Após sofrer uma tentativa de assalto na Marginal Pinheiros, o diretor de marketing Bruno Castilho, 47, decidiu trocar de carro. Vendeu um SUV de quase 300 000 reais e comprou um veículo menor, desta vez blindado. “Fugi, um dos tiros atingiu o parabrisa e ficou alojado no painel. A sensação ainda é de insegurança, mas com o blindado pelo menos eu não preciso sair feito louco numa eventual fuga”, afirmou.
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A sensação de insegurança citada por Castilho é o principal combustível que mantém turbinado o mercado de carros blindados. Dados da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin) mostram que 20 024 veículos foram blindados no país em 2021, cifra que representa um crescimento de 45% em comparação com 2020. A tendência é de novo recorde em 2022. Segundo o Detran, só neste ano proprietários de 6 632 veículos no estado de São Paulo, 72% deles da capital — 4 773 —, fizeram a troca da carroceria, uma média de 27 veículos por dia.
“A cada cinco notícias a que você assiste na TV, três são sobre violência. Infelizmente o mercado de blindado está bom”, diz Marcelo Silva, presidente da Abrablin. Entre os motivos do “infelizmente” está o fato de que a blindagem nada mais significa do que oferecer condições de fuga numa situação de risco.
O preço médio para blindar um veículo fica em torno de 70 000 reais, mesmo valor de um Renault Kwid zero-quilômetro. Além do preço para poucos, a discrição é uma marca do negócio. “Muitas vezes nem sabemos quem são os clientes finais, já que lidamos com representantes das empresas”, explica Fábio Cortezi, diretor comercial da Inbra Blindados.
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Dono de quatro veículos blindados, o empresário Ricardo Braz, também vice-presidente da Federação Nacional das Locadoras de Veículos, diz não se sentir 100% tranquilo nem quando está ao volante de um deles. “Não saio com um bom relógio nem celular”, conta.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que o roubo de veículos caiu 31,8% na capital e que, entre as medidas para combater a sensação de insegurança, está dobrar o número de policiais na ruas.
Índice de preços* da blindagem
SEDAN – 64 520,00 – Corolla | Virtus | Civic
SUV MED – 70 910,00 – Compass | T-Cross | Corolla Cross
SUV GDE – 77 860,00 – XC90 | Q7 | X7
PICK-UP – 66 200,00 – S10 | Amarok | Hilux CD
*Em reais. Fonte: Flavio Gerdulo, do Portal de Blindados
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Aço é coisa do passado
Apesar de ainda ser usado em alguns pontos específicos na blindagem do veículo, o aço cedeu lugar há muito tempo aos novos materiais, tais como as fibras de aramida, que são cinco vezes mais resistentes. Além disso, para os vidros são usados polímeros especiais.
O emprego desses materiais trouxe mais leveza aos veículos, que antes chegavam a pesar até 400 quilos a mais devido à blindagem. Agora, variam de 140 quilos a 200 quilos. “É como se o motorista carregasse duas pessoas sempre”, explica Marcelo Silva, da Abrablin.
O que vai determinar o custo e o peso será o nível de proteção, sobretudo dos vidros, que podem chegar a ter 21 milímetros de espessura, bem mais grossos que os de um carro comum, com 4 milímetros. Entre os níveis permitidos de blindagem de veículos para uso civil, o mais usado é o III-A, que resiste a tiros de .44 Magnum, avaliada como uma arma de grosso calibre.
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Publicado em VEJA São Paulo de 20 de julho de 2022, edição nº 2798