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Os melhores especialistas

Veja São Paulo convidou 110 profissionais de reconhecido renome para eleger os craques de 21 especialidades

Por Alecsandra Zapparoli
Atualizado em 5 dez 2016, 10h20 - Publicado em 7 out 2009, 13h41
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  • Há muitas maneiras de avaliar um médico. Formação acadêmica, participação em congressos, artigos publicados, número de cirurgias realizadas, capacidade de diagnóstico, pacientes famosos, e por aí vai. Essas credenciais são muitas vezes levadas em conta na hora de escolher um doutor. Ninguém, no entanto, conhece tão intimamente a complexidade da profissão como os próprios médicos. Só eles possuem os critérios técnicos para avaliar e reconhecer a excelência ou não de um colega. Para chegar aos nomes escolhidos entre os médicos da cidade, Veja São Paulo compôs um júri formado por 110 doutores de reconhecido renome no âmbito universitário, além de clínicos e cirurgiões em atividade no mercado. Cada uma das 22 especialidades escolhidas contou com cinco votantes (nas universidades foram convidados a participar os professores titulares, e nos hospitais-referência, como Albert Einstein, Sírio-Libanês e Oswaldo Cruz, entre outros, os chefes de equipe). O médico votava na própria especialidade (não valia votar em si mesmo) e nas outras 21. Veja São Paulo se comprometeu com os participantes a não divulgar nem seus nomes nem suas indicações. Ao todo, foram votados 1 037 médicos, ou seja, cerca de 2,5% dos 41 000 profissionais que atuam na capital.

    Da consulta resultaram algumas quase-unanimidades, como nas especialidades de urologia, geriatria, cirurgia cardíaca, cirurgia vascular e infectologia. Isso significa que os vencedores ganharam com maior quantidade de votos e às vezes com larga vantagem em relação ao segundo colocado, o que não ocorreu nas demais categorias. Tivemos ainda uma especialidade polêmica: reprodução humana. Boa parte dos que participaram da votação não quis indicar um médico nessa área, alguns alegando falta de familiaridade com a nova especialidade da medicina, outros por considerá-la envolvida em questões éticas. Por essa razão, foi eliminada. Em duas especialidades que cuidam do coração, cirurgia cardíaca e cardiologia clínica, houve empate. Portanto, a reportagem traz o perfil de 23 médicos em 21 especialidades.

    Como se verá a seguir, trata-se de um time de profissionais altamente qualificados. Isso não significa, evidentemente, que esses sejam os únicos médicos competentes de São Paulo. Além de considerados os melhores pelos seus pares, os 23 vencedores dividem uma série de características comuns: 100% são homens, 70% têm especialização no exterior, 52% exercem atividade acadêmica e 61% afirmam ganhar acima de 50 000 reais por mês, realidade, como se sabe, bem diferente do perfil de uma categoria que vive espremida entre o baixo salário do serviço público e as regras rígidas dos planos de saúde. Para se manterem atualizados, esses craques do estetoscópio participam de pelo menos dois congressos internacionais por ano, lêem exaustivamente e quase não desfrutam vida pessoal. Cobram em média 480 reais por uma consulta (a mais barata é 300 reais e a mais cara, 1 000 reais), o que os torna inatingíveis para a esmagadora maioria da população. Apesar de obcecados por atualizações – o conhecimento na área médica praticamente dobra a cada três anos –, todos, sem exceção, comungam de uma tese: o domínio da técnica não basta. O exercício da medicina envolve a arte de ouvir os pacientes e principalmente diagnosticar os males que eles têm, algo que esses supermédicos, segundo seus próprios pares, conseguem fazer com maestria.

    UROLOGISTA

    Miguel Srougi

    Pense em políticos poderosos. E nos maiores empresários do país. Possivelmente eles estarão entre os pacientes do urologista Miguel Srougi. A lista, que ele reluta em falar, é enorme: Lula, José Alencar, José Serra, Geraldo Alckmin, Joseph Safra, Lázaro Brandão, Abilio Diniz, Olavo Setúbal, Antônio Ermírio de Moraes… Considerado o primeiro médico do Brasil em número de cirurgias de câncer de próstata (realizou até agora 2 750), Srougi é daqueles entrelaçados com a medicina até o último fio de cabelo branco – e olha que não são poucos. Dá aula todos os dias (é professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP), atende até 25 pacientes diariamente em seu consultório em Cerqueira César e três vezes por semana, incluindo os sábados, opera no hospital Sírio-Libanês, no qual faz quarenta cirurgias por mês. As estatísticas de incidência da doença explicam esse movimento. “Um em cada seis homens terá câncer na próstata após os 50 anos”, afirma. Quando chega em sua casa, no Jardim Paulista, por volta das 10 da noite, ainda arruma disposição ora para ler, ora para escrever. Aos 60 anos, casado e pai de dois filhos, tem doze livros publicados. “Vivo num incessante processo de busca. Na verdade, não sei bem de quê…”, diz ele, que só vê os melhores amigos a cada três meses. Seu primeiro pulo-do-gato profissional foi a residência médica em urologia pela Harvard Medical School, nos Estados Unidos, em 1977. Dois anos depois, fez doutorado em urologia na USP. Não parou de estudar (e ensinar) desde então. Aproveita a proximidade com os pacientes famosos para garimpar benefícios para a Faculdade de Medicina, que vive sangrando em seu orçamento. Em agosto, inaugurou um moderno centro de ensino e pesquisa em cirurgia para os alunos. Arrecadou 1,6 milhão de reais após alguns telefonemas. Como 70% desse valor foi doado por Joseph Safra, a sala ganhou o nome da mulher do banqueiro, Vicky Safra, outra paciente de Srougi. No começo do ano, também pediu a doze clientes abonados que destinassem 150 000 reais cada um para reformar uma casa que abriga 52 estudantes de medicina. Srougi diz não aceitar de nenhum dos benfeitores os 500 reais que cobra por consulta. “Das 25 pessoas que atendo por dia, cinco ou seis pagam. Quarenta por cento dos meus pacientes são médicos”, afirma o doutor, fã do cineasta Pedro Almodóvar e do escritor Guimarães Rosa. Com fama de exigente e metódico, o bambambã da urologia filosofa ao falar de seus sonhos: “Gostaria de ser exemplo para as novas gerações, mesmo estando cheio de fraquezas”.

