O engenheiro civil Celio Bottura Junior, de 54 anos, não se considera um aficionado de música. Eclético, ouve de jazz a rock progressivo. “Só não gosto de pagode nem de sertanejo”, ressalva ele, que prefere baixar as canções de suas bandas favoritas na internet a sair de casa para assistir a apresentações ao vivo. Quando pequeno, por forte influência familiar, chegou a estudar piano. “Abandonei o instrumento por total falta de dedicação”, confessa. Em 1985, após a morte do tio Thyrso, sócio de seu pai, Bottura Junior foi convocado para ajudar a cuidar dos negócios da família. Os produtos comercializados: pianos. Foi um desafio e tanto. “Estava acostumado a erguer casas e precisei aprender a construir delicados instrumentos musicais.” Quando foi fundada, há sessenta anos, a empresa, dona da famosa marca Fritz Dobbert, vendia apenas cinquenta pianos por ano. Com Bottura Junior à frente dos negócios, 4 500 modelos passaram a ser produzidos por ano, na década de 80. Hoje, os resultados são mais modestos — 800 unidades estão previstas para 2010, com um faturamento anual de 15 milhões de reais.
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Linha de montagem, em 1957: vinte marcas eram produzidas na época
Foi o alemão Otto Halben quem teve a ideia. Radicado no Brasil após trabalhar como artesão em diversas fábricas de piano na Europa, ele propôs montar uma empresa do gênero por aqui no fim dos anos 40 aos irmãos Celio e Thyrso Bottura. A dupla não entendia patavina do assunto. Celio, o mais velho, ganhava a vida importando materiais fotográficos. O segundo era joalheiro. Seduzidos pela crescente procura por instrumentos musicais na Europa e nos Estados Unidos, eles aceitaram a proposta e se tornaram sócios. Chamada inicialmente de Indústria de Pianos Halben, a companhia nasceu em 13 de maio de 1950 em um pavilhão de 1 500 metros quadrados no bairro do Canindé, na Zona Leste. Cerca de 25 funcionários trabalhavam no local. Seis anos depois, já como Pianofatura Paulista, o nome atual, e sem a participação de Halben, o pequeno império musical se instalou em um complexo de galpões no bairro de Pirituba, na região oeste, onde está até hoje. Mais de vinte marcas eram produzidas. A Fritz Dobbert, a única comercializada atualmente, surgiu em 1957. Leva o nome do artesão que a criou. “Nenhuma de nossas linhas fez tanto sucesso como essa”, afirma Bottura Junior, que comanda a fábrica ao lado do irmão, de um primo e de um cunhado — seu pai morreu em 1993.
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Porto de Santos, em 1969: exportação para a Europa
Espalhada em um terreno do tamanho de três campos de futebol, a empresa lembra uma enorme marcenaria. A função de sessenta dos 110 empregados é serrar, lixar e envernizar as toras de pinho trazidas do Paraná. Doze funcionários são responsáveis pela montagem e afinação. Cada instrumento leva sessenta dias para ficar pronto. Os preços variam de 8 500 a 52 000 reais. A fábrica parece resistir à passagem do tempo. Todos os empregados batem ponto em um antiquado relógio manual e o fim do expediente é anunciado diariamente às 17h08 por uma sirene barulhenta. Em 2000, quando o mercado de instrumentos musicais do país entrou em recessão, a família Bottura passou a construir também mesas e aparadores, entre outros móveis. “Até o fim do século passado, os pianos eram objeto de desejo de jovens e crianças”, conta Bottura Junior. “Hoje, precisamos disputar o interesse deles com computadores, videogames e celulares.”
UM PEQUENO IMPÉRIO MUSICAL
800 pianos deverão ser construídos pela Pianofatura Paulista em 2010
15 milhões de reais é quanto a empresa fatura por ano
52 000 reais é o valor do instrumento mais caro (8 500 reais é o do mais em conta)
60 dias é o tempo médio de produção de cada piano
110 funcionários trabalham na companhia