Motos elétricas ganham concessionárias na cidade
Número de adeptos desse meio de transporte se multiplica; equipamento pode ser recarregado em tomada comum
Comprar um carro elétrico é moderno e sustentável, mas tem um probleminha: significa desembolsar pelo menos 150 000 reais, no caso de qualquer modelo zero-quilômetro. O custo proibitivo impulsionou uma concorrente mais acessível: as motos recarregáveis, que ganham cada vez mais adeptos na cidade.
O analista programador Pedro de Oliveira, 41, comprou uma delas (um modelo EV1, feito pela marca Voltz) por 9 000 reais em 2019. A fabricante, que é pernambucana, inaugurou em setembro uma loja na Avenida Nove de Julho. Antes da pandemia, ele percorria 40 quilômetros por dia e calcula que teve um acréscimo de 40 reais na conta de energia — o modelo é recarregado em tomadas comuns, como a maioria das opções no mercado. “Agora tenho energia solar em casa, então o custo caiu para quase zero”, ele diz.
O modelo atual da EV1 custa 11 490 reais, tem autonomia de até 100 quilômetros e velocidade máxima de 60 quilômetros por hora. Com carga vazia, demora cinco horas para “encher o tanque”. “O custo é de 2 centavos por quilômetro”, diz Manoel Fonseca, diretor de marketing da Voltz. A empresa, com fábrica em Cabo de Santo Agostinho (PE), iniciou as operações em 2019 e vendeu desde então 4 200 unidades, das quais 540 para a capital paulista.
+Assine a Vejinha a partir de 6,90.
Quem também desembarcou em São Paulo é a australiana Super Soco. Está com uma loja pronta, mas ainda não inaugurada (por causa da pandemia), na Avenida Doutor Cardoso de Melo, na Vila Olímpia. A marca já é vendida pela Energie Mobi desde março de 2020. O modelo de maior sucesso é a TC, parecida com uma motocicleta comum: custa 21 900 reais, tem velocidade máxima de 75 quilômetros por hora e autonomia de 70 quilômetros. Foram 100 unidades da Super Soco comercializadas por aqui.
As motos elétricas precisam ser emplacadas e o condutor deve ter CNH do tipo A, de acordo com o Denatran. A regra vale também para scooters que atingem até 50 quilômetros por hora, mas, neste caso, basta a CNH do tipo ACC.
“Nossas vendas cresceram 40%”, explica Eresíchton Costa, 59, da Ecotrooper. A marca surgiu em 2019 e tem uma loja em Moema e outra pronta no Jardim Anália Franco. A especialidade são scooters como a Beach, que chega a 50 quilômetros por hora com 50 de autonomia, por 13 500 reais. Foram vendidas cerca de 600 unidades desde o surgimento da empresa. “Demora quatro horas na tomada para recarregar. Uso para ir ao trabalho: ida e volta dá 4 quilômetros. Vendi o carro”, diz o empresário Elcio Nogueira, 59, que comprou o modelo.
+Assine a Vejinha a partir de 6,90.
Um ponto de atenção para o cliente é a garantia da bateria. “A peça representa até 45% do valor do veículo”, explica Rui Almeida, vice-presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). A força do motor também precisa ser avaliada. Oliveira, que comprou o modelo de 2019 da Voltz, passa alguns apertos para subir ladeiras: a velocidade cai para até 30 quilômetros por hora. O problema costuma aparecer para proprietários de motos com motor na casa dos 2 000 watts. O modelo 2021 da mesma motoca teve um upgrade para 3 000 watts.
Por último, na comparação com o carro elétrico, a recarga da moto é mais ágil. A maior parte pode ser carregada na tomada em menos de dez horas. Alguns possantes de quatro rodas podem levar o dobro — mas a autonomia passa dos 240 quilômetros. “No carro, a recarga é um inconveniente. Todo mundo acaba comprando carregadores rápidos extras”, diz Raphael Pintão, 39, da NeoCharge, empresa que instala pontos de recarga domésticos que diminuem o tempo para cerca de oito horas, a depender do modelo.
Os carros ainda estão à frente das motos na disputa comercial. Em 2020, foram 19 000 modelos elétricos vendidos no Brasil. A frota nacional é de quase 45 000 veículos (8 100 deles paulistanos), segundo a consultoria Carcon Automotive. De acordo com a ABVE, até junho de 2020 foram 1 087 scooters comercializadas no país: na estimativa da associação, o número quadruplicou ao longo do segundo semestre do ano passado.
+Assine a Vejinha a partir de 6,90.
Publicado em VEJA São Paulo de 31 de março de 2021, edição nº 2731