Passeios por “uma São Paulo meio desconhecida, quase escondida, meio misteriosa”. É assim que o arquiteto Marcio Mazza define os seus Arq!Tours, roteiros temáticos que organiza pela cidade. Em um ano e meio, 1?000 paulistanos já toparam a proposta, navegaram o Rio Tietê e visitaram lugares como um farol construído em 1942 no Morro do Jaguaré. “Minha intenção é mostrar cantos da cidade que estão escondidos e, no dia a dia, o cidadão não identifica”, explica Mazza. Sua mais recente excursão reuniu 43 pessoas para conhecer edifícios erguidos em Higienópolis e no centro pelo arquiteto Artacho Jurado. Autodidata, Jurado desafiou a estética da década de 50 e construiu prédios coloridos e assimétricos. Na época, chegou a ser chamado de “Gaudí dos arrabaldes” por seus detratores. Embora seus edifícios ainda criem polêmica – “São breguinhas”, acha Mazza –, Jurado acabou ganhando seguidores. “É tanta mistura de cores e materiais, tanta coisa feia junto, que acaba ficando bonito”, diz Ruy Debs, autor do livro Artacho Jurado – Arquitetura Proibida. Em quase todos os oito prédios de Jurado visitados, entre eles o Louvre, no número 192 da Avenida São Luís, há filas de espera de pessoas interessadas em alugar ou comprar um apartamento.
Eleito na semana passada vice-presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura e responsável pelas ações da entidade em São Paulo, Mazza coleciona miniaturas de grandes projetos, como o do Museu Pompidou, na França, ou o do Empire State, nos Estados Unidos. Também guarda selos com imagens de ícones arquitetônicos brasileiros. Na última edição da Casa Office, foi convidado a montar o consultório de um pediatra, mas se negou. “Disse que só participaria se pudesse fazer a sala de um tarado por arquitetura”, lembra. Os organizadores do evento aceitaram, e o projeto de Mazza – um escritório com a planta de São Paulo estampada no teto e poltronas giratórias em formato de Coliseu – ganhou o prêmio de o ambiente mais criativo. Certa vez, desenhou e mandou fazer um brinco no formato do Museu Guggenheim de Nova York para dar a uma namorada. O presente agradou tanto que ele repetiu a ideia com outras duas mulheres. “Parei quando elas começaram a se encontrar e descobriram que o presente não era exclusivo”, conta.
Nascido há 58 anos na Mooca, Mazza sempre gostou de zanzar pela cidade em busca de lugares pitorescos. Enquanto circulava pela Marginal Pinheiros, por exemplo, viu uma torre no alto de um morro. Resolveu dirigir por ruas sinuosas até lá e descobriu o Farol do Jaguaré, estrutura erguida pelo agrônomo Henrique Dumont Villares. “Ele achava que, no futuro, o rio teria um tráfego intenso de barcos e o farol ajudaria na navegação”, conta Mazza. Entre os projetos futuros dos Arq!Tours estão um roteiro pelos subterrâneos de São Paulo, que deve passar pelos porões do Teatro Municipal e do Museu do Ipiranga, e outro por obras do artista plástico Julio Guerra, autor da estátua de Borba Gato, em Santo Amaro. Para participar das visitas é preciso se cadastrar no site https://www.arqbacana.com.br. Os preços variam de acordo com o passeio. Alguns são grátis e outros chegam a custar 70 reais.
Alguns dos passeios de Mazza
“São feias, mas fazem parte da cidade. Além da estátua de Borba Gato, o roteiro leva a outras obras de Julio Guerra espalhadas por Santo Amaro”
“O Farol do Jaguaré foi construído em 1942 para servir de guia a quem navegasse o Rio Pinheiros, o que nunca ocorreu. Do alto, tem-se vista panorâmica da Zona Oeste”
“Navegar pelo Rio Tietê nos faz ver a cidade por um outro ângulo. A ideia é sensibilizar os participantes quanto às precárias condições de navegabilidade e, ao mesmo tempo, mostrar que ainda dá tempo de salvá-lo”