    OBSTETRA

    Carlos Eduardo Czeresnia

    Como parto normal pode acontecer a qualquer momento, o ginecologista e obstetra Carlos Eduardo Czeresnia, a exemplo da maioria de seus colegas, não tem fim de semana, feriado nem, muito menos, noites garantidas. No último dia 27, à 1h55 da manhã, foi a vez de Sumaya Samed Saab (foto) vir ao mundo pelas suas mãos. “Essa imprevisibilidade da obstetrícia me fascina”, diz ele, que, ao longo de 35 anos de profissão, contabiliza cerca de 4 000 nascimentos. Numa época em que as mulheres e os médicos estão exagerando na dose de cesárias (oito em cada dez partos nos hospitais particulares de São Paulo são com hora marcada), Czeresnia é considerado um médico à moda antiga. “Cerca de 70% dos partos que faço são normais. Só agendo cesarianas se não houver outro jeito.” O obstetra, que cobra 400 reais por consulta e atende nos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Pró-Matre, também ganhou os holofotes em 2005, por ter sido o primeiro médico do país a realizar o parto de trigêmeos em duas datas diferentes – o primeiro bebê nasceu de parto normal, enquanto os outros dois continuaram na barriga da mãe e nasceram doze dias depois. “O procedimento só é possível em gestação de fetos não univitelinos e quando o primeiro nascimento ocorre muito prematuramente”, explica. No ano passado, repetiu o feito com mais uma gestante de trigêmeos. As seis crianças estão hoje saudáveis e suas fotos enfeitam, junto com outras tantas, o saguão da clínica de Czeresnia nos Jardins. Exibe todas ali, como um grande troféu.

    ENDOCRINOLOGISTA

    Antonio Roberto Chacra

    O entusiasmo dos pais diante de um convite de veludo verde para a formatura de um amigo médico em São José do Rio Preto (SP) despertou em Antonio Roberto Chacra, então com 4 anos de idade, o desejo de seguir a profissão. “Essa cena me marcou muito”, lembra ele. “Hoje não consigo me imaginar fazendo outra coisa.” Professor titular de endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo, Chacra viaja seis vezes por ano para participar de congressos. Nessas ocasiões, aproveita para levar dos aviões os jornais internacionais. “Sou vidrado em notícia”, afirma ele, assinante das revistas americanas Time e Newsweek, da inglesa The Economist e de diversas publicações brasileiras. Quando está por aqui, além das aulas na faculdade, atende em média vinte pessoas por dia, entre retornos e novas consultas (550 reais), em sua clínica no Ibirapuera. Metade delas está em busca de harmonia com a balança. Diz seguir à risca os conselhos que dá aos pacientes: associar alimentação equilibrada a atividade física. “Não como frituras, evito carboidratos e caminho diariamente”, afirma ele, 1,76 metro e 76 quilos. Bem antes de ser considerado um dos maiores especialistas em diabetes do país, Chacra, aos 24 anos, voltou a ver brilhar os olhos de seus pais diante de um convite de veludo verde. Dessa vez, seu convite de formatura. “Foi uma felicidade sem igual.”

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    NEUROLOGISTA CLÍNICO

    Eduardo Genaro Mutarelli

    No iPod do neurologista Eduardo Genaro Mutarelli música não tem vez. Os gigabytes do aparelho estão ocupados com a palestra sobre acidente vascular cerebral do último congresso da Academia Americana de Neurologia. Como, a exemplo de alguns de seus pacientes, sofre de dislexia, uma alteração neurológica que causa dificuldades de aprendizagem, prefere ouvir a ler. “Isso sempre foi um grande problema para mim. Depois virou um desafio. Tinha de provar que era bom em alguma coisa”, diz ele, que não só conseguiu cursar a Santa Casa de Misericórdia (foi o orador da turma) como se tornou professor da Faculdade de Medicina da USP. Neurologista clínico dos hospitais Sírio-Libanês e Oswaldo Cruz desde 1984, fala da sua equipe de doze profissionais o tempo todo. “Devo muito a eles. Nessa área não dá para acertar sozinho”, afirma Mutarelli, que cobra 600 reais por uma consulta. Aos 50 anos, gosta de velejar (seu consultório é cheio de barquinhos que ganhou de presente) e cozinhar – ele jura que prepara um risoto de alcachofra com vitela de primeira. “É sucesso garantido”, conta. Como é do tipo que não gosta de perder “nem no par-ou-ímpar”, não pratica esportes coletivos. Para manter a forma, corre três vezes por semana. Com cinco filhos com idade entre 1 e 21 anos, considera seu maior luxo poder viajar com a família toda. Já foram para Amazônia, Peru, Portugal e, como manda o sobrenome, Itália.

