Há dois anos, o diretor Aderbal Freire-Filho idealizou um Hamlet calculado para o brilho do ator Wagner Moura. A montagem fez sucesso de público e consagrou no palco o astro do filme Tropa de Elite. Sem esfriar a intimidade com William Shakespeare, Freire-Filho investe em outra obra-prima, Macbeth. Escrita em 1606, a tragédia ganha leitura dinâmica e menos personalizada, inclusive na caracterização dos protagonistas, Daniel Dantas e Renata Sorrah.
Clássico sobre a ambição, a trama traz os generais Macbeth (papel de Dantas) e Banquo (o ator Thelmo Fernandes). Ao voltarem de uma batalha, eles ouvem de três bruxas uma profecia: o primeiro se tornará rei e o segundo será pai de muitos reis. Instigado pela mulher (Renata), Macbeth elimina todos os que possam ameaçar seu domínio na Escócia. A direção segue a linha vista em Hamlet, com cenários minimalistas, figurinos neutros e um rompimento da unidade ao acomodar o elenco em cadeiras nas laterais do palco. Um acerto é a irônica caracterização das bruxas, entretidas nas rodadas de chá. A dicção de Dantas, que parece cuspir as palavras, até contribui para a tensão do general, embora o ator fique longe da magnitude. No entanto, o claro domínio verbal exibido por Renata Sorrah pouco vale. Atriz de presença inegável, ela constrói uma Lady Macbeth contida, quase opaca, sem a força da mítica personagem e da intérprete. No time coadjuvante, Camilo Bevilacqua, Felipe Martins e Edgard Amorim, entre outros, fazem um bom entorno. Como resultado final, a economia de efeitos e atuações respinga na criatividade. Macbeth não angustia, nem incomoda em suas quase três horas. Também não provoca.
AVALIAÇÃO ✪✪