Ao sentir o peso do passar do tempo, a diretora escolar Ercília de Assis, de 61 anos, viu-se disposta a não deixar que a terceira idade virasse sinônimo de tédio e agenda de lazer vazia. “Esse período vai muito além da convivência com filhos e netos”, acredita ela, que é moradora do Tucuruvi, na Zona Norte, e mãe de dois rapazes (um de 35 anos e o outro de 31). Em 2011, ela começou a organizar com amigas passeios e viagens, inclusive a outros estados. Em 2013, a iniciativa deu origem ao Peregrinas Animadas.
O grupo reúne-se semanalmente para caminhar, em especial no Parque do Ibirapuera, e curtir atrações culturais. As quarenta integrantes adoram musicais. Recentemente, parte delas assistiu a Rocky Horror Show. Elas também marcam encontros em bares, restaurantes e casas noturnas, como a The History, na Vila Olímpia. “Dançamos sozinhas mesmo, os homens são tímidos nessas horas”, brinca Ercília.
Aos poucos, a turma passou a promover eventos, como bazares e jantares, a fim de angariar recursos para ONGs e instituições de caridade. Entre as mais de dez entidades ajudadas por elas, aparece a associação Homem Cão Cão Homem, dedicada a encontrar lares para cães vira-latas, e uma instituição de longa permanência para idosos, no Canindé.
A iniciativa mais recente consistiu na produção de um calendário beneficente. Doze participantes do Peregrinas Animadas deixaram a timidez de lado e posaram seminuas para as lentes do fotógrafo Sergio Freitas. Todas as 100 cópias disponíveis esgotaram na noite do lançamento, em dezembro. Outros 100 exemplares, ao preço unitário de 20 reais, foram encomendados (para fazer reserva, é preciso enviar um e-mail para peregrinas.animadas@gmail.com).
A renda do trabalho será revertida para a Rede Feminina de Combate ao Câncer, que presta auxílio a vítimas da doença, em Diadema. Uma das modelos do projeto foi Beth Nastari, de 61 anos, que enfrentou trinta sessões de radioterapia e encontrou nas reuniões com as colegas o apoio necessário para seguir em frente. “Não me despi só da roupa, mas também dos traumas da doença”, afirma. Ercília igualmente viu a rotina ser transformada pelo Peregrinas Animadas. “O grupo mudou nossas vidas e queremos retribuir esse bem”, diz.