Os advogados da vendedora Talita Sayuri Tamashiro, de 28 anos, entraram nesta quarta-feira (4) com um pedido de habeas corpus em caráter liminar na Justiça para que ela responda em liberdade pela morte de três pessoas na Marginal Tietê no último sábado (30). A solicitação deve ser julgada dentro de três dias. Talita foi presa em flagrante por homicídio doloso e embriaguez ao volante. No domingo (1º), a Justiça decidiu pela prisão preventiva.
“Vamos tentar reverter isso porque essa decisão é desproporcional”, diz o advogado Eduardo Siano. “Não havia nada que desabonasse a vida dela até acontecer essa tragédia. Ela é uma garota trabalhadora, sempre ajudou em casa e havia acabado de ser promovida no emprego.” Caso condenada em natureza dolosa (neste caso em dolo eventual, quando se assume o risco de matar), ela pode pegar até trinta anos de cadeia.
Moradora da Zona Norte e vendedora em uma concessionária de veículos, Talita havia saído da balada Villa Mix, na Vila Olímpia, quando bateu com o seu Honda Fit verde em uma BMW preta, estacionada no acostamento da Marginal Tietê, altura do número 3000, para uma suposta troca de um pneu.
Na colisão, atropelou o fisioterapeuta Raul Fernando Nantes Antonio, 48, a auxiliar administrativa Aline de Jesus Sousa, 28, e a gerente de estacionamento Vanessa Lopes Relva, 28. O trio morreu na hora.
Os familiares das vítimas pedem por Justiça e querem que ela permaneça presa. “A gente vê tragédias assim todos os dias e nada muda. A lei parece rigorosa, mas brechas permitem que as pessoas se livrem rapidamente”, diz o dentista Luciano Nantes Antonio, 45, irmão de Raul. “Nós estamos acabados por dentro”, diz a estoquista Fabricia Sousa, 30, irmã de Aline.
Talita estava com a carteira de motorista suspensa desde junho com 36 pontos (o limite é vinte). Um teste de bafômetro acusou a presença de 0,48 miligramas de álcool por litro de ar em seu corpo, o que equivale a três taças de vinho. Ela afirmou à polícia ter tomado um copo de vodca por volta das 2h da manhã. Segundo o boletim de ocorrência, a moça também manipulava o celular no momento do ocorrido – ela própria disse isso aos policiais que atenderam a ocorrência. Apesar disso, a defesa nega e diz que “ela apenas ligou o aplicativo Waze de rotas de tráfego na saída da balada”.
Na segunda (2), Talita havia sido encaminhada para o Centro de Detenção Provisória de Franco da Rocha, porém às 9h30 da manhã o escritório de advocacia Bomfim e Siano Advogados foi informado de que a presa não havia sido aceita naquela cadeia “por não ter o perfil de estar ali”. Foi, então, transferida para a Penitenciária Feminina de Tremembé, no interior. É lá onde estão presas com grande visibilidade midiática como Suzane Von Richthofen, Elize Matsunaga e Ana Carolina Jatobá.
“Eu entendi que fizeram isso pelo fato de ela realmente não ser a criminosa que todo mundo está dizendo, ou seja, não poderia ficar ali com bandidas ‘de verdade’”, acredita Siano. A assessoria de imprensa da Secretaria da Administração Penitenciária disse que normalmente esses tipos de transferências acontecem para preservar a integridade de presos que tiveram grande exposição na mídia.
Furto na pista
O advogado Siano também relata uma suspeita com relação a um grupo de quatro pessoas que parou na cena do crime em um carro preto quando a polícia ainda não havia chegado ao local. Eles podem ter sido os autores do furto aos pertences de todos os envolvidos na tragédia. Os parentes das três vítimas relatam o sumiço de carteiras, bolsas e celulares.
“Fiquei só com o celular da minha irmã. Acho que estava junto com ela na hora da batida. O resto foi levado, como a bolsa ”, diz o irmão de Vanessa, Douglas Relva, 31, mostrando o aparelho com o vidro frontal danificado devido ao impacto do carro.
“Saquearam todo mundo, meu irmão teve um dos seus dois celulares levados, uma corrente de ouro, a carteira com documentos, relógio e até as chaves da moto”, lamenta Luciano. “O celular da minha irmã também desapareceu”, completa Fabricia.
Talita também não teve seu celular localizado. Procurado, o 91º DP (Ceasa), responsável pela investigação do caso, afirmou desconhecer a questão e que os furtos não foram registrados pelos parentes das vítimas.