    OTORRINOLARINGOLOGISTA

    Paulo Augusto de Lima Pontes

    No consultório de Paulo Augusto de Lima Pontes, especialista em otorrinolaringologia e cirurgia de cabeça e pescoço, há todos os apetrechos normalmente usados pelos seus colegas e um inusitado microfone. Como cuida da laringe e das cordas vocais de muitos atores, cantores e apresentadores de TV, caso de Silvio Santos, não raro pede a eles para soltar a voz durante o exame. “Em uma dessas ocasiões, ajudei até a compor uma letra”, diz ele, referindo-se a Renascer, da dupla sertaneja Goiano e Paranaense. Rodeado por engenheiros civis na família, Pontes surpreendeu quando optou pela medicina. Fez residência em cirurgia geral numa época em que boa parte das operações não tinha final feliz. “Queria uma especialidade que ficasse mais distante da morte”, conta, aos 64 anos. Durante o curso, curiosamente, teve um abscesso de amígdala. O contato com a otorrinolaringologia o levou à escolha. Como professor titular da Universidade Federal de São Paulo, Pontes dá aulas e opera três vezes por semana em hospitais como Albert Einstein, Sírio-Libanês, Oswaldo Cruz, Santa Catarina e São Paulo, este ligado à faculdade. Atende ainda vinte pacientes por dia (400 reais), entre retornos e novos clientes, em seu consultório particular. Sai de lá com freqüência às 10 da noite. “Minha vida é o trabalho, por isso me sinto doze meses em férias.” Quando não está com o microfone nas mãos profissionalmente – foi palestrante em sessenta eventos no exterior e quase 300 no Brasil –, gosta de cantar, assim como seus pacientes-estrelas. Dá ouvido à própria voz e conclui: “Sou desafinado. Essa é a minha maior mágoa”.

    ORTOPEDISTA

    Gilberto Luis Camanho

    Às vésperas das Olimpíadas de Atlanta, em 1996, a jogadora Ana Moser, a principal atacante da seleção brasileira de vôlei na época, passou por uma cirurgia no joelho. O prognóstico do seu médico era sombrio: pelo menos seis meses de sessões de fisioterapia e recondicionamento físico. Com a medalha de bronze em mãos – a primeira que uma equipe feminina trouxe para o Brasil –, Ana Moser fez um interurbano para o seu ortopedista: “Tá vendo? Eu consegui, eu consegui!”. Essa é uma das muitas histórias de superação de seus pacientes famosos que Gilberto Luis Camanho conta com orgulho. Especialista em joelho, uma das articulações mais complexas do corpo, Camanho foi um dos introdutores da técnica conhecida como artroscopia: com a ajuda de uma câmera de TV, o cirurgião repara os ligamentos e corrige lesões do menisco e da cartilagem, por exemplo. Ele faz trinta cirurgias por mês no Albert Einstein, no Hospital do Coração e no Hospital das Clínicas, onde exerce o cargo de chefe do corpo clínico do Instituto de Ortopedia e Traumatologia. No consultório, o vaivém também é grande: trinta pessoas por dia, entre retornos e novos pacientes (400 reais a consulta). Ah, sim. Ele reconhece o que a maioria dos médicos faz e não admite em público: “Atraso muito as minhas consultas. Esse é o meu maior defeito”. Vaidoso, usa camisas e ternos feitos sob medida. “Com 1,90 metro, não é muito fácil achar roupas.” Para esfriar a cabeça, pratica um esporte que tem pouco impacto nos joelhos: joga golfe pelo menos uma vez por semana.

    ONCOLOGISTA CLÍNICO

    Antonio Carlos Buzaid

    É comum os pacientes chegarem ao consultório de Antonio Carlos Buzaid, diretor-geral de oncologia do Hospital Sírio-Libanês, com exames suficientes para encher um carrinho de supermercado. O volume não o assusta. “Quanto maior a complexidade do caso, mais eu gosto”, diz ele, que costuma chamar tumor de “bandido”. Em 1985, após se formar na Universidade de São Paulo e fazer dois anos de residência no Hospital das Clínicas, resolveu deixar o país. “Quando me formei, os doentes de câncer eram negligenciados. Ficavam à espera da morte.” Treze anos de trabalho nos Estados Unidos como professor e pesquisador em instituições como a Universidade Yale e o MD Anderson Cancer Center, da Universidade do Texas, fizeram dele um especialista disputado. Setenta por cento de seus pacientes vêm de outros estados. Agendar a primeira consulta com Buzaid (800 reais) pode significar três semanas de espera. Com um filho de 1 ano e outro a caminho, o médico – filho do falecido jurista Alfredo Buzaid, que foi ministro da Justiça no governo Médici e do Supremo Tribunal Federal – tenta, aos 49 anos, compatibilizar seu ritmo profissional com o pessoal. O descompasso, no entanto, ainda é grande. Passa pelo menos doze horas no hospital, estuda oito horas por fim de semana e participa de três congressos anualmente fora do Brasil. “O maior cansaço da oncologia é emocional”, afirma ele, que para espairecer pratica windsurf e coleciona antiguidades. “Tratamos todos com 100% de esforço, mas infelizmente não temos sempre 100% de sucesso. E isso é muito difícil de aceitar.”

