Miriam Lerner diversifica programação do Museu da Casa Brasileira
Em dez anos à frente da instituição, ela viu o público visitante crescer mais de 80%

O engenheiro Jacob Lerner foi um dos grandes empreendedores imobiliários da Pauliceia nos anos 50. Com diversos sócios, de investidores judeus do Bom Retiro a arquitetos italianos e um filho de sírios, ajudou a construir ícones como as galerias do Rock e Nova Barão e o Centro Comercial Bom Retiro. Sua filha, Miriam Lerner, de 59 anos, honra seu legado: ela é o cérebro por trás da nova fase do Museu da Casa Brasileira (MCB), voltado para o design, o mobiliário e a arquitetura.
Sua gestão como diretora-geral foi iniciada em 2007, quando a gerência já era feita por uma organização social, A Casa Museu do Objeto Brasileiro. Desde então até 2017, o número de visitantes saltou de 85 000 para 156 000, um aumento de mais de 80% — que o colocou na lista dos dez mais visitados da cidade, à frente do Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE), no mesmo bairro.
Nessa década, os repasses da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo saíram de 2,3 milhões para 5,7 milhões de reais. Seguiram-se ao incremento esforços na captação direta de recursos, que atingiu 4,43 milhões de reais no ano passado. Além das duas exposições permanentes e das cerca de quinze mostras temporárias por ano, o MCB realiza agora apresentações musicais.

A diversificação do cardápio inclui ainda lançamentos de livros e feiras de design e gastronomia, como a Mercado Manual e a Sabor Nacional. O combo se completa com a locação de um espaço para o disputado restaurante Santinho. A despeito da inexistência de verba para novas aquisições, o acervo cresceu. “Criamos um programa de doações em 2008 que preencheu lacunas, como a de móveis da década de 50”, diz Miriam.
Ao todo, o acervo conta com 506 itens, incluindo um exemplar da poltrona Sand (1989), do paulistano Fulvio Nanni Jr., e uma estante Labirinto (1997), da dupla paulista Irmãos Campana. Os móveis que não estão em exibição encontram-se distribuídos em duas reservas técnicas (só há 66 metros quadrados disponíveis para esse fim na sede, na Avenida Brigadeiro Faria Lima). Tal limitação física remete ao uso inicial do prédio.

A construção, de 1945, inspirada no Palácio Imperial de Petrópolis, serviu de residência ao ex-prefeito Fábio da Silva Prado e sua esposa, Renata Crespi. Com a morte do político, o casarão foi doado à Fundação Padre Anchieta e, depois, cedido em regime de comodato ao Estado.

Miriam conta com a ajuda do arquiteto e designer Giancarlo Latorraca, diretor técnico do espaço. “Trabalhamos em parceria, é uma gestão compartilhada”, explica ela. “O museu está consolidado. Temos força para passar pelas adversidades que aparecerem”, completa. Formada em arquitetura pelo Mackenzie, ela abandonou a carreira para se dedicar a um mestrado em finanças e a uma especialização em gestão no terceiro setor, ambos na Fundação Getulio Vargas (FGV).
“Para trabalhar na área financeira, é preciso ter raciocínio lógico. Essa mesma postura está presente na arquitetura, na habilidade de fazer encaixes”, afirma. Sobre a programação de 2019, faz certo mistério. “Vamos ter o Prêmio de Design MCB, para incentivar a produção contemporânea nessa área. Mas, em relação às exposições, ainda não podemos adiantar a divulgação.”

Enquanto as novidades não vêm, os visitantes podem conferir Experimentando Le Corbusier, em cartaz até 12 de agosto. A mostra explora pontos fundamentais da obra do arquiteto e urbanista francês por meio de trabalhos de artistas, designers e escritórios de arquitetura, como Lucas Simões, Nitsche, Aleph Zero, Irmãos Campana, AR Arquitetura e Triptyque.