“Eu estava desesperada em busca de um secador para meus shorts molhado antes da final de handebol do JUCA (Jogos Universitários de Comunicação e Artes) de 2018 quando consultei Pedro, 27, sobre o item. Ele estava lá com sua equipe de rúgbi e gostou de mim. Nós nos aproximamos por meio de um amigo em comum, o Montanha, que o obrigou a me chamar para uma festa logo após os jogos. A partir daí começamos a nos ver mais: pouco tempo depois, em julho, veio o primeiro beijo e, em 2019, o pedido de namoro.
Com a chegada da pandemia, passamos a morar juntos na casa dele, e a gente não saía para nada, mas eu acabei contraindo a Covid-19 no fim de fevereiro e passando para ele. Pedro tinha febres intermitentes e muita tosse, por isso fomos à Santa Casa, em Higienópolis, na manhã do dia 8 de março. Quando chegamos, ele estava tão fraco que nem conseguia andar. Deu entrada às 8 da manhã e só conseguiu fazer a tomografia às 23 horas.
O exame acusou que Pedro estava com 70% a 90% dos pulmões comprometidos, por isso foi levado para a UTI na madrugada do dia 9. Horas depois, com apenas 10% de saturação, ele precisou ser intubado. Ele me disse que nessa hora ficou bem nervoso, porque sabia que seria difícil sobreviver sendo asmático, com o comprometimento dos pulmões, em uma UTI, em um país onde morriam cada vez mais pessoas de Covid diariamente. Mas tentou ter pensamentos positivos no momento da sedação.
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Nós só ficamos sabendo da intubação no dia seguinte e foi desesperador receber essa notícia. Nesse momento, o mundo desabou para mim, esse foi um dia muito pesado. As coisas já eram difíceis pra mim porque eu ainda estava com Covid e só recebíamos notícias dele uma vez por dia, com a ligação do médico.
Sua melhora foi constante a cada dia a partir da intubação, por isso os médicos foram diminuindo a sedação aos poucos. Um dia antes da extubação, ele próprio se extubou enquanto ainda estava sedado e quase matou a médica do coração. Não voltaram a intubá-lo porque consideraram uma resposta do corpo. Apesar de ter sido muito perigoso o que ele fez, sua peripécia nos rendeu boas risadas. É a cara dele ter feito algo assim. E seus amigos concordam, fizeram do episódio um meme e brincam que o Pedro ‘arrancou a Covid no soco’. Ele acordou no dia 16 e, enquanto terminava de se recuperar, pensou bastante na vida e me disse por mensagem que tinha algo muito importante para me dizer, mas teria de ser pessoalmente.
A alta ocorreu no dia 23, e eu estava muito nervosa para o reencontro. Esperávamos por ele na entrada do hospital e, quando Pedro saiu, uma das minhas cunhadas colocou sorrateiramente as alianças em seu bolso. Quando ele veio me cumprimentar, eu estava chorando e ele começou a falar sobre a importância que eu tive na jornada dele para vencer a Covid. Disse-me que foi sedado pensando que só queria poder me ver de novo, porque ainda tínhamos muito que viver, e usou essa força para vencer a doença. E essas palavras foram as últimas que ouvi antes de ele colocar a mão no bolso para puxar as alianças. Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo, estava tremendo. Ele ajoelhou, debilitado pelo tempo de hospital, e perguntou: ‘Você quer se casar comigo?’. Eu chorei o dia inteiro depois disso, foi o melhor momento da minha vida.
Estamos tentando aproveitar o tempo juntos desde a volta para casa. Ele ainda está se recuperando, fica muito cansado, mas está melhorando aos poucos. O casamento ainda não tem data marcada, mas queremos fazer no fim de 2022, e, se a pandemia e as condições financeiras permitirem, com uma grande festa para comemorar a conquista de ter o Pedro de volta em nossa vida.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 05 de maio de 2021, edição nº 2736