    PEDIATRA

    Antranik Manissadjian

    Aos 83 anos, o pediatra Antranik Manissadjian é um poço de boas histórias. Mesmo as que gostaria de esquecer, como a morte de todos os seus seis irmãos durante a I Guerra Mundial num episódio que ficou conhecido como “genocídio armênio”, conta com uma riqueza de detalhes de impressionar. Nascido em Alepo, na Síria, Manissadjian veio com os pais para o Brasil em dezembro de 1930. Disposto a dar o seu melhor à cidade que o acolheu, tornou-se médico. Entrou na Faculdade de Medicina da USP em 1944. Trinta anos depois virou professor titular da disciplina de pediatria, cargo que exerceu até a sua aposentadoria, em 1994. Também foi diretor clínico do Hospital das Clínicas durante doze anos. Recebe mães aflitas no consultório há exatos 55 anos. O que mudou no comportamento delas em meio século? “Nada. Umas continuam me obedecendo cegamente e outras continuam fazendo o que as amigas sugerem”, diz ele, que responde a cerca de vinte ligações por dia. “A ansiedade das mães tem de ser aliviada.” Manissadjian faz parte do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês e atende no consultório particular quatro vezes por semana. Tem uma teoria pouco prática em relação ao preço de suas consultas: “Vai de zero a infinito. Depende de quanto a pessoa pode pagar”. Nem vale a pena gastar saliva com a secretária: “Isso é só com ele”. Com quatro filhos e sete netos, o professor de grande parte dos profissionais que atuam hoje em pediatria diz que não é preocupado com a forma física. “Só faço alongamento no chuveiro”, conta Manissadjian, que teve apenas duas intercorrências médicas mais sérias ao longo dos seus 83 anos: uma fratura exposta na perna depois de um atropelamento em 1994 e uma apendicite aguda em 1942. “Na época fui operado com anestesia de clorofórmio!”, diverte-se.

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    CLÍNICO GERAL

    Mario Luiz Silva Barbosa

    Sábado. O celular toca pelo menos vinte vezes. Nenhuma das ligações é de um amigo querendo marcar uma pizza. Todas elas são de pacientes, com graus diferentes de queixas ou dúvidas, como a mulher que ligou no fim de semana para perguntar se podia tingir o cabelo, já que estava tomando antibiótico… Nada disso parece abalar o humor do clínico geral Mario Luiz Silva Barbosa, 56 anos, famoso entre os colegas por sua paciência e cordialidade. De fala mansa, esse mineiro de Guaxupé costuma atender famílias inteiras, o que, segundo ele, muitas vezes facilita na hora do diagnóstico. Na adolescência, após conviver por um ano e meio com o sofrimento de um primo com câncer incurável, abandonou a idéia de cursar engenharia civil. “Passei a admirar a profissão e resolvi ser médico”, lembra Barbosa, que transmitiu para dois dos três filhos o gosto pela medicina. Sua rotina não foge muito à dos colegas – atende em média vinte pessoas por dia, entre consultas (400 reais) e visitas que faz aos pacientes internados no Sírio-Libanês, hospital onde atua desde 1978. Para evitar as doenças mais comuns que aparecem no seu consultório, como pressão alta, diabetes e problemas cardíacos, joga tênis pelo menos duas vezes por semana. Também gosta de caminhar nas areias de Juqueí, no Litoral Norte. Sempre com o inquieto celular em mãos e pronto para dar respostas. Ainda que seja: “Sim, pode tingir o cabelo”.

    CIRURGIÃO CARDÍACO

    Sergio Almeida de Oliveira

    Segunda-feira 8. Às 7 da manhã, o mineiro Sergio Almeida de Oliveira cumpre alguns rituais de aquecimento antes de começar sua primeira cirurgia cardíaca do dia, desta vez no Hospital São José, ligado à Beneficência Portuguesa. Uma assistente faz uma pequena abertura no decote do seu avental azul. “Ele não gosta de se sentir sufocado”, explica. Depois de enxugar as mãos, encesta o pano num lixo que fica a uns 2 metros de distância. É uma maneira de testar a pontaria antes de abrir o paciente. Nesse caso, quem estava à mesa com um estreitamento congênito na aorta era um médico curitibano de 51 anos. Nenhuma novidade para Oliveira, que calcula ter operado cerca de 1 000 colegas. “Eles dão mais trabalho, mas a gratificação é enorme”, diz. Como se estivesse regendo uma orquestra (aliás, não raro ele opera ouvindo a programação erudita da Cultura FM), faz movimentos rápidos e firmes – maneja a tesoura, por exemplo, como um caubói antes de levar o revólver ao coldre. Até a mais experiente das bordadeiras invejaria sua habilidade com pinças e linhas da espessura de um fio de cabelo. “O cirurgião tem uma arma na mão. Não pode ser afoito”, afirma, em tom sempre baixo. Professor emérito da Faculdade de Medicina da USP, Oliveira trabalha no Incor desde sua fundação e treinou um sem-número de especialistas. Em 2002, foi eleito pelos membros da Sociedade Brasileira de Cardiologia um dos onze profissionais da sua área que mais se destacaram no século XX. Encabeçou a lista com outros dois cirurgiões lendários: Adib Jatene, responsável, entre outras inovações, pela “cirurgia de Jatene”, que corrige uma anormalidade congênita do coração, e Euryclides Zerbini, morto em 1993, autor do primeiro transplante cardíaco no Brasil, com quem trabalhou por quinze anos. Quando partiu para a carreira-solo, em 1979, ele montou a equipe de cirurgia cardiovascular da Beneficência Portuguesa. Lá é o seu QG, apesar de atender no consultório particular (300 reais a consulta) e operar desde 1996 nos principais hospitais de ponta da cidade – ao todo, ele e a equipe contabilizam 37 000 cirurgias. “Planejava parar aos 55 anos”, afirma, alinhadíssimo em um terno bem cortado. “Estou com 72 e não penso mais nisso.” Boa notícia aos que ainda serão regidos pelas mãos habilidosas do maestro Sergio Almeida de Oliveira.

