Em 1926, o Mappin Stores, então sediado na Praça do Patriarca, realizou o primeiro desfile de roupas do país. Manequins recrutadas entre as próprias funcionárias do magazine cruzavam a passarela sob os olhares atentos das mulheres da alta sociedade. Dizia o anúncio do evento: “Nesta maravilhosa e selecta collecção, escolhida pessoalmente pela nossa exímia première, quando de sua recente excursão à Europa, figuram, com singular relevo, os mais famosos exemplares dos grandes costureiros de Pariz (…)”. “Naquele tempo, o que havia por aqui era importado, sobretudo da França”, afirma o jornalista Luís André do Prado.
Nesta terça (7), a uma semana da São Paulo Fashion Week, ele e o pesquisador João Braga lançam o livro História da Moda no Brasil — Das Influências às Autorreferências (Editora Pyxis; 642 páginas, 120 reais) e um documentário homônimo, com festa para 800 pessoas na Casa das Caldeiras. Com um bom material de pesquisa e belas fotos, o livro ajuda a traçar o percurso da indústria brasileira de vestuário. São Paulo entra com destaque na história, como um dos principais polos de desenvolvimento desse mercado.
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Construíram carreira por aqui alguns dos profissionais mais bem-sucedidos e influentes na área. Na década de 40, brilhavam nomes como o da uruguaia Rosita, que atendia clientes como Darcy Vargas, mulher de Getúlio, numa maison no centro. Anualmente, ela viajava a Paris, onde conferia os lançamentos da temporada e comprava vestidos originais de alta-costura. Pagava royalties, trazia os moldes e replicava as peças quantas vezes fossem necessárias. Claro, fazia as devidas adaptações para a freguesia mais robusta. Outra estilista de renome, a húngara Boriska, abriu seu ateliê em 1941 na Praça da República. Misses e jovens refinadas aprovavam suas coleções, que mesclavam criações próprias com réplicas de modelos Balmain, Dior e Lanvin. Quando não traziam tudo diretamente do exterior, esses profissionais compravam suas matérias-primas de lojas como a Casa Allemã, na Rua Direita, que passou a se chamar Galeria Paulista de Modas após a II Guerra Mundial.
Nos anos 60, a rivalidade entre dois estilistas marcou época. O paulista Clodovil Hernandes e o paraense Dener Pamplona disputavam as atenções da imprensa e das clientes estreladas. O ápice da disputa ocorria durante o Festival da Moda Brasileira, que conferia o Prêmio Agulha de Ouro ao nome de maior destaque no ano. A dupla também figurava entre as estrelas de outro evento fundamental para o setor, a Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit), realizada de 1958 a 2008, primeiro no Ibirapuera e depois no Anhembi.
Essas e muitas outras histórias saborosas foram pesquisadas pelos autores ao longo de quatro anos e meio. Prado decidiu chamar para ajudá-lo na empreitada o professor João Braga. Com cinco livros publicados, ele leciona na Faculdade Santa Marcelina e na Faap, além de ministrar cursos livres na Casa do Saber. “É importante lançarmos esse material inédito durante a São Paulo Fashion Week, que atrai olhares do mundo todo para cá”, acredita. Apaixonado por arte e avesso à tecnologia, Braga não tem telefone celular nem e-mail. Escreveu sua parte do livro à mão.