Há pelo menos uma década quem passa pela esquina da Avenida Brigadeiro Faria Lima com a Rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, não vê nada além de tapumes em um grande terreno de 9 000 metros quadrados. Ao lado do metrô e vizinha de uma região onde as startups e coworkings se multiplicaram recentemente, tamanha área útil em desuso soava como um contrassenso.
A sorte do pedaço deve começar a mudar na próxima semana, quando sai do papel o projeto de erguer ali uma torre comercial de alto padrão com 40 900 metros quadrados. “Vamos trazer para a área um tipo de empreendimento que é mais comum na região da Vila Olímpia”, afirma Thiago Costa, sócio da Hemisfério Sul Investimentos (HSI), que comanda a empreitada com a VR Investimentos.
O projeto é assinado pelo escritório americano KPF. Estimativas de mercado mostram que construir um prédio nessas condições pode demandar investimento de 1 bilhão de reais. A expectativa é que o lugar seja ocupado em pouquíssimo tempo e alcance os cerca de 170 reais por metro quadrado praticados no Itaim.
Com entrega prevista para 2021, a novidade ainda pode promover uma movimentação no comércio e nos serviços do entorno. “Haverá grande demanda para atender as pessoas que passarão a trabalhar lá”, explica Carlos Pacheco, diretor da consultoria Binswanger. O cenário para a chegada do grandalhão de vinte andares é o melhor em muito tempo.
A poucos metros dali, a Avenida Rebouças está em pleno processo de revitalização e o mercado imobiliário dá adeus a sua crise mais recente, instalada a partir de 2013. No período, o preço do metro quadrado na cidade registrou queda de quase 50% e a vacância quintuplicou, para desespero dos investidores. A região também celebra novidades em sua vida noturna, caso da Rua Guaicuí, uma das mais movimentadas da capital.
A partir de 2004, a região de Pinheiros recebeu uma série de canteiros de obras da Operação Urbana Faria Lima. A prefeitura arrecadou cerca de 2,4 bilhões de reais cobrando dos incorporadores o direito de aumentar o potencial construtivo de seus terrenos. Dessa monta, saíram instalações como o Terminal Pinheiros e a Estação Faria Lima do metrô, além de uma série de obras viárias. “Já existiam construções antigas e com demanda na região, mas essas intervenções trouxeram novos ares para o entorno”, analisa Fernando Didziakas, sócio da consultoria Buildings.
A mesma sorte não teve o grande descampado de cimento que compõe o Largo da Batata — o pedestre é sempre a última prioridade dos planejadores. O lugar chegou a receber um plano de transformação em 2002, assinado pelo arquiteto Tito Livio Frascino, mas que nunca foi totalmente implantado.
No fim de 2017 uma tímida ação instalou bancos, pontos de parada (ainda insuficientes) e incluiu setenta árvores no cenário. Parte da obra foi bancada por doações da iniciativa privada. Passado pouco mais de um ano, já é possível ver sinais de degradação, como grama arrancada, e pichações. Quem sabe a chegada de novas empresas não desperte o interesse em revitalizar também o espaço público.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 30 de janeiro de 2019, edição nº 2619.