Os monges-padeiros da Abadia de São Bento têm um compromisso antes de acender os fornos: a missa das 7 horas. Desde 1999, quando os primeiros pães e bolos começaram a ser vendidos no mosteiro, a pausa para oração e almoço, às 11h45, e o fim do expediente, perto das 17 horas, são respeitados religiosamente. Nas últimas semanas, porém, o ritual foi diferente. “Cheguei a trabalhar até as 23 horas para dar conta da demanda”, diz o beneditino Bernardo Schuler, encarregado da fabricação dos quitutes. O motivo para o aumento na produção foi a abertura de uma filial no início do mês. A loja de 190 metros quadrados fica na tranquila esquina da Rua Barão de Capanema com a Rua Rio Preto, no Jardim Paulista. “Estávamos procurando um lugar de acesso mais fácil que o centro”, conta Schuler. “Eu só me recusava a ir a um shopping, para não ser escravo de um condomínio e ter de me submeter a regras como a de abrir aos domingos.” Após a escolha do ponto, foram necessários cinco meses de reforma. O ambiente – que não dispõe de café nem de mesinhas – ganhou piso de mármore, janelas compridas e decoração de placas de cobre. A inspiração para o desenho das prateleiras veio de uma boulangerie francesa visitada pelo monge em uma de suas viagens anuais à Europa. Ficam expostos ali os pães de mel recheados de damasco (5 reais a unidade pequena), os pães de mandioquinha (12 reais), de cereais e integral (15 reais cada um), além de quatro tipos de bolo grande (40 ou 50 reais) e uma lata com dois muffins (20 reais).
A fabricação dos produtos continua centralizada no Largo de São Bento, em uma cozinha de pé-direito alto, revestida de azulejos de tom verde-claro. Um grande crucifixo ocupa a parede principal. No espaço, atualmente em obras de expansão, trabalham cinco monges e quatro ajudantes. Todo o delicado processo de embalagem funciona na antiga adega. Depois de finalizados, os produtos são transportados em uma pequena van, também responsável pelo serviço de entrega da nova loja. Há dez anos, a tímida produção alcançava a marca de dez bolos por semana. Hoje, são mais de setenta unidades por dia. “Tinha medo de crescer e perder o controle da qualidade”, afirma Schuler. O entra e sai frequente, contudo, indica uma boa recepção do público. A atriz Beatriz Segall, por exemplo, moradora dos Jardins há mais de duas décadas, nunca tinha ido à padaria do mosteiro no centro. Quando soube da abertura da filial na vizinhança, foi visitá-la e encontrou a casa cheia. “Os fregueses vão lá como formigas”, conta Beatriz. Alguns clientes ficam espantados com o requinte da loja e o preço dos produtos. Discreto, o monge Bernardo Schuler não dá detalhes sobre o faturamento, mas garante que é uma boa fonte de renda para a abadia. “Em dez anos, nunca fechamos no vermelho.”
Mosteiro, Largo de São Bento, s/nº, centro, 3328-8799, Metrô São Bento; Rua Barão de Capanema, 416, Jardim Paulista, 3063-0522. https://www.mosteiro.org.br.