Avatar do usuário logado
OLÁ,

Pessoas com deficiência em SP têm opção de moradia independente com serviços 24h

Criado pelo Instituto JNG, projeto incentiva autonomia de jovens PcDs e neurodivergentes

Por Laura Pereira Lima
Atualizado em 17 abr 2025, 11h59 - Publicado em 16 abr 2025, 18h35
moradia-independente-instituto-jng
Juliana, participante do programa, em seu apartamento no Rio de Janeiro (Instituto JNG/Divulgação)
Continua após publicidade

Um projeto carioca de moradia para pessoas com deficiência ou neurodivergentes acaba de desembarcar em São Paulo. A Jornada da Moradia e da Vida Adulta, do Instituto JNG, busca capacitar jovens para morarem sozinhos, oferecendo encontros preparatórios e estrutura de apoio 24 horas para emergências e tarefas do cotidiano.

Apesar de serem mais de 18 milhões de pessoas no país, de acordo com dados do IBGE, os indivíduos com deficiência seguem ignorados pelas políticas públicas, conforme aponta Flávia Poppe, presidente do Instituto JNG e mãe de Nicolas, homem PcD. “Depois do término da escola, esses jovens ficam sem perspectivas para a vida adulta. Não há uma preocupação em garantir independência e autonomia para eles”, explica. 

“A primeira semana foi difícil, mas depois já me acostumei”, conta Juliana Bolshaw, de 30 anos, que tem uma síndrome rara e foi uma das participantes da primeira leva de moradores do Rio, em 2021. O projeto foi uma verdadeira revolução de autonomia: agora Juliana faz compras no supermercado, organiza o quarto, lava a louça – atividades que não fazia quando ainda morava com a mãe.

instituto-jng-moradia-independente
(Instituto JNG/Divulgação)

Mesmo as partes que ela considera como as mais chatas, como cozinhar as marmitas da semana, ficam especiais. “Agora posso escolher o que quero comer, e montar marmitas só com o que eu gosto”, relata Juliana, que conta com o apoio da equipe do prédio tanto para o preparo da comida quanto para a escolha de uma dieta balanceada e econômica. “O que mais gosto de morar sozinha é ter meus próprios horários, sem precisar seguir a rotina dos meus pais”, compartilha. 

Continua após a publicidade
instituto-jng-moradia-autonoma
Alimentação autônoma: Juliana aprendeu a cozinhar após a mudança (Instituto JNG/Divulgação)

Em São Paulo, o Instituto tem três opções de prédios residenciais que abraçaram a causa: um em Pinheiros, um no Paraíso e outro nos Jardins. A localização foi central na definição dos parceiros imobiliários. “São lugares urbanos com comércio, transporte público. É aí que se dá a inclusão”, explica Flávia.

O diferencial da iniciativa carioca é justamente a integração de pessoas com deficiência em apartamentos comuns. Outras iniciativas, como as governamentais, reúnem apenas PcDs nas residências, compactuando ainda com uma exclusão sistêmica. “Eles partem de uma ideia de reclusão, assumem que essas pessoas precisam ser protegidas”, denuncia a presidente do Instituto JNG.

Continua após a publicidade
flavia-poppe-instituto-jng
Flávia Poppe, presidente do Instituto (Instituto JNG/Divulgação)

Outro ponto de destaque é a elaboração de um mapeamento pessoal para cada integrante do projeto. “Avaliamos o tipo e a intensidade de apoio que a pessoa precisa, e mapeamos as potencialidades”, explica Flávia. A avaliação é feita por meio de uma entrevista com mais de 250 perguntas, em que o jovem é convidado a se autodeclarar. A fase preparatória também inclui encontros periódicos com a família e o participante, para trazer consciência sobre o processo de morar sozinho.

“O acompanhamento que fizemos até então foi muito importante. Fez as expectativas se ajustarem, agora o Rafa entende melhor a responsabilidade que é morar sozinho”, testemunha Marta, mãe de Rafael Matravolgyi. O homem de 44 anos já participou da jornada preparatória no ano passado, e agora aguarda a formação do grupo em São Paulo para morar sozinho, um sonho que alimenta desde os 20 anos de idade. “O que mais me empolga no projeto é ter uma vida própria… e quem sabe conseguir uma namorada”, conta Rafael. 

Continua após a publicidade
instituto-jng-moradia-independente
Marta e Rafael: expectativas altas para o projeto (Instituto JNG/Divulgação)

O sonho não é tão distante: a moradia, que geralmente reúne cerca de dez participantes do projeto por prédio, torna-se um lugar de intensa convivência e de formação de laços. Foi na casa em que se mudou que Juliana, inclusive, conheceu seu namorado, também beneficiado pelo projeto. Ela, o namorado e outros moradores organizam festas, noites de pizza e criam uma verdadeira rede de apoio dentro do edifício.

Também para os pais, o benefício é significativo. Um filho com deficiência pode exigir muito tempo e cuidado, e os pais muitas vezes precisam sacrificar outras áreas da vida para se dedicar aos filhos. “É uma liberdade que eu até estranhei. Com a Juju, o ritmo é frenético, é muita demanda. Agora comecei a me dedicar mais ao trabalho, por exemplo”, conta Claudia, professora universitária e mãe de Juliana.

Continua após a publicidade

Ela afirma que a mudança foi boa para a relação mãe e filha.  “Comecei a sair mais com a Juju para ir ao cinema, almoçar fora. Passamos a ter momentos mais prazerosos em vez de só domésticos”, relata. O medo pelo futuro dos filhos quando os pais não estiverem lá também é atenuado pela autonomia incentivada na Jornada da Moradia e da Vida Adulta.

“Acho que o convívio é fundamental para todos. Inclusive para o porteiro, o carteiro, o comerciante da esquina, que vão ter que aprender a ouvir uma voz um pouco mais enrolada, uma fala mais lenta”, finaliza a professora.

O custo mensal no Rio de Janeiro foi de R$ 10 000, que inclui o valor do aluguel e o custo da equipe 24h. “A gente tem a intenção de que isso seja um laboratório, um observatório, para que se torne acessível a todos que precisam no Brasil”, explica Flávia Poppe.

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

A partir de 35,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.