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OLÁ,

‘José & Pilar’ é documentário à altura de Saramago

Miguel Gonçalves Mendes registrou o dia a dia do escritor português entre 2006 e 2009

Por Miguel Barbieri Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 18h29 - Publicado em 6 nov 2010, 00h19

Duas produtoras renomadas, a brasileira O2, de Fernando Meirelles, e a espanhola El Deseo, dos irmãos Agustín e Pedro Almodóvar, uniram-se para uma empreitada bacana: o projeto do diretor português Miguel Gonçalves Mendes de registrar o dia a dia de José Saramago (1922-2010). O cineasta captou entre 2006 e 2009 imagens domésticas e flagrou as viagens do escritor pelo mundo, sempre acompanhado da mulher, a jornalista espanhola Pilar Del Rio, 28 anos mais nova. No mesmo mês em que morreu, junho, o detentor do único Prêmio Nobel de Literatura da nossa língua chegou a assistir a uma versão estendida do documentário José & Pilar. Teria aprovado o que viu.

Miguel Gonçalves Mendes deu início aos trabalhos quando Saramago começou a escrever ‘A Viagem do Elefante’, seu penúltimo romance. As sequências finais do filme mostram-no ao lado da mulher no Aeroporto de Guarulhos, dias depois do lançamento do livro no Brasil. Cerca de 240 horas de gravações foram condensadas brilhantemente em 125 minutos. Há cadência e beleza plástica nos elegantes registros. Com a câmera muitas vezes imóvel e bem posicionada, o diretor obteve o que só alguns conseguem: passar a naturalidade do cotidiano do biografado sem ser persistente nem invasivo.

Comunista militante e ateu, o autor de ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’ morava na ilha espanhola de Lanzarote e viajava muito. Além de focar na intimidade (a exemplo do casal vendo em DVD a animação ‘Wall-E’), a fita segue de perto seus compromissos internacionais, como palestras cansativas, entrevistas patéticas e prolongadas sessões de autógrafo. Paciente, Saramago posava para fotos junto dos fãs. Momento máximo de emoção: a projeção para ele de ‘Ensaio sobre a Cegueira’, adaptação feita por Fernando Meirelles. Bem humorado, irônico e incansável em ‘José & Pilar’, Saramago não foi unanimidade em vida. O retrato saboroso e comovente de seus últimos anos, porém, tem tudo para cair facilmente no gosto de qualquer espectador.

AVALIAÇÃO ✪✪✪✪

 

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