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OLÁ,

Mensageiros da desgraça

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h46 - Publicado em 18 set 2009, 20h17

Tem gente que adora dar má notícia. Se possível, deixar o outro em estado de choque. O exemplo clássico é a tia que telefona de outra cidade no início da madrugada:

– Sua mãe não está passando bem. Se acontecer alguma coisa eu ligo.

Quem ouve fica sem ação. Arranca os cabelos. Passa a noite acordado. De manhã, quando pede notícias, a tia está dormindo. Atende, bocejando:

– Ah, não liguei porque foi alarme falso!

No trabalho, isso é supercomum. Já me aconteceu de, em plena sexta-feira, na saída, um colega se aproximar:

– Ouvi um comentário na direção. Parece que tem uma complicação com você.

– O quê? – rugi.

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– Espere até segunda. Você deve ser chamado para conversar.

Passei o fim de semana com a cabeça fervendo. Na segunda, aguardei o telefonema fatídico. No fim, era apenas um pedido banal para antecipar um texto. Um amigo ouviu de outro:

– Soube de umas coisas bem pesadas de sua namorada.

– Fala!

– Não sou fofoqueiro. Pergunte a ela. Mas é bom terem uma conversa séria.

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Pode ser suficiente para destruir um relacionamento!

Às vezes a notícia é real. Mas dada no momento errado. Como contar na véspera de um feriado:

– Fiquei sabendo que você não foi aprovado naquele teste. Resolvi dizer para você não ficar com esperanças!

Como se fosse melhor passar o feriado cercado por nuvens negras! Médicos, até por necessidade da profissão, não são fáceis:

– Doutor, qual o resultado do exame? É coisa séria?

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– Passe aqui para conversarmos.

Por praxe, médico nunca dá resultado importante ao telefone. Mas o paciente quase enlouquece de ansiedade!

Há exemplos mais graves. A sinceridade muitas vezes esconde o desejo de ser cruel. Conheci uma garota inconformada porque uma amiga da família abriu seus olhos:

– Você é adotada!

Pronto! O castelo familiar da menina desmoronou. Sentiu-se traída, inclusive por seus pais! Ou o caso da falsa solidariedade:

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– Todo mundo está tentando esconder, mas a sua doença é gravíssima!

Há quem seja capaz de dar a má notícia de forma religiosa:

– Reze muito para sua irmã cair em si. Ela anda traindo o marido!

Minha mãe desmaiou quando, há anos, atendeu o telefonema de um primo. Ele disparou:

– Sua irmã caçula teve um infarto e morreu.

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Mais tarde, quando foi censurado pela falta de diplomacia, ele se defendeu:

– Foi bom ela saber de uma vez!

Meu cotidiano é crivado de pequenas crueldades. Ultimamente, ouço quase todos os dias:

– Ih… acho que você está engordando de novo!

E a frase é acompanhada de um sorriso!

Uma quarentona se separou. Passou o mês seguinte ouvindo a mesma notícia de várias amigas:

– Seu ex está namorando uma garota vinte anos mais nova!

Já trabalhei com uma pessoa que só sabia falar negativamente a respeito de tudo. Certa vez, explodi:

– Você só sabe dizer por que as coisas não dão certo. Agora me diga como fazer para tudo funcionar!

Pior que tudo aconteceu com um amigo famoso. Estava no teatro. Outro amigo, ao seu lado, perguntou:

– Você viu que coisa escandalosa saiu de você na internet?

O astro empalideceu:

– Não vi! O que foi?

E o outro respondeu:

– Shhhhhhhh… a peça vai começar. Depois eu conto!

Cravou os olhos no palco, enquanto o famoso se contorcia de apreensão.

Muitos reis da Antiguidade mandavam decapitar o mensageiro que trazia más notícias. Um exército derrotado, uma rebelião vitoriosa e adeus, portador! Não vivemos mais nesses tempos, ainda bem! Má notícia tem hora e jeito de ser dada. Mas nunca falta quem se delicie ao anunciar uma tragédia!

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