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“Queremos trazer os jovens de volta ao Hebraica”, diz novo presidente do clube

Fernando Rosenthal assume em julho a tradicional instituição com o desafio de renovar seu uso e intensificar as mudanças no pós-pandemia

Por Humberto Abdo
Atualizado em 27 Maio 2024, 20h14 - Publicado em 21 Maio 2021, 06h00
Fernando Rosenthal posa encostado em árvore com o clube Hebraica ao fundo.
Fernando Rosenthal, hoje secretário-geral: “O sócio não deixa de ser um cliente.” (Abner Palma/Divulgação)
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Como começou sua história no clube?

Sou sócio do Hebraica desde que nasci. Aos 17 anos, acabei deixando-o de lado, um fenômeno que acontece com todo sócio nessa idade. Fui me aproximando de novo quando tive meu primeiro filho, pois o clube tem uma escola infantil, e passei por algumas gestões como diretor jurídico, depois secretário-geral e agora presidente.

O que o convenceu a aceitar o cargo?

É a mesma pergunta que minha esposa e meus amigos me fazem (risos), porque eu já tenho outros trabalhos. O que me inspira é ser a pessoa da vez para cuidar do interesse dessas famílias.

Quais mudanças planeja para o local?

Buscamos há algumas gestões trazer de volta o jovem nessa faixa dos 17 aos 30 anos e estamos desenvolvendo um centro de juventude. Na nossa experiência com outros clubes, vemos que ocorre sempre a mesma coisa: o jovem vai para a universidade, começa a ter outras atividades e achar que o clube não é tão interessante para ele… E quer estar fora do radar dos pais. Têm dado certo as quadras dos esportes de areia, como beach tennis e futevôlei, e estamos vendo muita gente usar espaços do clube para trabalhar, essa é uma oportunidade que poderemos explorar.

Como pretende atrair novos sócios?

No pós-Covid, a tentativa será demonstrar como o clube está mudando e atrair jovens com ambientes seguros, onde os sócios podem deixar o filho de manhã e buscar no fim do dia. Temos uma escola que vai até o ensino médio e opera com quase 900 alunos. Ali eles podem passar o dia todo e ir embora às 10 da noite. Vai ser nosso carro-chefe.

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Como vocês se prepararam para o fechamento do clube na pandemia?

Foi um baque grande no começo. Naquele momento, tivemos assessoria de médicos, fizemos uma cartilha, conversamos com o Sindi Clube… Com o fechamento total, sofremos bastante em relação aos funcionários e a entrada de valor no clube diminuiu.

Como está a situação financeira?

Temos muito a agradecer aos sócios. A grande maioria entendeu a importância do clube, compreendeu que era um condomínio (a ser pago), e assim mantivemos as receitas numa média igual. Estamos em uma situação financeira boa, não ótima. Enfrentamos isso com cortes de gastos e poucos cortes definitivos de funcionários. Nós inauguramos um espaço de convivência, com restaurantes e um bar, que não imaginávamos que acabaria sendo tão importante. Por ser um local com toda a lateral aberta, notamos procura enorme para eventos no ano que vem, quando teoricamente a pandemia terá acabado, e muitos querem alugar. E não tínhamos percebido antes como é gostoso ficar nos nossos espaços abertos.

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Como o clube tem lidado com sócios que interromperam as mensalidades?

Já existia um trabalho de assistência social para lidar com situações como essa. O clube ajuda essas pessoas pelo tempo que precisarem, contando que elas estarão disponíveis quando recuperarem o fôlego. Tentamos entender a necessidade de cada um e ajudamos de acordo com o nosso orçamento, além de algumas doações. Financeiramente, os jovens casais e os mais velhos, na faixa dos 60 anos, foram os mais afetados. Notamos um aumento de pessoas passando por dificuldades, mas o clube passou a ser um dos únicos momentos de lazer delas.

Sua experiência como advogado tem sido útil no trabalho com o clube?

A formação do advogado está muito ligada a ter uma visão ampla. E eu tenho a visão do consumidor, sei que o sócio precisa receber pelo que paga (a mensalidade individual mais alta custa 576,55 reais, e o título, perto de 40 000). Temos de enxergar o clube como prestador de serviços e o sócio não deixa de ser um cliente.

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Como o Hebraica pode contribuir com sua comunidade em São Paulo?

O Hebraica já está inserido no calendário cultural com eventos como o Festival Carmel, de danças, e pode cada vez mais contribuir com espetáculos e cinema. Para isso, investimos em um projetor de última geração no teatro, que poderá ser usado no festival judaico. Além disso, o Hebraica contribui com esportes, projetos sociais e espaço para vacinação. Hoje somos o drive-thru que mais vacina em São Paulo. A relação do Hebraica com a cidade é forte na atuação que tem além dos muros.

“Temos uma escola com quase 900 alunos, que podem passar o dia todo em ambientes seguros. Isso vai ser o nosso carro-chefe”

Como o Hebraica se relaciona com outros clubes?

Temos um bom intercâmbio em todas as áreas com o Clube Pinheiros, por exemplo. Quando tem obra de quadras, a gente empresta espaço a eles, e vice-versa, assim como ocorrer com outros clubes individualmente.

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O senhor já viveu muitos bons momentos no clube com sua família?

É raro eu estar ao mesmo tempo com eles aproveitando o clube. Meus filhos reclamam de que não conseguem andar comigo porque a cada minuto alguém me para, fala algo ou pergunta alguma coisa (risos). Mas me sinto muito feliz quando estamos todos ali.

É verdade que o senhor foi um dos primeiros bebês a nascer na maternidade do Hospital Albert Einstein?

(Risos) Sim, porque o Einstein foi inaugurado em 1971 e eu nasci logo em 1972. Como meu pai é médico, ali em volta era mato puro e ele se aventurou a ir até lá. Dizem que foi corajoso, atravessou a cidade inteira.

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Como é sua conexão com Israel?

Fui pela primeira vez a Israel quando tinha 16 anos pelo kibutz, uma área com pessoas que moram em sociedade, como em uma fazenda. Fomos em um grupo grande, trabalhamos um mês no campo de laranja, acordando às 5 da manhã, e depois passei um mês viajando e conhecendo o país.

Por lá, parte da comunidade ultraortodoxa manteve encontros presenciais sem distanciamento social. Isso também ocorreu em São Paulo?

Não aconteceu. Em Israel, essa parte da comunidade não tem acesso a meios de informação e as notícias não chegavam a essas pessoas, que não acreditavam na gravidade da pandemia. Isso ocorreu tanto em Israel como em Nova York, onde esses grupos fechados existem em maior número. Não era negacionismo, mas falta de informação.

Como o senhor vê a atual situação de conflito entre Israel e os palestinos?

Penso que o conflito não é entre Israel e Palestina, é entre Israel e o Hamas. Tenho diversos amigos árabes que não veem problemas no relacionamento com palestinos e israelenses. E esse é um conflito localizado geograficamente em Israel, temos relacionamentos excelentes com toda a comunidade árabe no Brasil.

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Publicado em VEJA São Paulo de 26 de maio de 2021, edição nº 2739

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