Na tarde desta terça (28), Fabrício Proteus Chaves, baleado por policiais durante o protesto contra a Copa no último sábado (25), prestou seu primeiro depoimento sobre o caso. Segundo o advogado que defende o rapaz, que acordou nesta manhã do coma, ele afirmou que recebeu o primeiro tiro antes de apontar um estilete contra os policiais que o perseguiram.
O depoimento de Fabrício foi dado ao delegado Luciano Pires, responsável pela investigação do caso, acompanhado do defensor público Carlos Weis, que presta serviço à família, além do irmão e uma prima do jovem, na Santa Casa de Misericórdia. O delegado não confirma a versão dada pelo advogado de Fabrício e se limitou a dizer que a fala do rapaz confirma o que foi registrado pela polícia no boletim de ocorrência.
Segundo Weis, Fabrício também contou que os artefatos explosivos encontrados pela PM em uma mochila pertenciam, na verdade, a Marcos Salomão, amigo que foi abordado junto com ele naquela noite. Pela versão, os dois teriam sido abordados pelos policiais na Rua Consolação de forma violenta. Por saber que o companheiro estava com o material inflamável e também uma chave de grifo (ferramenta) na mochila, Fabrício teve medo de ser preso e, por isso, correu.
Perseguido pelos policiais, o jovem teria parado, pois estava cansado, quando recebeu o primeiro tiro. Segundo o advogado, Fabrício contou ter sacado um estilete do bolso por instinto e apontado para o policial como forma de se defender. Em seguida, recebeu o segundo disparo. A partir daí, diz o defensor, ele não lembra mais nada do que aconteceu.
A equipe médica que atendeu o jovem afirma que uma das balas atingiu a parte de dentro da coxa esquerda e foi preciso remover um dos testículos da vítima por causa dos ferimentos. O outro projétil está alojado próximo à clavícula do rapaz e provocou uma hemorragia interna, após duas cirurgias.
O delegado responsável pelo caso diz que há novas imagens captadas do momento em que o rapaz levou os tiros e todas serão utilizadas no inquérito.
Mais cedo, o defensor público Carlos Weis afirmou que pretende dar entrada em um pedido para que a investigação sobre o caso seja ampliada e que os policias envolvidos também sejam analisados. Segundo o advogado, a família questiona que todos os objetos que teriam sido encontrados na mochila do dele, em imagens divulgadas pela SSP, sejam realmente de Fabrício. “Foi uma pirotecnia sem sentido”, afirma Weis sobre a divulgação das imagens.
Entenda o caso
Fabrício foi atingido por dois tiros na Rua Sabará, em Higienópolis, durante a manifestação que terminou em depredação e 146 pessoas detidas no sábado (25). Um vídeo de uma câmera de segurança mostra o rapaz correndo e sendo seguido por dois policiais.
Em determinado momento, Fabrício para e um dos policiais cai no chão. O jovem cai em cima do policial. Ainda consciente, ele se senta no chão e é cercado por três PMs. Em seguida, se levanta, dá mais alguns passos, e volta a cair. Não é possível precisar em que momento ele é atingido ou se segurava algo em suas mãos. A polícia afirma que, durante a perseguição, o rapaz tentou agredir os oficiais com um estilete e confirma que os policiais atiraram três vezes contra o jovem. Em seguida, os próprios PMs o levaram até o pronto-socorro da Santa Casa de Misericórdia, em Santa Cecília.
O caso está sendo investigado pelo 4º Distrito Policial (Consolação) e pela Corregedoria da Policia Militar. O delegado encaminhou o material que estava com Fabrício para perícia, que já esteve no local e pediu uma análise balística dos policiais envolvidos.