    Fabio Jatene

    Fabio Jatene carrega no sobrenome o peso e o orgulho de uma família que faz história na medicina. Dos quatro filhos de Adib Jatene, um dos mais prestigiados cardiologistas do país e atualmente professor emérito da Faculdade de Medicina da USP, três optaram não só pela medicina como pela mesma área de atuação do pai. Fabio até que titubeou. Aos 15 anos, pensou em ser piloto militar. Depois resolveu que faria veterinária. Decidiu na última hora prestar vestibular para medicina. Entrou na Fundação Universitária do ABC e fez residência em cirurgia-geral e cirurgia torácica no Hospital das Clínicas. Dos muitos conselhos do pai, com quem trabalhou por quinze anos consecutivos – dez deles como primeiro-assistente –, gravou um em especial: “Você não precisa ser o melhor, mas precisa ser reconhecido e respeitado pelas pessoas do seu meio”. Hoje, Fabio é dono de dois títulos importantes: diretor do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital das Clínicas e professor titular do Departamento de Cardiopneumologia da Faculdade de Medicina da USP. Por semana, opera de dez a doze pessoas, 70% delas no Incor e 30% em hospitais como Sírio-Libanês, Hospital do Coração, Oswaldo Cruz e Albert Einstein. Em seu consultório, a consulta sai por 330 reais. “Faço questão de todos os dias operar um paciente do SUS”, diz ele, que pratica exercícios diariamente para agüentar o tranco de ficar pelo menos oito horas em pé. A média de idade dos seus pacientes é de 65 anos. “Mas, com o aumento da longevidade, opero freqüentemente pessoas de 80 anos”, conta. Aos 52, cultiva outra atividade que lhe dá tanto prazer quanto fazer uma ponte de safena ou uma plastia na válvula mitral: criar mulas. “É um animal dócil, inteligente e confortável”, descreve ele, que quando pode se refugia em seu sítio em Moji-Guaçu, no interior do estado, para plantar árvores, mexer na terra e, quem diria, andar de mula.

    CIRURGIÃO VASCULAR

    Julio César Mariño

    Devoto de Nossa Senhora de Fátima, o médico Julio César Mariño, que é paraguaio e veio para São Paulo aos 17 anos, costuma dizer com leve sotaque espanhol: “Tenho sorte e a mão de Deus”. Quem conhece os resultados do cirurgião especializado em aneurismas (com exceção dos cerebrais) sabe que a frase é simplista. Quando opera um paciente é como se estivesse desarmando uma bomba-relógio. A tensão o faz perder até 2 quilos durante uma cirurgia, que leva em média quatro horas. Opera quinze pacientes por mês nos hospitais Sírio-Libanês, Oswaldo Cruz e Nove de Julho. Pelos seus cálculos, tem cerca de 1 000 cirurgias de aneurisma de aorta no currículo. “Contribuir para preservar e prolongar a vida de um paciente dá uma sensação íntima de plenitude inigualável”, afirma. Mariño acorda às 5h30 para a ginástica, vai à Faculdade de Medicina da USP, onde leciona, visita os pacientes internados e termina o dia em seu consultório (500 reais). Para minimizar os momentos de stress, apega-se ao violão, instrumento que o acompanha desde a adolescência. “Gosto de tocar chorinho”, conta o médico, que nos fins de semana livres vai a Campos do Jordão para curtir outra paixão: os cavalos quarto-de-milha. “Quem disse que o cachorro é o melhor amigo do homem?”

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    INFECTOLOGISTA

    David Uip

    Os holofotes parecem perseguir o infectologista David Uip. Ou seria o contrário? “Sempre entendi a mídia como parceira. Acho que a minha obrigação é divulgar”, diz ele, que amealha clientes famosos do universo artístico e principalmente da política – em 2001, apareceu na TV quase tanto quanto o apresentador William Bonner ao divulgar boletins diários sobre a evolução da doença do governador Mario Covas, derrotado por um câncer em março daquele ano. Ele também fez parte da equipe que tratou do presidente Tancredo Neves. Apesar dos flashes, seria injustiça das grandes defini-lo apenas como o médico das personalidades. Foi o envolvimento de Uip na luta contra a aids no Brasil uma das principais razões que o levaram a ganhar fama. O primeiro contato com a doença deu-se em 1982. Até 1995, a presença do HIV no organismo representava uma sentença de morte quase que imediata. Hoje, o coquetel antiaids permite recuperar a capacidade do sistema imunológico dos infectados pelo vírus e prolongar a vida dos portadores do HIV. “Mas a doença está banalizada. Os jovens não a estão levando a sério novamente”, alerta ele, que no último mês atendeu quatro pacientes infectados entre 20 e 27 anos. “É assustador.” Uip dirigiu por dez anos a Casa da Aids, uma instituição ligada ao Hospital das Clínicas, e atualmente coordena uma equipe de quatro médicos brasileiros em Luanda, capital de Angola. “Estamos trabalhando na capacitação de médicos e enfermeiros angolanos”, afirma o infectologista, que ainda acumula os cargos de diretor do Incor e da Fundação Zerbini. Para dar conta dessas funções administrativas e do consultório (550 reais a consulta), garante que dorme apenas quatro horas por dia. Isso quando alguma paciente não liga na madrugada para dizer que o pé do marido está gelado ou que acordou com a fronha do travesseiro cheia de cabelos. O que ele responde nessas horas? “Minha senhora, cubra o pé dele” ou “Troque a fronha do seu travesseiro”, conta, bem-humorado.

