Até pouco tempo atrás, o estudante de administração Marcelo Marzagão Nogueira, de 23 anos, dividia seu tempo entre os estudos, o emprego promissor em um banco, os amigos e as baladas. Muitas baladas. Em maio, ele decidiu mudar isso. “Pedi demissão e resolvi dedicar-me intensamente ao trabalho voluntário na ONG Um Teto para Meu País, para a qual contribuo há dois anos”, conta. Nogueira é um exemplo do sucesso da entidade entre os jovens paulistanos. Empenhada em erradicar barracos na América Latina, ela mobiliza estudantes das principais universidades de catorze países da região. Desde novembro de 2006, quando chegou ao Brasil, já contou com o trabalho voluntário de 1 000 pessoas com idade entre 18 e 29 anos. “A ideia é que elas ajudem os moradores a melhorar sua qualidade de vida e a regularizar sua situação”, diz o chileno Claudio Castro, diretor social da ONG.
O primeiro passo do trabalho é construir casas de emergência – feitas de madeira crua e com 18 metros quadrados de área – para famílias extremamente pobres. Com o objetivo de divulgar a ação, os voluntários devem montar um barraco-modelo em plena Avenida Paulista, na Casa das Rosas, na próxima sexta (31). Os casebres acabam sendo um bom jeito de a ONG conquistar a confiança dos favelados. Depois da construção do primeiro barraco, os voluntários costumam ser recebidos de braços abertos pelas famílias que ajudam. Mas quem parece realmente seduzido são os próprios jovens. “Abrimos 100 vagas para o próximo mutirão, marcado para este fim de semana, e 407 pessoas se inscreveram”, afirma a jornalista Joana Ricci, na ONG desde 2006. Durante a obra, os voluntários acampam de sexta a sábado em escolas ou ginásios próximos às favelas. Trabalham desde cedo, enlameados, pertinho do esgoto a céu aberto. Ainda assim, em clima de festejo. “Além da sensação boa de ajudar as pessoas, fazer esse trabalho é também um ótimo jeito de conhecer gente”, diz Nogueira. “Ao fim do dia, sempre paramos para tomar uma cerveja e bater papo.”
A ONG Um Teto para Meu País nasceu no Chile, em 1997. Na época, 135 000 famílias daquele país viviam em favelas. Desde então, já construiu 35 000 casas e colaborou para reverter o cenário inicial. “Hoje, cerca de 20 000 famílias moram em barracos”, afirma Castro. “Algo que, junto com o governo, pretendemos exterminar até o próximo ano.” É uma iniciativa que vale a pena copiar.