Quando for dada a largada do Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, às 14 horas deste domingo (21), o mundo do automobilismo estará a 71 voltas da definição do campeão de 2007. Pela primeira vez na história da competição, o favorito é um novato de 22 anos, estreante na categoria: com 107 pontos, o inglês Lewis Hamilton tem 4 de vantagem para seu companheiro de McLaren, o espanhol bicampeão do mundo Fernando Alonso. Em seguida, aparece o finlandês Kimi Raikkonen (100 pontos), aposta da Ferrari. No outro cockpit ferrarista, o paulistano Felipe Massa, que no início do ano era apontado como forte candidato a levar o campeonato, derrapou o suficiente para ficar de fora da disputa na antepenúltima prova da temporada – na classificação geral, ele aparece em quarto, com 86 pontos. Mesmo assim, não desanima. E espera alegrar a torcida brasileira com um repeteco da vitória ocorrida há um ano em Interlagos. “Vou lutar para vencer, como sempre faço, e acredito que minha equipe tem boas chances por aqui”, afirma.
Fora das pistas, a Fórmula 1 é um negocião para a cidade, embora a prefeitura gaste muito para organizá-la – neste ano foram injetados 30 milhões de reais. De acordo com um levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a cada 1 real investido na corrida, outros 3,20 entram na cidade. Os hotéis ficam lotados, 14 000 empregos diretos e indiretos são criados, a arrecadação de impostos aumenta e 120 000 pessoas, paulistanos e turistas, ocupam as arquibancadas para assistir aos treinos e à corrida. A movimentação começa antes, já nos preparativos. Trezentas toneladas de parafernália das equipes, inclusive os 22 carros, vieram da China em sete aviões Jumbo e desembarcaram no Aeroporto de Viracopos, em Campinas. De lá, entre os dias 11 e 13, foram trazidas para São Paulo em um comboio formado por 120 carretas, escoltadas por carros de segurança. Acompanhar a corrida no autódromo pertinho dos barulhentos motores é um sonho que custa caro. Os ingressos variam de 300 a 1 865 reais – vips e sortudos disputam, todos os anos, as 2 500 vagas em um dos camarotes de empresas patrocinadoras.
Mas nem sempre houve tanto glamour. Em 30 de março de 1972, a primeira corrida de Fórmula 1 disputada no Brasil nem valeu pontos para o campeonato. Serviu apenas para homologar a entrada do país no calendário do ano seguinte. Os ingressos custavam bem menos – em valores atuais, de 33 a 67 reais. Na véspera da prova, o garoto José Carlos Barbirotto, então com 12 anos, esperou que os pais dormissem para tomar um ônibus de Santana, onde morava, até Interlagos. Ansioso, aguardou o dia amanhecer para assistir ao GP assim, escondido. “Estive em todas as competições realizadas em São Paulo”, conta. Em 1992, tornou-se um dos 400 voluntários que trabalham na organização e fiscalização da corrida. Desde então tira suas férias – ele ganha a vida como analista de sistemas – de acordo com o calendário do automobilismo. “São duas semanas em que chego às 7 horas e só vou embora do circuito por volta das 9 da noite”, diz. Quando começou, atuava como empurrador, ajudando a tirar os carros da brita, por exemplo. Fez carreira e, no ano passado, tornou-se diretor adjunto de resgate. Durante a corrida, fica na mesma sala que o diretor de prova, Carlos Montagner, e o diretor de corridas da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Charlie Whiting. Dezoito monitores mostram todos os trechos da pista para que os diretores controlem e orientem o esquadrão de voluntários. Em caso de acidente grave, o aparato médico é acionado. Mantido pelo Hospital São Luiz, funciona em Interlagos um centro com UTI, sala para exames radiológicos, laboratório de análises clínicas… Até um centro cirúrgico é montado ali. “Se necessário, temos ainda dois helicópteros à disposição”, diz o diretor médico, Dino Altmann. “Em três minutos podemos levar um piloto à unidade do Morumbi ou do Itaim.”
Com o ingresso na mão, o problema passa a ser o trânsito, que se torna caótico nos arredores do autódromo em dias de GP. Há duas opções para fugir dele. Uma delas, nova e baratinha, é o trem. A CPTM inaugurou na quarta-feira (17) a Estação Autódromo, na Linha C, a 600 metros do circuito. O bilhete custa 2,30 reais, e o sistema está integrado ao metrô. Quem quiser conforto, e estiver disposto a pagar por isso, pode ir de helicóptero. A empresa LRC cobra 700 dólares por pessoa para levar e trazer de qualquer heliponto da cidade ao circuito com hora marcada. Afinal, para quem curte velocidade e fica atento aos milésimos de segundo, nada pior do que passar a manhã de domingo preso em um congestionamento.