    OFTALMOLOGISTA

    Claudio Luiz Lottenberg

    Ele é daqueles que, com o perdão do trocadilho, estão sempre enxergando além. Em 1996, quando 80% das consultas oftalmológicas eram relacionadas à prescrição de óculos, Claudio Luiz Lottenberg resolveu aprofundar-se na técnica da cirurgia de miopia, uma novidade na época. “Fui um dos pioneiros em São Paulo”, diz. Hoje, sua clínica nos Jardins ferve. Atende 25 pacientes por dia (350 reais a consulta) e opera vinte pessoas por semana, principalmente de miopia (duração de cinco minutos) e catarata (duração de dez minutos). Não seriam números surpreendentes se ele não acumulasse a presidência do Hospital Israelita Albert Einstein. “Divido meu dia entre o hospital e o consultório”, afirma ele, figura recorrente – sempre em impecáveis ternos e gravatas (tem 300) de grife – nas revistas de celebridades. O agito social diminuiu há três meses, quando os gêmeos Fabio e Gustavo nasceram. “É a fase mais feliz da minha vida.” Assim como na profissão, também foi obsessivo para realizar o sonho da paternidade aos 47 anos. Casado há oito anos com Ida Sztamfater, que já tinha três filhos, recorreu à barriga de aluguel para gerar os bebês. “O procedimento foi realizado nos Estados Unidos com a ajuda do Roger Abdelmassih”, conta, referindo-se ao médico especialista em reprodução assistida. “Como agradecimento mandei plantar dois bosques em Israel: um ganhou o nome do Roger e o outro, o da Sonia, sua mulher.”

    CARDIOLOGISTA CLÍNICO

    Roberto Kalil Filho

    Ele cuida do coração do presidente Lula e da primeira-dama Marisa Letícia há dezessete anos. Ao longo dessas quase duas décadas também já auscultou ministros, senadores e outros figurões de Brasília. Poucos, entretanto, ousam chamar o cardiologista Roberto Kalil Filho de “médico do poder”. Pelo menos na sua frente. Famoso pela franqueza às vezes desconcertante, ele é do tipo que não faz questão de ser simpático, o que em muitas ocasiões soa como arrogância. “Não gosto de ficar cumprimentando médico, fazendo social…”, diz. Com os pacientes, a relação é outra. “Tento sempre a perfeição, sou um chato com quem trabalha comigo. A democracia não funciona em medicina.” Sua grande inspiração profissional foi o tio Fúlvio Pileggi, diretor-geral do Instituto do Coração nas décadas de 80 e 90. “Aprendi 101% do que sei com ele.” No Incor, onde é professor livre-docente do departamento de cardiologia e vice-presidente da Comissão de Ensino, Kalil Filho fez residência em 1986. Dois anos depois, estagiou no Johns Hopkins School of Medicine, importante centro de medicina nos Estados Unidos. Hoje, atua também no Sírio-Libanês, como coordenador do Núcleo de Cardiologia, e atende num consultório na Bela Vista (600 reais). Como encerra o expediente por volta das 10 da noite, curte as duas filhas adolescentes, Isabella e Rafaella, principalmente nos fins de semana. Adora vê-las montar. “Freqüentava a Hípica de Santo Amaro e cheguei a competir em 1976”, conta Kalil Filho, 48 anos, corpo de jóquei, humor de Woody Allen e coração de mãe – de petista a tucano, sempre cabe mais um.

    Elias Knobel

    Uma mulher que desejava engravidar do marido em coma. Outra que só aceitava se submeter a uma cirurgia arriscada após confidências ao amante. O jovem casal que fez sexo na maca. Como fundador da UTI do Hospital Israelita Albert Einstein, do qual hoje é vice-presidente, o cardiologista Elias Knobel coleciona casos e mais casos (alguns picantes) de pacientes e familiares que conheceram o limite entre a vida e a morte. Vários deles, inclusive, publicou em livro. Foram 32 anos à frente da UTI. Hoje, aos 63 anos, divide seu tempo entre a administração do hospital e o consultório (500 reais), onde atende no mínimo sete pacientes por dia. A história de como se tornou médico bem que renderia um capítulo curioso. Fugidos da guerra, seus pais, Abram, 95 anos, e Cyrla, 92, deixaram a Polônia para morar em São Paulo. Não vieram juntos. Conheceram-se aqui e tiveram dois filhos. Knobel, o mais velho, era muito franzino na infância. “Para os judeus daquela época, imagem de saúde era ser gordo”, conta ele, que fez uma peregrinação pelos consultórios da cidade. “Conheci tantos, mas tantos médicos que acabei me apaixonando pela profissão.” Detalhe: os tratamentos não deram resultado. Ele continuou magro. Quando se casou, em 1967, pesava 65 quilos. No mês passado, já aos 77 quilos, foi homenageado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia como “a personalidade da cardiologia de 2006”. Formado pela Faculdade de Medicina da USP, guarda até hoje um pedaço do cabelo que os veteranos lhe tiraram no dia do trote. Era pretensioso e cheio de ideais. “Mas, quando as cruzetas foram chegando e não cabiam mais no esteto, fui aprendendo”, diz, referindo-se à prática dos médicos de marcarem o estetoscópio com uma cruz a cada óbito. Desde então, gosta de repetir aos colegas mais jovens, entre eles o filho, também cardiologista, Marcos Knobel: “A vida ensina em vida”.

    PSIQUIATRA

    Valentim Gentil Filho

    Aos 23 anos, o psiquiatra Valentim Gentil, professor titular da Faculdade de Medicina da USP, teve um câncer de olho. Desde então, diz que comemora a vida a cada cinco anos. Aos 61, portanto, felizmente já brindou diversas vezes. Também não lhe falta ânimo para se aperfeiçoar na profissão. Participa de cinco congressos por ano no exterior. Autor de setenta artigos publicados em revistas médicas internacionais, lê diariamente pelo menos um texto novo. Dedica três dias por semana ao Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e dois para atender em seu consultório nos Jardins (1000 reais a primeira consulta). Como trabalha com doenças como depressão e transtorno bipolar, sua rotina não é das mais brandas. “É muito difícil quando você sente que não conseguiu ajudar”, diz ele, referindo-se aos casos extremos de pacientes que se suicidaram. “Foram dez pessoas em 37 anos de experiência. Mas a morte de um paciente é como a perda de um parente. Deixa uma tremenda cicatriz.” Quando o astral baixa, pede colo à mulher, a psicoterapeuta Maria de Lourdes, com quem está casado desde 1973. “Tenho nela um interlocutor fantástico. É a minha eterna namorada.”

