Área de embarque de Congonhas tem saídas de emergência lacradas
As portas estão fechadas há seis meses. A administração afirma que a ação inibe acesso a setores restritos e evita que fumantes deixem o local
Considerado o terceiro mais movimentado do Brasil, o Aeroporto de Congonhas está com todas as suas saídas de emergência da área de embarque lacradas. VEJASÃOPAULO.COM teve acesso ao espaço e constatou na última segunda-feira (1), assim como outros quatro usuários do aeroporto, que os lacres permanecem nas portas, fixados na parte de cima das travas de abertura.
Somente em 2012 o local recebeu em média 580 voos por dia, entre pousos e decolagens, e teve mais de 16 milhões de passageiros, interligando São Paulo a 29 pontos. Entre os usuários que comprovaram a situação está o advogado José Del Chiaro, que notou a presença dos lacres nas portas corta-fogo no aeroporto paulistano poucos dias após a tragédia que deixou 242 mortos e mais 116 pessoas feridas na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, na madrugada do dia 27 de janeiro deste ano. Na época, bares e casas noturnas de São Paulo foram vistoriados para verificar, por exemplo, problemas com as saídas de emergência.
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Usuário assíduo do aeroporto, Chiaro decidiu registrar o fato no último dia 21 de junho. “Não me sinto seguro sabendo que algo pode acontecer nessa área e não temos como reagir, pois ficamos confinados ali”.
Ele se refere à proibição dos aeroportos para qualquer material cortante dentro da bagagem de mão. Afinal, esse seria o recurso mais indicado para romper o lacre no caso de um puxão à força não resolver, segundo o gerente de vendas da empresa ELC Produtos de Segurança, Gerson Augusto Capela, especialista em lacres e objetos do gênero.
VEJASÃOPAULO.COM não teve acesso à marca do produto usado para lacrar as portas. Entretanto, o especialista no assunto analisou as imagens. Capela constatou que os modelos não possuem uma abertura manual e que as portas deveriam ser sinalizadas com avisos ou cartazes que indiquem a forma de abrir esses lacres, como é feito, por exemplo, nos metrôs da cidade.
Consultada sobre o caso, a assessoria de imprensa do Aeroporto afirmou que “os lacres são de plástico, fáceis de serem quebrados com um puxão, e não impedem que a porta seja aberta”. Ainda de acordo com a assessoria, “esse tipo de objeto é utilizado em portas de emergência em diferentes estabelecimentos e, no caso específico do Aeroporto, servem para que o setor de segurança e a Polícia Federal averiguem se houve uso indevido destas saídas por qualquer motivo”.
A administração do Aeroporto de Congonhas ressaltou ainda que os lacres “inibem a ação de pessoas que porventura pensem em acessar esses locais, como fumantes, por exemplo, que podem buscar as escadas de incêndio como alternativa para fumar. Estando lacradas, essas pessoas se sentem inibidas de agir dessa maneira”.
De acordo com o engenheiro de infraestrutura da Aeronáutica, Mozart Alemão, o uso de travas nas portas não é equivocado, no sentido de evitar que áreas restristas sejam acessadas por pessoas sem autorização, desde que elas possam ser abertas com facilidade por qualquer tipo de pessoa. Segundo ele, os aeroportos se encaixam também na norma de segurança nacional, que prevê saídas determinadas pelo tamanho do espaço.
Isso significa que, do ponto mais distante do local até a porta, uma pessoa deve percorrer apenas 30 metros. Mais do que isso, deve existir uma outra saída ou mais itens de segurança. As barras antipânico devem estar desobstruídas de forma que uma pessoa fraca consiga abri-las.
Averiguação
Segundo o Corpo de Bombeiros, como os aeroportos seguem uma legislação federal e normas de padrão internacional, eles não podem ser vistoriados pela corporação como todas as outras edificações da cidade. Ainda de acordo com os Bombeiros, a denúncia de que portas corta-fogo estariam fechadas por lacres já foram recebidas.
Em resposta, a Infraero informou que as vistorias são realizadas constantemente, não havendo uma periodicidade específica, e afirmou que a responsabilidade pela averiguação não fica somente com o setor de segurança, mas também com fiscais de TPS (Terminal de Passageiros). Segundo a administração do Aeroporto, os equipamentos, como extintores, por exemplo, são verificados pelos profissionais de segurança do trabalho da própria Infraero. Ainda de acordo com a empresa, a brigada de incêndio, que é formada por civis, atua somente em emergências aeronáuticas.