida, de um lado, e lanche, do outro. Pizza é lanche. Pode ser servida como jantar, e é. Mas nunca, ou quase nunca, como almoço, horário reservado à comida. Nessa acepção mais nobre, a comida deve ser degustada no prato, com talheres e, de preferência, arroz e feijão ou, no mínimo, uma carne ou peixe com salada. Em termos culturais, o papel da pizza se assemelha ao do hambúrguer, embora a popularidade deste seja mais recente. É lanche. Ou, no máximo, janta. Por melhor ou mais elaborado que seja, nunca será classificado no Brasil na categoria de comida.

    Os restaurantes por quilo, em contrapartida, surgiram no país como uma resposta brasileira à rapidez com que os lanches são servidos. Mantiveram a praticidade destes, mas oferecem comida. É por isso que tiveram tanto sucesso e se espalharam pelo país. Permitem ao freguês brasileiro almoçar, ou seja, “comer comida”, como se diz, sem gastar muito tempo.

    Continua após a publicidade

    O difícil, no caso do Igor, vai ser explicar essa distinção a seus colegas gringos. O americano adora um lanche. Come a qualquer hora e em qualquer lugar, até mesmo no automóvel. Não faz distinção entre lanche, por um lado, cuja tradução na língua inglesa não é lunch, e sim snack, e comida, por outro, que nessa acepção talvez pudéssemos verter para o idioma de Shakespeare como meal (ou refeição). Mas mesmo essa solução linguística é parcial, uma vez que, para um americano, uma refeição pode ser montada com vários lanches ou um só, desde que muito grande.

    Meu conselho ao leitor é levar seus colegas americanos ao melhor quilo que encontrar e mostrar a eles a delícia que é escolher entre toda aquela variedade. Se forem às 11 da manhã, então, estará tudo fresquinho.

    Publicidade

    Publicidade