Na noite do último dia 5, cerca de vinte piratas invadiram a Liberdade — e não estamos falando de barraquinhas de DVDs e CDs genéricos. Eles apareceram vestidos a caráter, abastecidos de doses de rum e armados de floretes. A ideia da turma formada por jovens na faixa dos 20 anos era se divertir encarnando o Barba Negra ou personagens mais atuais, como Jack Sparrow. Outras performances do tipo ocorrem nas ruas da cidade, capitaneadas por grupos semelhantes. Existem pelo menos dez confrarias de bucaneiros do asfalto na capital, que reúnem cerca de 400 membros. “O movimento surgiu há alguns anos, mas está mais forte do que nunca”, afirma o webdesigner Danilo Targas, de 26 anos. Sob a alcunha de Capitão Barbarossa, ele lidera o coletivo Piratas da Represa. Targas conheceu a mulher, Gabriela Amaral (a Naga Riddle), do grupo Rum com Coca, por meio de amigos desse universo.
Ser um marujo em São Paulo não é fácil, já que o Tietê está longe de oferecer condições de navegação e não existe mar por perto. O jeito é improvisar, começando pela indumentária. Um sobretudo de brechó ganha botões com desenhos de âncora e um chapéu de praia tem as abas coladas para cima. Armas de brinquedo, bandanas e tatuagens finalizam o visual. No enredo cabem algumas liberdades poéticas. Há, por exemplo, um “navio” de pernas de pau… mafiosos, de terno e chapéu, cuja bíblia é O Poderoso Chefão. Existe ainda um coletivo especializado em montar eventos temáticos e outro que ministra oficinas para crianças aprenderem, por exemplo, a pintar mapas, além de relatar os encontros em um diário de bordo on-line com linguagem característica. Os marujos costumam assumir a pose de malvados e respeitar a hierarquia de nomeações como capitão, contramestre e timoneiro. A despeito da pose de bandidos, das batalhas de esgrima e do rum, eles juram ser inofensivos. “Não somos gangues”, diz o tatuador Rony Kira. “É só um jeito de extravasar o stress do dia a dia.”