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“Justiça foi feita”, diz mulher sobre condenação de PM que pisou em seu pescoço

Apesar disso, ela afirma viver com medo e não sai de casa nem para ir ao supermercado ou farmácia

Por Clayton Freitas
Atualizado em 1 fev 2023, 17h38 - Publicado em 1 fev 2023, 16h56
PM pisou em pescoço de mulher durante abordagem, em 2020.
PM pisou em pescoço de mulher durante abordagem, em 2020. (TV Globo/Reprodução)
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Quase três anos após aparecer em rede nacional em um vídeo que a mostrava sendo agredida covardemente por um policial militar, uma mulher do extremo da Zona Sul de São Paulo afirma estar contente em saber que a Justiça finalmente foi feita. A condenação do PM João Paulo Servato, que aparece em alguns momentos tirando os pés do chão e se apoiando unicamente no pescoço dela, ocorreu nesta terça-feira (31). Além dele, a Justiça Militar também condenou o seu companheiro de trabalho, Ricardo Morais. Cabe recurso.

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E é justamente pela possibilidade de uma nova decisão judicial vier a considerar que os policiais não são culpados pelo crime, que ela diz não conseguir viver tranquila, e evitar saídas simples de casa, tais como ir ao supermercado ou à farmácia. O receio se estende até a publicação de seu nome em reportagens, anonimato que será respeitado neste texto. “Peço a Deus que a minha vida seja melhor, mas continuo assustada com medo de represálias”, diz. Ela relata ainda dificuldade em encontrar emprego e que que teme pela segurança dos seus filhos. (leia entrevista abaixo)

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A pisada no pescoço

A vida da ex-comerciante começou a mudar totalmente no dia 30 de maio de 2020, quando, à época, ela era proprietária de um pequeno comércio em Parelheiros, no extremo da Zona Sul de São Paulo. Era o pequeno comércio de onde ela tirava o sustento dela e da família, composta por cinco filhos e dois netos. Naquele início de ano, bares e restaurantes ainda estavam proibidos de abrir por causa da pandemia de coronavírus, porém, o local estava com as portas abertas. Ainda naquele dia, um cliente parou o carro de som alto em frente ao estabelecimento, fato que incomodou a vizinhança. A polícia então foi chamada e, segundo a versão da vítima, um PM estava agredindo um amigo seu e ela afirma que também acabou sendo agredida ao tentar intervir. “Eu pedi para o policial para parar e ele me empurrou na grade do bar, me deu três socos, me deu uma rasteira para me derrubar, ele quebrou minha tíbia”, disse à época. “Ele ficou pisando no meu pescoço com meu rosto encostado no chão.” A mulher ainda foi arrastada algemada pelo asfalto até a calçada. Ela conta que desmaiou quatro vezes durante a ação.

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A absolvição

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A versão dos PMs à época foi a de que eles foram agredidos e tiveram que reagir contra a comerciante e os amigos dela. No boletim de ocorrência, eles dizem que a mulher utilizou uma barra de ferro para atacá-los, o que ela nega. Na ocasião, a Corregedoria da Polícia Militar afirmou que a atuação dos agentes “não fazia parte do procedimento operacional padrão da PM”. O então governador João Doria (sem partido), chamou a conduta de “inaceitável”. Essa versão de inocência sustentada pelos PMS foi aceita num primeiro julgamento, realizado em 23 de agosto de 2022, no Tribunal de Justiça Militar. Foram três votos pela absolvição e dois pela condenação. A defesa da mulher recorreu e foi marcado um novo julgamento.

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A condenação

Um novo julgamento do caso foi realizado nesta terça-feira (31), na Primeira Câmara do TJM, espécie de segunda instância da Justiça Militar. O relator do caso, o coronel Fernando Pereira, apresentou voto pela condenação dos policiais militares. Ele foi seguido por outros dois integrantes da Primeira Câmara. Com isso, os dois PMs foram condenados por abuso de autoridade. João Paulo Servato foi ainda condenado por lesão corporal grave; já Ricardo Morais, por falsidade ideológica. A pena para cada um foi arbitrada em um ano, dois meses e 12 dias cada. O advogado João Carlos Campanini, que defende os PMs, diz que eles são inocentes e que irá recorrer da nova sentença. Ele ainda argumenta que os dois PMs seguiram o manual da corporação.

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A vida interrompida

Em entrevista à Vejinha, a mulher diz que está contente com a condenação, porém, ainda não consegue se sentir tranquila. “São quase três anos de transtorno, sem trabalho e com a saúde psicóloga abalada”, afirma.

Ela afirma que foi obrigada a fechar o estabelecimento, já que não tinha condições de trabalhar e nem de pagar o aluguel do espaço depois do ferimento na tíbia, que a obrigou a ficar acamada um ano,  impedindo-a de se movimentar. Quando melhorou de saúde, diz que chegou a arrumar um emprego como auxiliar de cozinha, porém, foi demitida pelos patrões ao saberem que ela era a mulher que havia sido agredida pela PM. Não foi só ela quem perdeu o emprego. Um dos seus filhos, que trabalhava de motoboy, também foi dispensado do emprego após saberem de quem ele era filho, o que prejudicou ainda mais as finanças da família. “Eu trabalhava como cozinheira de um restaurante, mas ficaram sabendo o que aconteceu e me mandaram embora. Agora faço bico como freelance e meus familiares me ajudam como podem”, afirma.

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A mulher afirma que vive assustada e não dorme direito. “Acabou com a minha vida. Hoje não frequento lugares porque vivo pensando que inimigo está por perto”, diz.

Segundo diz, sua única esperança é a “fé que nutre em Deus”, segundo suas palavras, e o amor pela sua família.

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