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Ex-executiva acusada de trabalho escravo diz que situação foi forjada

Mariah Corazza diz que ajudou Neide Pereira da Silva como pôde e que a idosa pode estar sendo manipulada

Por Redação VEJA São Paulo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 26 jul 2020, 11h50 - Publicado em 26 jul 2020, 11h49
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  • Mariah Corazza, de 29 anos, foi acusada de manter Neide Pereira da Silva, de 61 anos, em condição análoga à escravidão em uma casa em Alto de Pinheiros, na Zona Oeste da capital. O caso foi revelado em 25 de junho, quando o Ministério Público do Trabalho (MPT) entrou no sobrado e tirou a idosa de lá.

    A patroa, uma ex-executiva da Avon que ganhava salário de R$ 10 000, foi demitida pela corporação. Em entrevista à Folha de S. Paulo, ela negou as acusações, disse que Neide só cuidava dos cachorros e que tentou ajudá-la como pôde.

    Neide começou a trabalhar para Sônia Corazza, mãe de Mariah, em 1998. Em 2011, a casa em que a trabalhadora morava desabou e ela foi morar na residência da mãe da patroa, na mesma rua. Neide se mudou anos depois para Cotia, mas ficou sem teto outra vez. A partir daí, foi morar na casa de Mariah para quem, alega, começou a trabalhar. De acordo com Neide, ela recebia um ‘salário’ de R$ 300 que mal dava para comer.

    Ela ocupava um quarto pequeno que servia como depósito. Em seu depoimento, Neide disse que nem suco os patrões ofereciam a ela e que tomava banho de canequinha porque o chuveiro não tinha água quente. Afirmou ainda que, depois que a pandemia chegou à cidade, foi impedida de entrar na casa principal para ir ao banheiro e “que urinava em um balde” e depois “jogava no ralo que ficava no fundo do jardim”.

    Mariah agora responde a um inquérito criminal e a um processo trabalhista (a multa pode passar de R$ 1 milhão). Na entrevista, ela disse que em 2012, quando Neide ficou desabrigada, a avó dela ofereceu a própria casa, que estava vazia, para ela morar temporariamente. Segundo ela, Neide ficou no imóvel de 2012 a 2017. “A minha avó nunca cobrou um centavo de aluguel, nada. Porque gostava muito dela e realmente queria ajudá-la.”

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    Em 2016, Neide passou a morar na casa de Mariah, no imóvel deixado pela mãe dela porque a outra casa foi vendida. Segundo Mariah, ela pagava R$ 400,00 para que Neide cuidasse dos seus cachorros. “Até onde eu sei, esse valor está dentro do razoável”, disse. Os serviços domésticos eram feitos de forma voluntária. “Sabe aquela coisa? Ela tá passando [na cozinha], viu que tinha uma louça, acabou lavando. Mas foi voluntário. Nunca foi pedido nada para ela. Eu achava que era assim: poxa, já que eu estava ajudando ela, deixando ela morar lá, ela fez para me agradecer. Eu nunca pedi que fizesse. A única coisa que eu pedi foi para ela passear, cuidar dos cachorros, [serviço] pelo qual eu pagava.”

    “O que eu sei é que tudo foi fruto de uma denúncia anônima e que tem uma situação mentirosa aí. No meu depoimento [às autoridades], eu conto que um dia a Neide chegou machucada em casa. Eu e meu marido perguntamos o que houve e ela não quis contar. Eu não sei se tem alguém agredindo ela. Tem uma situação forjada aí, talvez visando um ganho financeiro. Não sei.” Segundo Neide, ela se machucou porque caiu de uma escada no quintal da casa e que Mariah e o marido não a ajudaram.

    Mariah disse também que a ajudou dentro de suas possibilidades. “Diferentemente do que está escrito na mídia, eu não era uma alta executiva [da Avon]. Eu estava do começo para o meio da minha carreira. Eu até tentei ajudar a encontrar um irmão dela, mas não tive sucesso. Procurei ajuda jurídica na Avon para tentar conseguir o benefício da Loas [Lei Orgânica da Assistência Social] para ela, e não deu certo. Eu ajudei dentro das minhas possibilidades.”

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    Agora, Mariah se preocupa com o futuro. “Primeiro, preciso mudar a minha imagem. Se eu fizer um processo seletivo, ninguém vai me contratar. Se abrir empresa, ninguém vai comprar meu produto. Eu, sinceramente, não sei [o que vai acontecer daqui para a frente].”

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