Incapaz de competir com o futebol ou a política em termos de polêmica, a análise linguística ainda assim tem uma velha controvérsia: as prescrições gramaticais constituem leis invioláveis ou tudo pode, já que o importante é se comunicar? Sem tomar partido radical da correção absoluta nem do relativismo completo, Menas: o Certo do Errado, o Errado do Certo faz uma reflexão interessante em torno do nosso idioma.
Logo ao chegar à exposição em cartaz no Museu da Língua Portuguesa, o visitante depara com um pequeno caos. Palavras impressas em lâminas transparentes seguem uma disposição confusa. Ao olhá-las por buracos estrategicamente posicionados, o espectador encontra dez frases ordenadas. Entre elas, “O erro de hoje pode ser o acerto de amanhã” e “Se alguém usou uma palavra, ela existe”. Uma boa maneira de propor que o português é algo dinâmico, sujeito ao tempo e à criatividade dos seus falantes. Na sequência, sobressai uma parede com 100 painéis, todos repletos de desvios da norma culta e explicações sobre o porquê de serem considerados equivocados (“A viúva do falecido está aí fora”, por exemplo, caso de pleonasmo vicioso). Ao lado, nove computadores trazem o clássico jogo do certo e errado, com uma diferença básica: todas as alternativas são possíveis. No fim do percurso, encontra-se uma antologia de frases involuntariamente engraçadas — “Temos milk sheyk”, “Vendesse melancia” e a sugestiva “Herrar é umano”. Vídeos e depoimentos em áudio de nomes como o artista plástico Nuno Ramos e o escritor Paulo Lins completam a mostra, que teve a curadoria dos professores Ataliba T. de Castilho e Eduardo Calbucci.
Menas: o Certo do Errado, o Errado do Certo. Museu da Língua Portuguesa. Praça da Luz, s/nº (Estação da Luz), Tel.:(11) 3326-0775, Luz. Terça a domingo e feriados, 10h às 18h. R$ 6,00. A bilheteria fecha uma hora antes. Grátis aos sábados. Até 30 de junho.
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