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Menos gente

Viajo para o Rio de Janeiro com frequência. No Aeroporto de Congonhas, costumo fazer meu check-in no terminal eletrônico. Digito o código, escolho o assento e pronto! Um amigo é mais prático: faz tudo pela internet, de sua casa. Embarca diretamente. Só quem tem bagagem para despachar precisa do operador humano. Quando uso mala, pego […]

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h46 - Publicado em 18 set 2009, 20h17
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  • Viajo para o Rio de Janeiro com frequência. No Aeroporto de Congonhas, costumo fazer meu check-in no terminal eletrônico. Digito o código, escolho o assento e pronto! Um amigo é mais prático: faz tudo pela internet, de sua casa. Embarca diretamente. Só quem tem bagagem para despachar precisa do operador humano. Quando uso mala, pego na esteira na volta. Ao sair, ninguém confere. Até algum tempo atrás, um funcionário examinava as etiquetas.

    É incrível o número de atividades que exigem cada vez menos seres humanos. Ainda me lembro – mas os mais novos nem ouviram falar – do ascensorista do antigo Mappin, no centro da cidade. Em um andar, recitava: “Geladeiras, fogões…”. Em outro: “Roupas de cama, mesa e banho…”. Sempre em uma mesma toada. Tornou-se uma figura popular. Inspirou até comercial de televisão. Hoje, a tendência da profissão é ser extinta.

    Acompanhei a mudança tecnológica na imprensa. Há quase vinte anos dirigi uma revista. As capas e páginas eram montadas artesanalmente. Havia uma profissão: o paste-up. Seu trabalho era recortar títulos e fotos e aplicá-los com precisão milimétrica sobre a arte da capa e das páginas. Era um trabalho quase artesanal. Na época, as editoras investiram pesadamente em informática. Alguns paste-ups receberam treinamento para realizar a tarefa em computadores. Os outros perderam o emprego. Já não se precisava de tantos profissionais, graças à agilidade dos programas eletrônicos. Tentei ajudar um deles. Casado e com filho, após meses batendo à porta das editoras, descobriu que não havia mais espaço para ele. Só conseguiu emprego como porteiro de prédio – e isso porque pedi ao dono de uma administradora, meu amigo. Mas até porteiros correm risco: muitos prédios preferem os eletrônicos. A tendência é que os aparelhos evoluam e se tornem mais eficientes. E então…

    E-mails substituem cartas. É desnecessário ir até o correio, comprar selo, colar. Depois deixar a carta para ser separada manualmente. Antes, quando eu escrevia um texto, o mensageiro vinha buscar. Hoje, despacho com um clique. No instante em que a assinatura digital eletrônica substituir a manual com eficiência, as idas e vindas de motoboys vão se reduzir drasticamente. Já é possível comprar quase tudo de casa, pela telinha. Sem necessidade de um vendedor. Nas minhas loucuras culinárias, comprei uma máquina caseira de fazer pão. Funciona perfeitamente, com a vantagem de tê-lo quentinho quando se quer. O padeiro, o rapaz do balcão e a mocinha do caixa são substituídos por dez minutos de trabalho – o tempo necessário para atirar os ingredientes na máquina. Menos do que para ir à padaria! Não é comum fazer pão em casa. Até quando? Minha mãe tricotava lindas blusas de lã. Tenho três até hoje. Em seus últimos tempos, as encomendas eram raras. Tive uma tia costureira. Mas quase não se encontram mais aquelas antigas costureiras que faziam qualquer modelo. Venceu o prêt-à-porter!

    Máquinas trabalham com eficiência em um número de áreas cada vez maior. Sou apaixonado pela evolução tecnológica. Mas eu me pergunto: para onde estão indo todas essas pessoas cujos empregos desaparecem? Para quem o trabalho de uma vida toda vira pó? E as que estão chegando ao mercado, serão absorvidas, em um país tão populoso como o nosso? Sinto angústia. Será que estou maluco? Enxergando mal? Parece que o mundo precisa de menos gente. O que vai acontecer com tanta gente que precisa deste mundo?

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