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OLÁ,

Mendigos migram do centro para outros bairros

Não é apenas no centro que moradores de rua dominam a paisagem. O fechamento de dois albergues pela prefeitura é uma das razões apontadas para este comportamento

Por Henrique Skujis
Atualizado em 5 dez 2016, 19h04 - Publicado em 30 nov 2009, 11h40
mendigo na rua Joaquim Floriano
mendigo na rua Joaquim Floriano (Mario Rodrigues/)
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Um dos principais cartões-postais da cidade, o vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), com seus 2 100 metros quadrados de área, merecia um uso menos degradante. Quando não há evento por ali, basta o sol começar a se pôr para seu chão de paralelepípedos ser tomado por moradores de rua em busca de um lugar para dormir. Faz algum tempo que não só as calçadas do centro são tomadas por sem-teto. Nos últimos meses, no entanto, a situação parece ter se agravado, e essa mancha na paisagem se espalha por diversos bairros. ‘Tem cada vez mais gente dormindo nas nossas calçadas’, lamenta Marli Lemos, diretora da Associação Paulista Viva. Representantes de seis associações de moradores ouvidas por VEJA SÃO PAULO apontaram em quais pontos há maior concentração de sem-teto em suas regiões. A última pesquisa sobre esse universo, feita pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em 2003, calculou 10 400 pessoas vivendo nas ruas da capital. Estimativas da prefeitura mostram que esse número hoje supera os 12 000. Já movimentos dos próprios moradores de rua falam em 20 000 pessoas, que passam o dia perambulando pela cidade, algumas vezes por opção, mas, na maioria dos casos, por absoluta falta dela. Até o fim do ano, um novo estudo da Fipe pretende dar cifras mais fiéis à atual realidade. ‘Ainda não podemos falar com certeza, mas o senso comum realmente indica que esse número aumentou’, diz a economista Silvia Maria Schor, coordenadora da pesquisa.

Para o vereador Floriano Pesaro (PSDB), ex-secretário da Assistência e Desenvolvimento Social, o fechamento de dois albergues localizados na região central é a principal explicação para essa percepção de crescimento. No ano passado, antes da posse da atual secretária, a viceprefeita Alda Marco Antonio, o Albergue Cirineu, na Rua Santo Amaro, com capacidade para 180 pessoas, cerrou as portas. Em abril, já na atual gestão, foi a vez de o São Francisco, no Glicério, com 420 vagas, acabar. Para o início do próximo ano, está previsto o término das atividades do Pedroso, que fica sob o viaduto de mesmo nome, na Liberdade, e conta com 380 lugares.’Para onde vai toda essa população?’, questiona Pesaro. “O problema só será resolvido com uma política de inclusão social que englobe frentes de trabalho.” A prefeitura, que gastou quase 70 milhões de reais neste ano com moradores de rua, responde que o fechamento dos centros de acolhida (nome politicamente correto para albergue) se deu por causa das condições insalubres dos locais -ficavam debaixo de viadutos, com pé-direito baixo e ambiente úmido. A administração municipal também garante que o número de leitos não caiu. ‘A cidade continua com 9 387 vagas para pernoite em quarenta albergues’, afirma Angela Eliana de Marcchi, coordenadora- geral de assistência social da

prefeitura. ‘Aumentamos a capacidade de outros albergues, como o Boracéa, na Barra Funda, e o Nova Vida, na Bela Vista.’ Moradores de rua ouvidos pela reportagem dizem que a transferência da maioria das vagas se deu para a periferia e ficou difícil encontrar um lugar no centro. ‘Querem levar a gente para muito longe, como São Mateus e Ermelino Matarazzo’, queixa-se o sergipano José Carlos dos Santos, de 52 anos, que há trinta veio para São Paulo e há dois está sem ter onde morar. ‘Para lá, eu não vou. No dia seguinte eles não me trazem de volta e eu preciso gastar dinheiro de ônibus. Prefiro dormir na rua.’ Coordenador do Movimento da População em Situação de Rua, o ex-sem-teto Róbson Mendonça queixa-se de que nunca esteve tão difícil conseguir albergues para as pessoas que o procuram. ‘Eu desafio a prefeitura a provar que arruma vagas’, diz Róbson.

 

 

A administração municipal nega a intenção de enviar os moradores para outros bairros. ‘Se pensássemos assim, não estaríamos procurando um imóvel na região para realocar as vagas que se fecharão com o fim do Centro de Acolhida Pedroso’, afirma Angela de Marcchi. Além da extinção de albergues, a insegurança e a ação da prefeitura na área da Luz estariam repelindo os sem-teto da região central. ‘A presença maior da Polícia Militar dá a eles uma sensação de conforto que os atrai para cá’, diz Rafael Beraldo, coordenador da Paulista Viva. ‘A prefeitura deveria ter estudado melhor qual seria o destino dessas pessoas antes de expulsá-las da Cracolândia’, critica o comerciante Fuad Sallum, presidente da Associação de Moradores e Comerciantes de Higienópolis. Ao mesmo tempo em que fecha albergues no centro, a prefeitura aposta em espaços de convivência abertos apenas das 8 às 20 horas. Em julho, quando inaugurou a unidade do Parque Dom Pedro – a única existente até o momento -, Alda MarcoAntonio, que na semana passada estava em Estocolmo, na Suécia, conhecendo um projeto de ônibus movidos a etanol, ressaltou que o local, apelidado de tenda, seria um meio-termo entre a rua e um albergue. Há sanitários químicos e são distribuídos toalha, sabonete e xampu a quem quiser tomar banho. Assistentes sociais e agentes médicos ficam à disposição. Por volta do meio-dia, a televisão é ligada e às 14 horas um filme é exibido. ‘Escolhemos DVDs com alguma mensagem’, explica Ana Paula Santos, assistente social do projeto. O pernoite não é permitido e não são servidas refeições. Quando a noite cai, chova ou não, os 250 usuários que passam por lá diariamente voltam para a rua em busca de uma calçada para dormir.

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ALÉM DO CENTRO

Alguns dos pontos tomados por sem-teto, segundo seis associações de moradores ouvidas por VEJA SÃO PAULO

Paulista

■ Vão livre do Masp

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■ Acesso à Avenida Rebouças Jardins

■ Rua Pamplona, na altura da Rua Estados Unidos

■ Rua Oscar Freire com Rua Ministro Rocha Azevedo

■ Rua Augusta com Alameda Itu

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■ Alameda Santos com Rua da Consolação

■ Rua Padre João Manuel, entre as alamedas Santos e Jaú

■ Rua Peixoto Gomide

■ Parque Trianon Itaim

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■ Rua Jesuíno Arruda com Rua Renato Paes de Barros

■ Rua Clodomiro Amazonas com Rua Doutor Alceu de Campos Rodrigues

■ Rua Leopoldo Couto Magalhães Júnior com Rua João Cachoeira

■ Rua Joaquim Floriano Vila Nova Conceição

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■ Rua Afonso Brás com Rua Escobar Ortiz

■ Praça Pereira Coutinho com Rua Brás Cardoso Pacaembu

■ Minhocão com Avenida Pacaembu

■ Praça Wendell Wilkie Higienópolis

■ Rua Dona Antônia de Queirós com Rua da Consolação

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