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    DERMATOLOGISTA

    Evandro Rivitti

    Algumas palavrinhas que fazem o dermatologista Evandro Rivitti enrugar de raiva: Botox, choquinho, laser e peeling. “Nos últimos tempos a dermatologia tem sido contemplada com grandes espaços na mídia, mas lamentavelmente apenas o seu aspecto cosmético”, diz ele, professor titular da Faculdade de Medicina da USP desde 1989. “A dermatologia clínica é uma especialidade médica que envolve cerca de 2 000 doenças, e muitas delas representam importantes problemas de saúde pública.” No ano passado, quase 84 000 consultas foram realizadas na Divisão de Dermatologia do Hospital das Clínicas, da qual ele é responsável. Uma vez por semana, Rivitti analisa os casos mais complicados com os residentes. Às quintas, pode ser visto na enfermaria do HC discutindo com os alunos diagnósticos e tratamentos. “Na época da residência, eu me apaixonei pela objetividade da dermatologia. Você vê a doença.” No consultório particular, atende vinte pessoas por dia, entre retornos e novas consultas (400 reais). Casado e pai de três filhos, Rivitti gosta de ler (atualmente se entretém com a biografia do ditador chinês Mao Tsé-tung) e assistir a futebol. “Sou são-paulino roxo”, afirma ele, num raro momento de descontração. Aos 63 anos, nunca havia dado uma entrevista.

    PNEUMOLOGISTA

    Carlos Roberto de Carvalho

    Já ouviu falar em linfangioleiomiomatose? Isso, assim mesmo, com 22 letras. Essa é uma das doenças pulmonares raras (neste caso, basicamente afeta mulheres jovens e sua incidência é de uma em1 milhão) que o médico Carlos de Carvalho estuda. Com atividade acadêmica intensa, ele divide seu dia entre a Faculdade de Medicina da USP, os hospitais e o consultório (330 reais a consulta). Carvalho é supervisor do Serviço de Pneumologia do Hospital do Coração e do Hospital das Clínicas. Também atua no Sírio-Libanês e no Oswaldo Cruz. Vegetariano, só faz duas refeições por dia, pela manhã e à noite. “Mesmo nos fins de semana sento com a família à mesa e não consigo almoçar”, diz ele, que com seu 1,81 metro gosta de jogar basquete. Ao contrário de boa parte dos colegas, tem celular, mas mal sabe o número. “Meu negócio é o bip. Sou old fashion”, brinca. A vontade de fazer medicina surgiu aos 3 anos de idade, quando sua mãe ficou internada por uma semana. “Ao voltar para casa ela disse que me tornaria médico e iria cuidar da sua saúde”, conta. “Repeti tanto isso que acabei fazendo medicina.”

    GERIATRA

    Wilson Jacob Filho

    Com a possibilidade de uma vida mais longa – a expectativa média hoje dos brasileiros é de 76 anos para mulheres e 69 para homens –, é comum surgir o desejo de parecer mais jovem. Se esse for o seu objetivo, passe longe do consultório do geriatra Wilson Jacob Filho, professor titular da Faculdade de Medicina da USP. “Atendo pacientes em busca do envelhecimento saudável, e não da juventude eterna. Não vendo ilusões”, diz ele, um dos responsáveis pela criação do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas, em 1979. Ali, coordena o Programa de Envelhecimento Saudável, com atendimento físico e psicológico para quem tem mais de 60 anos. Ensina, com a ajuda de outros profissionais, ioga, meditação, dança, ikebana e outras atividades. “Procuramos despertar nessas pessoas a alegria de viver.” Wilson Jacob, que apesar do sobrenome é descendente de italianos do Brás, despertou para a especialidade ao estagiar num asilo da Sociedade Israelita com 450 idosos, em 1976. “Lá eu descobri que os velhos precisam de atenção diferenciada”, afirma ele, que cobra 430 reais pela consulta. “Tratar da doença ou do doente não faz diferença quando você é jovem. No idoso, cuidar do doente é crucial.” Ex-remador do Clube de Regatas Tietê, o médico tenta, aos 54 anos, manter armado o tripé que considera fundamental para uma velhice feliz: alimentação saudável, exercícios físicos constantes e bom humor. Evita frituras, corre 20 quilômetros por semana e se diverte cuidando da bicharada em sua chácara em Valinhos: quatro cachorros, três cavalos e doze cabritos.

    GASTROENTEROLOGISTA

    Carlos de Barros Mott

    Aos quatro filhos, nenhum deles médico, Carlos de Barros Mott, gastroenterologista clínico do Hospital Sírio-Libanês e professor da Universidade de São Paulo (USP), costuma sempre repetir: “Não acelerem em ponto morto. Arregacem as mangas e vão à luta”. Foi o que ele fez aos 26 anos de idade, quando se formou na PUC de Sorocaba, em 1967. “Dedico 70% do meu tempo à medicina”, afirma Mott, 66 anos, uma das maiores autoridades em pâncreas do país. A profissão lhe proporcionou algo que gosta muito de fazer, ainda que a trabalho: viajar. Entra num avião em média dez vezes por ano para conferências aqui e lá fora. Quando está na cidade, dá aulas, faz pesquisa e atende dez pacientes por dia em seu consultório no Itaim (400 reais por consulta). As poucas horas que sobram, aproveita para investir no mercado financeiro e assistir a partidas de futebol (até 2000 era meio-campista do time dos veteranos da USP). Aliás, o melhor sorriso aparece quando o assunto é futebol. “Eu e meu irmão gêmeo jogávamos muito bem. Pode perguntar a qualquer um”, gaba-se o palmeirense. Filho da escritora de literatura infanto-juvenil Odette de Barros Mott, morta em 1998, Carlos Mott tem na mãe o maior exemplo. “Ela foi uma mulher que fugiu aos padrões da época. Nasceu em 1913, teve oito filhos e todos cursaram faculdade”, conta Mott, o único médico da família, que, pelo que se vê, engatou uma primeira e não parou mais de acelerar.

