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José Auriemo Neto, presidente da JHSF, é o novo rei do luxo paulistano

Empresário é responsável por supercomplexo imobiliário em obras, associado ao Hotel Fasano e a butique Daslu

Por Alessandro Duarte
Atualizado em 6 dez 2016, 09h04 - Publicado em 18 set 2009, 20h33

Há cinco anos, José Auriemo Neto entrou na sala de seu pai, Fábio Auriemo, então presidente da incorporadora JHSF, com uma novidade. Tinha visto um terreno de 80.000 metros quadrados à beira da Marginal Pinheiros que, em sua opinião, seria excelente para a construção de um complexo de alto luxo. “Disse a ele para esquecer o assunto, que a Marginal Pinheiros não servia para um empreendimento desses”, lembra Fábio. Zeco, como Auriemo Neto é chamado pelos amigos, não desistiu. Convenceu o pai a fazer um passeio de carro pela região. “Ele mostrou que a entrada poderia ser pelos fundos, numa área residencial. Apenas o shopping e as torres comerciais seriam acessados pela marginal.” De lá para cá, o tal terreno passou a abrigar o maior complexo imobiliário em obras do país. E Zeco Auriemo assumiu o posto de presidente executivo da JHSF, empresa que faturou 156 milhões de reais no primeiro semestre deste ano.

Batizado de Parque Cidade Jardim, o complexo da Marginal Pinheiros é composto de um shopping center com 180 lojas, nove torres residenciais, quatro de escritórios e uma de uso misto – uma parte do prédio será destinada a apartamentos e a outra a um hotel da grife Fasano. As torres residenciais têm apartamentos à venda por preços que variam de 1,8 milhão de reais (unidade de 240 metros quadrados) a 16,6 milhões de reais (cobertura tríplex com 1 700 metros quadrados). Quatro torres residenciais e o shopping devem ficar prontos em maio do ano que vem. Até 2010, quando o Cidade Jardim inteiro for entregue, a expectativa da JHSF é faturar, nesse empreendimento, cerca de 1,78 bilhão de reais. Isso sem contar a receita do shopping, do hotel e de escritórios que serão alugados. “Nas décadas de 80 e 90, pouco se lançou no mercado imobiliário para o segmento de luxo”, afirma Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp). “Há uma demanda grande para esse tipo de empreendimento.” O shopping, inspirado no Bal Harbour Shops, de Miami, terá ambientes a céu aberto e, entre suas âncoras, abrigará Daslu, Academia Reebok, Empório Fasano, Cinemark e Casa do Saber. Entre as grifes estrangeiras, estão confirmadas Armani, Louis Vuitton, Ermenegildo Zegna, Montblanc, La Perla e Longchamp. Especula-se que a marca francesa Hermès também venha a se instalar ali. Esse mercado de alto luxo em que navega a JHSF, mais do que uma vitrine de extravagâncias e de consumismo desenfreado dos privilegiados na pirâmide social brasileira, é hoje um setor importante da economia nacional. Calcula-se que tenha movimentado 4 bilhões de dólares no ano passado.

Um lançamento do porte do Parque Cidade Jardim envolve cifras astronômicas em cada detalhe de sua construção. Só para retirar setenta famílias de uma favela próxima, a JHSF gastou 2,8 milhões de reais. Cada barraco saiu por 40.000 reais. Para construir acima do limite permitido para a região, a empresa comprou 50 milhões de reais em certificados de potencial adicional de construção (Cepacs), que estão sendo usados nas obras de uma ponte estaiada sobre o Rio Pinheiros. Mas não é só a construção do Cidade Jardim que credencia Zeco Auriemo a conquistar o título de o novo rei do luxo da cidade. No fim do ano passado, ele investiu 16 milhões de reais para se tornar sócio da rede de hotéis Fasano. Cerca de um mês atrás, firmou um acordo com a Daslu para que a butique de Eliana Tranchesi abra lojas em centros comerciais que a JHSF pretende desenvolver Brasil afora. Além disso, ele lança em setembro um loteamento classe AAA em Porto Feliz (veja reportagem sobre condomínios fechados no interior do estado na pág. 40) e comprou uma área em Punta del Este, no Uruguai, onde criará um projeto nos mesmos moldes. Aos 31 anos, que a calvície pronunciada faz parecer um pouco mais, seus planos de expansão não param por aí. “Vamos fazer shoppings e abrir hotéis em outras capitais brasileiras e em algumas metrópoles mundiais”, promete. “Vejo o Zeco envolvido em tantas coisas, há tanto tempo, que às vezes me esqueço de que ele é tão jovem”, afirma o sócio Rogério Fasano.

