Academia iluminada por neons em tons de azul e roxo. Sala de bilhar. Curvas metálicas na fachada e piscina revestida de pastilhas rosa-choque, revelando o skyline de São Paulo no horizonte. Lançado na última semana, o flat VN Casa do Ator, na rua de mesmo nome, no coração da Vila Olímpia, é recheado de detalhes até há bem pouco tempo incomuns nesse mercado. A novidade começou já na escolha dos arquitetos responsáveis pelas áreas comuns e pelo design de interiores: a dupla Mila Strauss e Marcos Paulo Caldeira, famosa por assinar a decoração de algumas das casas noturnas mais modernas da capital — Cine Joia, Lions e Vegas, entre outras. “Nossa ideia foi levar o conceito de balada e de diversão para dentro do edifício, criando um ambiente jovem e cool”, diz Mila, que, antes de se estabelecer em São Paulo, trabalhou em escritórios de Barcelona e Berlim, cidades europeias que são referência em projetos hoteleiros inovadores.
A unidade da Vila Olímpia, com previsão de inauguração em 24 meses, faz parte de um pacote de lançamentos da incorporadora Vitacon que engloba outros quatro flats assinados por grandes arquitetos, como João Armentano e José Ricardo Basiches, totalizando 680 unidades residenciais nos próximos três anos e um investimento de 320 milhões de reais. “Existe uma nova demanda de mercado por moradias que reúnam espaços reduzidos e funcionais”, afirma Alexandre Lafer Frankel, CEO da empresa. “Estamos de olho em pessoas que fazem questão de morar bem e que se preocupam com a sustentabilidade e a mobilidade urbana.” Além de contarem com localização estratégica em bairros como Jardins, Perdizes e Moema, todos os endereços oferecerão serviços de compartilhamento de bicicletas e carros, por exemplo. As acomodações, com tamanho a partir de 20 metros quadrados, têm preços que começam em 260.000 reais. O aluguel vai girar em torno de 2.500 reais por mês.
Os investimentos marcam uma retomada no setor. Febre imobiliária nos anos 90, quando a cidade viu crescer dezenas de novos empreendimentos ano após ano, os flats encararam uma dura crise na década seguinte. “No início, o grande foco eram os investidores, que estavam de olho apenas na rentabilidade em curto prazo”, analisa Alexandre Tirelli, presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis de São Paulo. “Como houve um excesso de oferta e o custo de manutenção era bastante alto, muita gente se frustrou com o negócio.” Resultado: durante uma década não foram lançados empreendimentos do gênero na capital.
Os primeiros sinais de recuperação do mercado vieram em 2007, quando a consultoria especializada no mercado hoteleiro Hotel Invest lançou o primeiro fundo de investimentos brasileiro focado exclusivamente no mercado de flats, o Maxinvest. “Vimos uma oportunidade de recuperação do mercado muito clara e em curto prazo”, relata Diogo Canteras, fundador da empresa e idealizador do fundo, que hoje conta com um patrimônio de 200 milhões de reais e uma rentabilidade média de 32% ao ano. Quatro anos mais tarde veio o primeiro grande lançamento do gênero: o complexo do antigo hotel Ca’d’Oro, o primeiro cinco estrelas da capital, com 374 unidades residenciais que terão serviços hoteleiros agregados. “Os apartamentos se esgotaram em um único dia”, lembra Clovis Mendes de Souza, supervisor de vendas da Fernandez Mera, uma das imobiliárias que concentraram as vendas. O metro quadrado, na época, estava avaliado em 9.000 reais.
Nesta fase de renascimento dos flats na capital,o público jovem representa o alvo principal dos negócios. Mais do que os serviços de clubes, antes comuns nos empreendimentos, que não raro ofereciam quadras de tênis e squash, restaurantes e salões de beleza, os hóspedes de hoje buscam praticidade e baixo custo. Esse é o caso do designer gaúcho Alexandre Jonker, de 30 anos. No mês passado, ao se mudar para São Paulo, ele escolheu um flat em Moema. Na decisão, pesou o fato de não ter de se preocupar com a lavagem das roupas, as louças e a arrumação. “Aqui, posso ter o mesmo conforto da casa dos meus pais”, afirma. “Mas o melhor é que conto com academia, piscina e serviço de arrumação incluídos no valor do aluguel e do condomínio mensal. Se fosse fazer tudo isso por fora, gastaria muito mais.”