    NEFROLOGISTA

    Paulo Ayroza Galvão

    A pele morena queimada de sol contrasta com o branco do avental – coisa rara entre os médicos, que costumam exibir aquela palidez “Família Addams”. Mas não é só isso que diferencia o nefrologista Paulo Ayroza Galvão de seus pares. Numa profissão em que o reconhecimento demora a vir, ele já está entre os melhores aos 46 anos de idade. Com a medicina borbulhando nas veias (pais e avós médicos), sempre teve uma atração por unidades de terapia intensiva. Enquanto cursava a Santa Casa de Misericórdia, em 1984, estagiou no Sírio-Libanês. Aos 26 anos, foi contratado para trabalhar na UTI do hospital. Dez anos mais tarde, viria a se tornar o chefe da unidade. Há quatro anos, abandonou o cargo e resolveu dedicar-se exclusivamente ao consultório. Atende, em média, oito pessoas por dia (400 reais), com diagnósticos como pressão alta, insuficiência renal e infecção urinária. Reserva as quartas-feiras para estudar. A fachada bronzeada também requer dedicação. “Jogo tênis três vezes por semana e vou à praia pelo menos uma vez por mês”, conta ele, pai de três filhos pequenos. “Não me casei com a medicina. Eu me casei com a Daniela.”

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    NEUROCIRURGIÃO

    Guilherme Carvalhal Ribas

    “A realização é um alvo móvel. A gente está sempre correndo atrás.” A frase do neurocirurgião Guilherme Carvalhal Ribas, do Hospital Israelita Albert Einstein, dá uma pequena idéia de seu espírito inquieto. Graduado em 1977 pela Universidade Federal de São Paulo, antiga Escola Paulista de Medicina, Ribas fez residência em neurocirurgia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Três estágios em centros de renome no exterior contribuíram muito para seu aperfeiçoamento – hoje é responsável por um curso anual de microanatomia neurocirúrgica nas universidades de Virgínia, nos Estados Unidos, e de Cambridge, na Inglaterra. Além de passar as manhãs na Faculdade de Medicina, opera de duas a três pessoas por semana (cobra 400 reais por consulta). São cirurgias delicadíssimas que podem levar de seis a doze horas. Só a abertura do crânio, por exemplo, demora uma hora. “Ter uma equipe coesa é fundamental. Hoje, com as subespecializações, ninguém é mais capaz de fazer tudo sozinho e bem-feito”, diz ele, especialista em tumores cerebrais. Não raro, Ribas é o último a deixar o hospital. Sai de lá às 11 da noite. Quando dá, joga tênis, faz RPG e fotografa. Filho do falecido psiquiatra João Carvalhal Ribas, que foi professor titular da Faculdade de Medicina, o neurocirurgião teve uma convivência intensa com grandes nomes da medicina desde a infância. “O professor Zerbini era meu padrinho”, diz, referindo-se ao lendário Euryclides Zerbini. “Ser médico e querer vencer significa abrir mão de muitas coisas. A palavra-chave é paixão.”

    COM O JALECO NO ROSTO

    O que os 23 médicos entrevistados dizem na condição de anonimato

    Os médicos se acham deuses?

    Sim – 52%

    Não – 48%

    “Principalmente os neurocirurgiões”

    “Tem uns babacas que se acham”

    “Qual a diferença entre Deus e o médico? Deus sabe que não é médico”

    De 0 a 10, que nota o senhor dá ao sistema público de saúde em São Paulo?

    Média – 4,4

    De 0 a 10, que nota o senhor dá ao sistema privado de saúde em São Paulo?

    Média – 7,3

    O senhor é filho de médico?

    Sim – 74%

    Não – 26%

    Seu filho é médico ou estudante de medicina?

    Sim – 74%

    Não – 26%

    Quais os erros mais comuns que os médicos cometem?

    “Não reconhecer seus limites de atuação. Ou seja, não aceitar que são falíveis”

    “Diagnosticar erroneamente por má formação”

    “Má interpretação dos exames. Alguns erros são primários”

    “Pedir exames desnecessários. É impressionante a quantidade de exames com resultado normal”

    “Praticar a medicina de maneira informal, pelos corredores ou por telefone”

    “Os médicos estão tratando cada vez mais das doenças e menos dos doentes”

    É comum médicos flertarem com enfermeiras?

    17% – Sempre

    70% – Às vezes

    13% – Raramente

    0% – Nunca

    Qual é o seu rendimento mensal?

    Entre R$ 15000,00 e R$ 30000,00 – 13%

    Entre R$ 30000,00 e R$ 50000,00 – 26%

    Acima de R$ 50000,00 – 61%

    O senhor estudou no exterior?

    Sim – 70%

    Não – 30%

    Quantos idiomas o senhor fala, além do português?

    1 – 17%

    2 – 17%

    3 – 48%

    4 – 14%

    5 – 4%

    O senhor tem doutorado?

    Sim – 96%

    Não – 4%

     

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