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OLÁ,

Moradores protestam contra vizinha que cria 350 cães

No condôminos da Fazendinha, na Granja Viana, reclamação é contra barulho e mau cheiro dos animais recolhidos da rua

Por Daniel Nunes Gonçalves
Atualizado em 5 dez 2016, 19h31 - Publicado em 18 set 2009, 20h27

Em busca de uma vida bucólica e sossegada, a arquiteta Cristiane Tanganelli e seu marido, o empresário Rogério Steluti, mudaram-se de um apartamento no Morumbi para uma casa na Granja Viana em março do ano passado. “Sonhava acordar ouvindo o canto dos pássaros entre as árvores e ver meus dois pit bulls correndo pelo quintal”, lembra Cristiane, atualmente grávida de cinco meses. Ela só não esperava deparar com um problema de convivência que jamais tivera em prédios. Do outro lado de seu muro no loteamento Fazendinha, fica uma das duas casas da agropecuarista Regina Lara Leite Ribeiro Barretto, uma apaixonada dona de mais de 350 cães recolhidos nas ruas de São Paulo. “O cheiro e o barulho, quando todos latem juntos, são insuportáveis”, conta Cristiane, que se uniu a condôminos de outras sessenta casas em um protesto que inclui a instalação de faixas e a criação de um abaixo-assinado. “Meus filhos de quatro patas são ?zen? e bem tratados, nunca vou me desfazer deles”, diz Regina, que respondeu ao ataque angariando assinaturas de mais de 3?000 apaixonados por bichos de estimação.

Segundo um levantamento feito pela USP em 2008, a cidade de São Paulo tem mais de 2 milhões de cães domiciliados. Outros 20?000 vivem soltos pelas ruas. “Adotar um animal é uma atitude nobre, especialmente se o dono der um abrigo saudável, boa ração e vacinas”, diz o veterinário Marco Antonio Vigilato, gerente do Centro de Controle de Zoonoses. A “cachorreira” Regina, como gosta de se apresentar, cuida bem da sua prole. Aos 50 anos, viúva desde os 23 e sem filhos, ela acomodou a matilha em dois casarões avaliados em 1,5 milhão de reais cada um. Os preferidos têm até quarto com cama, TV, rádio e ventilador. Mais de 50?000 reais mensais seriam gastos com ração importada, vacinas e castrações. Dez funcionários tratam da cachorrada e a transportam para os veterinários em oito veículos. “O problema é que ela não se importa com os seres humanos”, afirma o fotógrafo Pedro Martinelli, um dos vizinhos.

“Esse exagero é coisa de gente desequilibrada”, acredita outro prejudicado, o também fotógrafo Cristiano Mascaro. “Ela poderia realizar sua boa ação em uma área não residencial”, sugere o empresário Georg Simon. “A primeira casa, transformada em canil em 2001, já nos enlouquecia, mas tudo piorou quando ela comprou a segunda, no ano passado, a cerca de 100 metros da outra”, diz o chef de cozinha Marcelo Gagliardi, que não faz mais churrascos porque as moscas atraídas pela sujeira de tantos cães logo rodeiam a carne. Outra ameaça vem do acúmulo de ratos. “Encontrei três na caixa de brinquedos dos meus filhos e fiquei horrorizada”, relata a publicitária Karina Canjani, que vive a 10 metros do canil. “Isso virou uma questão urgente de saúde pública.”

Depois de anos tentando diálogo com Regina e cobrando providências das autoridades, a Associação dos Moradores e Proprietários da Fazendinha entrou em dezembro com mais uma representação no Ministério Público de Carapicuíba, município onde a área da Granja Viana está localizada. “Estamos aguardando o resultado da vistoria da prefeitura para dar prosseguimento ao caso”, afirma a promotora de Justiça Fernanda Franco. O canil tem a seu favor a falta de uma lei municipal que limite a quantidade de cachorros por casa ? na capital, por exemplo, ninguém pode ter mais de dez. Se perder a causa, Regina pode ser obrigada a reduzir a quantidade de cães. Mas ela ameaça: “Os incomodados que se mudem. Se meus filhos tiverem de sair daqui, transformo as casas em abrigos para moradores de rua.”

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