Quando aceitou o convite de um amigo para embarcar na caravana de Itapecerica da Serra que iria participar da plateia do Programa do Jô, em dezembro do ano passado, o vendedor Renato Oliveira, de 22 anos, não sabia que sairia de lá como uma espécie de celebridade da internet. Muito menos que seu minuto de fama lhe renderia algum protagonismo político nas manifestações anti-Dilma marcadas para o domingo (15). Mas foi o que ocorreu.
Oliveira ganhou seus atuais 11 238 seguidores no Facebook após entrar em uma discussão com Jô Soares durante a gravação do programa. Enquanto o apresentador e suas convidadas comentavam a declaração desastrosa do deputado federal Jair Bolsonaro sobre a colega parlamentar Maria do Rosário, ele gritou “Viva Bolsonaro” e acabou repreendido por Jô. O episódio poderia ter sido cortado na edição, mas foi ao ar e a repercussão rodou a internet.
Criado no Capão Redondo, bairro pobre da Zona Sul da capital, e filho de empregada doméstica, Renato Oliveira nasceu no Piauí e veio para São Paulo com 2 anos de idade. Começou a faculdade de filosofia no Centro Universitário Uniítalo, mas não terminou. “Contrariando as estatísticas, não sou de esquerda e também não sou coxinha nem burguês. Moro na periferia até hoje e espero sair um dia”, diz. Oliveira agora é conhecido como o Menino do Jô e virou um militante da direita, com inúmeros posts por dia em sua página do Facebook contra o PT e a presidente Dilma Rousseff.
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Em um deles, convoca os seguidores para um dos protestos pró-impeachment do dia 15, em Manaus, com uma imagem que diz: “A terra do boi bumbá precisa ajudar a vaca a cair para libertar o Brasil”. Ele não considera xingamentos do tipo como uma grosseria. “O povo se manifesta da maneira que achar que deve. Não tem como oferecer flores para a Dilma”. Com o know-how adquirido na militância online, Oliveira fará uma espécie de presença vip no protesto da capital do Amazonas. Garante que não ganha nada com isso, mas terá passagem e hospedagem pagas por amigos locais.
Gay de direita
Outro paulistano que engrossará o caldo anti-Dilma no domingo em São Paulo será o engenheiro Clóvis Junior. Seu codinome no Facebook é Smith Hays e, logo na descrição da página, avisa: “Um gay de direita”.
Nas postagens, Junior critica o movimento LGBT, o feminismo e até as leis que criminalizam a homofobia e o feminicídio, além de usar termos como “petralha” e “esquerdopata”. Não gosta de Jean Wyllys – deputado federal assumidamente gay, que defende a bandeira dos direitos dos homossexuais -, e é outro fã de Jair Bolsonaro. “Minhas ideias batem 95% com as dele. Só porque ele falou uma coisa ou outra que não concordo, vou deixar de gostar?”.
Sem impeachment
Hoje com mais de 1 milhão de pessoas confirmadas em diversos eventos no Facebook, o protesto do dia 15 começou a ser organizado por meio de uma mensagem apócrifa no WhatsApp que, até hoje, ninguém sabe dizer de onde veio ou quem começou. Mas, diferente dos boatos espalhados pela mesma rede na época das eleições, a convocação pegou. Simpatizantes “avulsos” – como Junior e Oliveira – e diversos grupos anti-Dilma começaram a se mobilizar em torno da data.
Um dos mais articulados é o Vem pra Rua, liderado por Rogério Chequer, sócio de uma consultoria especializada em criar apresentações (em PowerPoint e outros meios) para empresas. Ele diz que começou a se envolver com política no período pré-eleitoral do ano passado, quando viu que “a indignação do povo não se refletia nas pesquisas e as projeções dos resultados eleitorais”.
Hoje, o Vem pra Rua tem cerca de 450 participantes em todo o país, um número institucional de WhatsApp (para receber e distribuir mensagens) e assessoria de imprensa. “Contamos com a contribuição voluntária dos membros do movimento. Somos suprapartidários”, diz Chequer, que fez campanha para Aécio Neves (PSDB) nas eleições de 2014. Diferente do que prega a maioria dos eventos criados pelo Facebook para o dia 15, o Vem pra Rua não é a favor do impeachment de Dilma Rousseff. “Acreditamos que, por enquanto, não há tese jurídica para isso. Mas a mobilização do povo pedindo o impeachment é válida, é uma forma de dar um basta”.
Com impeachment
Outro grupo na linha de frente é o Movimento Brasil Livre – eles, sim, querem o impeachment como resultado das manifestações do dia 15. “Ao contrário do que as pessoas pensam, nosso movimento não é de elite. Recebemos doações de 30, 50, 100 reais para fechar o mês em cerca de 5 000 reais”, conta o empresário Renan Santos, dono de uma startup de mídia digital.
Com o dinheiro coletado dos simpatizantes, Santos imprime cartazes contra a presidente – foram 5 000 só nesta semana – e espalha por diferentes regiões de São Paulo. Também produz vídeos “de alerta” para circular no WhatsApp. “Você só precisa mandar a mensagem para três ou quatro grupos. Se viralizar, esse texto ou vídeo volta para você em quinze minutos, enviado por outras pessoas”.
Uma das antipetistas mais engajadas nas redes sociais é a também empresária Dani Schwery. Apesar de ter se candidatado a vereadora pelo PSDB em 2012, ela critica o “uso eleitoral” dos movimentos. “Tem gente que participa desses grupos apenas como trampolim político”.