Nem só de luxo vive a JHSF. Entre as propriedades da empresa está, por exemplo, o Shopping Metrô Santa Cruz, por onde passam 75 000 pessoas diariamente. No ano que vem, Zeco deve inaugurar o Shopping Metrô Tucuruvi e dar início ainda às vendas do empreendimento Dona Catarina, na Rodovia Castelo Branco, a 50 quilômetros da capital, um condomínio residencial para a classe média, com casas entre 400.000 reais e 1,5 milhão de reais. A empresa é proprietária também de alguns estrelados edifícios comerciais. Localizado na Rua Hungria, o mais conhecido deles é o Nações, ex-sede do falido Banco Santos. Abriga atualmente o escritório de advocacia Pinheiro Neto, que paga cerca de 800.000 reais mensais de aluguel.

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A JHSF surgiu na década de 90 de um desentendimento familiar. Fábio Auriemo era sócio de seu irmão, José Roberto, na construtora JHS. Eles brigaram em 1995 e criaram duas empresas: a JHSF e a JHSJ, esta responsável pela construção do edifício de escritórios Plaza Iguatemi, na Avenida Faria Lima. “Tínhamos estilos diferentes e, por causa da separação, ficamos sete anos sem nos falar”, conta Fábio. “Chegamos a um ponto em que o Fábio queria acelerar e eu, reduzir”, afirma José Roberto. “Hoje as rusgas fazem parte do passado. Não somos mais sócios, mas continuamos irmãos.” A semelhança entre as siglas sempre provoca certa confusão, da mesma forma que volta e meia perguntam a Zeco se ele faz parte do laboratório Delboni Auriemo. “Nem eu nem meu pai temos qualquer participação no negócio”, explica. O Auriemo do laboratório vem do sobrenome de um outro tio, Caio, presidente da empresa.

Com duas irmãs mais novas (Ana, de 30 anos, e Maria, de 29), Zeco deu mostras desde cedo de que era dono de um espírito inquieto. Quando tinha 9 anos, seu pai o ensinou a dirigir. Aos 10, já guiava na praia e na fazenda da família. Entre 11 e 13 anos, participou de um acampamento da Convivência Internacional de Jovens (Cisv), em Tóquio, e foi jogar futebol com um time amador na Noruega. Ainda na adolescência, montou a cavalo. Chegou a passar sessenta dias aprendendo saltos na Bélgica, com o legendário técnico Nelson Pessoa Filho, o Neco, pai do cavaleiro Rodrigo Pessoa. Aos 17, abriu sua primeira empresa, uma pequena rede de estacionamentos. Chegou a cursar engenharia na Faap, mas largou o curso no 4º ano, apesar dos protestos da mãe.

Casado há quase cinco anos com a administradora de empresas Mariana Landmann Auriemo, de 29, e pai de Antonio, de 3 anos, e Olivia, de 3 meses, Zeco não é muito dado a badalações. Acorda por volta das 7 horas e entra no escritório às 8h15. Fica até as 21 horas, pelo menos. Durante a semana, dificilmente dorme depois da meia-noite. Quando não pede comida em seu escritório, num edifício próprio na Rua Amauri, no Itaim, almoça em restaurantes próximos, como o Parigi e o Dressing. Nos fins de semana, prefere o Gero, o Fasano, o Pomodori e o Due Cuochi Cucina. Sua última viagem de férias foi na lua-de-mel, quando rodou por três semanas entre a Europa e os Estados Unidos. “Em setembro do ano passado conseguimos passar dez dias na França, mas ele aproveitou para marcar algumas reuniões com lojistas interessados em saber informações sobre o Shopping Cidade Jardim”, queixa-se Mariana. Quando tem algum tempo livre, o que é cada vez mais raro, Zeco joga golfe. Seu handicap (espécie de ranking usado para equilibrar jogadores de diferentes níveis) é 22, uma pontuação mediana (quanto menos, melhor). “Jogo umas duas vezes por mês”, diz. “Alguns amigos meus têm handicap 12, mas eles conseguem jogar duas vezes por semana.” Trabalha quase todos os sábados e, muitas vezes, aproveita os domingos para cruzar os céus de helicóptero atrás de boas oportunidades de terrenos. “Quando me perguntam se faço algum tipo de exercício, digo que o Zeco é meu personal trainer”, conta o corretor Alvaro Coelho da Fonseca. “Tenho de acompanhá-lo a reuniões às 7h30 da manhã e a visitas aos sábados e domingos. Não consigo ficar parado.” Apesar de morar em uma bela casa de cerca de 800 metros quadrados que ele mesmo construiu no Jardim América, Zeco já planeja sua mudança. Em meados de 2009, vai se instalar num apartamento de 770 metros quadrados no Edifício Tuias, o último a ser entregue no Cidade Jardim. “Foi difícil convencer minha mulher, porque ela gosta de casa”, revela. “Mas a Mariana topou quando falei que reservei um terreno no Boa Vista para passarmos os fins de semana lá.”

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