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OLÁ,

Manobristas se arriscam para conseguir clientes

Eles disputam veículos e infernizam o trânsito no acesso à casa de shows HSBC Brasil, em Santo Amaro

Por Fabio Brisolla
Atualizado em 5 dez 2016, 19h30 - Publicado em 18 set 2009, 20h28

Sempre que algum carro chega à esquina da Marginal Pinheiros com a Rua Luís Seraphico Júnior, a 100 metros da casa de espetáculos HSBC Brasil, em Santo Amaro, o manobrista bloqueia a passagem do veículo e grita: “Pode parar aqui, senhor! São 20 reais!”. Se o motorista diminui a velocidade, o empenho aumenta. “Vamos deixar o seu carro em um estacionamento fechado. Lá na casa é mais caro.” No último dia 7, data da apresentação da cantora de axé Claudia Leitte, houve uma repetição da bandalheira recorrente em dias de shows ou eventos privados. Em noites concorridas, aproximadamente sessenta manobristas de sete empresas de valet atendem a quase 1 000 carros. Faturam o equivalente a 20 000 reais. Todas cobram o mesmo valor que a Hot Valet, contratada pelo HSBC, e adotam um procedimento-padrão: dois “ponteiros” de cada grupo ficam à espreita do primeiro desavisado que vier da Marginal. Ao fisgarem um cliente, os sujeitos indicam o trecho da rua onde sua equipe fica concentrada. Além de correrem perigo ao se postar no meio de uma via movimentada, os manobristas criam situações de risco para os motoristas, que brecam subitamente ao deparar com a aglomeração.

Atualmente, segundo estimativa da Associação das Empresas de Valet do Estado de São Paulo (Aevesp), 600 empresas atuam nas ruas da capital, mobilizando 20 000 manobristas para atender a 3 milhões de veículos por mês. Na disputa entre os tais ponteiros, quem aborda o carro primeiro leva vantagem. “Às vezes, sai briga entre os funcionários”, admite Carlos Batista, proprietário do valet Dell Park. Para convencerem os motoristas, eles dizem que ali não há espera na hora de ir embora. De acordo com a assessoria do HSBC, a empresa contratada para esse trabalho reúne até oitenta manobristas e dois estacionamentos que somam 800 vagas. Isso parece não ser suficiente. Após os shows, os clientes que usam o valet da casa chegam a aguardar trinta minutos pela entrega do automóvel.

Ao abordar os motoristas, Batista promete guardar os veículos em um estacionamento fechado. Não é bem assim. No último dia 7, Veja São Paulo acompanhou os manobristas da Dell Park e constatou que eles deixaram carros na Rua Castro Verde, paralela à Luís Seraphico Júnior. “A Subprefeitura de Santo Amaro deveria fiscalizar a documentação dessas empresas”, afirma Syrius Lotti Júnior, diretor jurídico da Aevesp. O subprefeito Geraldo Mantovani Filho promete endurecer a fiscalização até o fim do ano. “Faremos operações envolvendo também a CET e a Polícia Militar.” Para o advogado Cyro Vidal, presidente da Comissão sobre Direito de Trânsito da OAB-SP, a atuação da CET poderia impedir que os carros parassem no meio da rua. “Se o motorista percebe que pode ser multado, não vai esperar para ouvir a proposta do manobrista.” No dia 8 de agosto, a professora de inglês Ana Prieto comprou o ingresso para o espetáculo do cantor Ney Matogrosso e deixou o carro em um valet alternativo. Dias depois, recebeu a multa por dirigir sem cinto de segurança na esquina das ruas Bragança Paulista e Luís Seraphico Júnior, onde fica o HSBC Brasil. Ana resolveu ligar para o responsável pela empresa. “Ele disse para eu me virar, que o problema era meu”, conta. A professora pagou 127 reais de multa.

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