O ótimo momento vivido pela pintura no Brasil, algo notável na exposição coletiva “Os Dez Primeiros Anos”, do Instituto Tomie Ohtake, segue rendendo frutos. Duas mostras em cartaz a partir de quinta (8) na Galeria Virgílio reforçam os argumentos a favor dos pincéis. Próximo dos artistas da geração recente de talentos, a exemplo de Rodrigo Bivar, Marina Rheingantz e Bruno Dunley, o paulista Marcelo Comparini, de 31 anos, apresenta trinta óleos em “Pega e Anuncia”. Ao criar com base em imagens preexistentes, recolhidas de maneira aleatória em buscas na internet ou extraídas da memória, como pesadelos ou objetos de infância, Comparini alcança resultados curiosos. São pintadas por ele coisas díspares, de brinquedos a instrumentos musicais, passando por utensílios domésticos e até uma torre de controle de aeroporto. Vale observar os fundos monocromáticos, sempre em tons inspirados.
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Nascida em Campo Grande, Deborah Paiva, de 61 anos, atua numa chave mais melancólica nas oito telas de grande porte exibidas em “Um Mundo Dentro do Nada”. Nelas aparecem personagens de costas para o espectador e olhando para um horizonte vago, em situações tristes e que ressoam solidão. Impossível não associar o universo temático de Deborah ao do americano Edward Hopper (1882-1967), conhecido justamente por retratar figuras pesarosas e desiludidas, embora a brasileira mantenha uma personalidade própria — experiente, ela já participou da tradicional “Panorama da Arte Brasileira”, do MAM. Hopper chega a ser aludido no título de um trabalho. Aos rostos escondidos, soma-se o clima desconsolado da paleta utilizada, repleta de tons delicados de azul, lilás e cinza.