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A herança reluzente de Ivanka Trump

Dona de joalheria que dobrou de faturamento nos últimos anos, a herdeira de Donald Trump aposta em diamantes ecologicamente corretos

Por Alvaro Leme
Atualizado em 5 dez 2016, 17h52 - Publicado em 6 ago 2011, 00h50
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  • Somente após tocar uma campainha é possível entrar na butique de joias de Ivanka Trump, localizada num trecho da Avenida Madison, em Nova York, que contém medalhões do luxo como a Hermès. Do outro lado da porta de vidro, vendedoras de ar aristocrático analisam discretamente a estampa do interessado em pôr os pés ali dentro. Às vezes, demoram um tantinho para atender, o que faz algumas pessoas puxarem a maçaneta sem entender direito como proceder (o bling-blong só é audível do lado de dentro). Essa seleção, natural em estabelecimentos de alto padrão, tem aqui outro motivo. Ingressar na loja da herdeira do bilionário Donald Trump equivale a acessar um pequeno pedaço do reluzente mundo em que ela cresceu e vive: as consumidoras de suas criações são mulheres que com ela convivem em ocasiões sociais de Manhattan ou sonham com a oportunidade de fazê-lo. E aí não dá para deixar qualquer transeunte entrar, assim, de supetão. “A visão criativa das minhas linhas é ‘herança chique’”, define ela. “São versões jovens de peças clássicas.”

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    Nos últimos tempos, a clientela sofisticada da empresária encontra nos mostruários uma leva de joias criada com o ambicioso objetivo de reformular aquele papo de que o diamante é o melhor amigo da mulher. Na visão de Ivanka, apenas os brilhantes “sustentáveis” merecem tal posto. Viraram, por isso, os protagonistas de uma coleção ecologicamente correta, lançada em junho, feita com diamantes das minas Diavik e Ekati, no norte do Canadá. “Acrescentamos ouro e platina reciclados para garantir que o resultado fosse ‘verde’ mesmo”, diz Ivanka. Os preços começam em 15.000 dólares (24.000 reais) e, claro, vão bem mais longe que isso. Com 6,81 quilates, o anel primogênito da linha é vendido por 143.000 dólares (228.000 reais). A ideia é que, a longo prazo, 100% dos produtos da marca sejam “amigos do meio ambiente”.

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    Usar diamantes socialmente corretos, cabe esclarecer, não é nenhuma invenção de Ivanka Trump. A Tiffany, sinônimo de joia fina em todo o mundo, confecciona peças com brilhantes certificados desde 2002. Por que, então, virou uma iniciativa bem-vinda pela indústria? Bem, é que se trata da herdeira de uma das maiores fortunas do mundo, dona de um igualmente importante poder de mídia. Além de vice-presidente da empresa do pai, ao lado de quem aparece na televisão como jurada do reality show “O Aprendiz”, a bela loira de 1,80 metro de altura faz as vezes de garota-propaganda de seu negócio. De tanto usar determinadas peças em tapetes vermelhos, fez com que virassem moda. Ainda que isso não fosse suficiente, tem uma clientela que compete em brilho com os colares e anéis, entre elas a atriz Natalie Portman e a maior apresentadora da atualidade, a recém aposentada Oprah Winfrey. Ou seja: se alguém com tantos holofotes a seu dispor resolve divulgar uma causa, dificilmente não consegue.

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    Fazer com que o diamante se torne o melhor amigo da mulher “verde” pode representar um bem valioso para o segmento das joias. Mesmo porque esse relacionamento sofreu uma baita estremecida, não faz muito tempo, quando o planeta conheceu as condições em que viviam países africanos produtores de pedras preciosas. Na década de 90, denúncias de trabalho escravo e comércio de diamantes para financiar guerras civis, só para citar algumas, conseguiram o que parecia impossível: ofuscar a mais glamourosa e cobiçada das rochas. Foi o episódio chamado de Crise dos Diamantes. “Apenas 1% dos produtos usados no mundo vinha de lugares assim”, garante Christian Hallot, da joalheria H.Stern. “Mas foi o suficiente para arranhar a imagem e fazer qualquer mulher se perguntar se alguém havia morrido por causa daquela joia.”

    A exemplo do que ocorre com o segmento de casacos de pele, em que a repercussão negativa pouco afeta as vendas, as pessoas continuaram comprando os brilhantes. As empresas, porém, se viram obrigadas a criar métodos de certificação para evitar que sua imagem fosse manchada. “No mundo da crise financeira, as pessoas têm recorrido cada vez mais a commodities, a bens sólidos, por isso o diamante e o ouro sofreram valorização”, afirma o designer de joias paulistano Mario Pantalena. “Cada quilate que antes custava 150 dólares hoje sai por três vezes esse valor”, estima. Temerosos de que rubis, ametistas, topázios e similares passem pelo mesmo, pesos-pesados da alta joalheria se organizam para criar regras quanto ao controle da extração e produção de pedras coloridas.

    Segunda dos cinco filhos do megaempresário Donald Trump, Ivanka Marie Trump completa 30 anos em outubro. Na década de 90, dedicou-se a uma carreira de modelo cujos momentos mais relevantes empalidecem se comparados ao desempenho de suas investidas como mulher de negócios. A grife de anéis, colares e afins, fundada em 2007, consolidou-se como uma marca importante no segmento — em maio último, ocupou o topo da lista de novas coleções da consultoria americana United Brands, que monta um ranking de maiores e melhores.

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    Seu nome está presente também em licenciamentos de sapatos e bolsas, que em breve ganharão a companhia de produtos como relógios finos e itens de decoração. O faturamento em 2010 foi de cerca de 10 milhões de dólares (16 milhões de reais), número que pode soar modesto levando-se em conta de quem se trata, mas representa o dobro das cifras de dois anos antes. O crescimento se deve à expansão dos pontos de venda. Da butique da Madison, o único lugar em que era possível encontrar as peças, saltou-se para um total de setenta endereços nos Estados Unidos, no Oriente Médio e na Ásia.

    Aliás, a matriz novaiorquina será substituída por uma maior e mais acessível (adeus, campainha), no SoHo, até outubro. Em fevereiro próximo, abre as portas em Pequim, na China. “À nossa maneira, somos o número 1”, afirma a atual CEO da Ivanka Trump Fine Jewelry, Andrea Hansen. Ela, que é carioca e deu expediente na H.Stern por mais de duas décadas, esteve com Ivanka no Brasil recentemente. Especulou-se que a viagem tivesse relação com uma possível inauguração de loja por aqui, possibilidade não rejeitada por ambas, mas que não deve sair do papel agora. “Primeiro vamos nos consolidar nos mercados americano e asiático”, diz Andrea.

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    O plano de expansão foi montado com base em estudos da Trump International, empresa do pai. Pesquisadores levantaram os lugares em que o sobrenome da família tem mais impacto. O Brasil aparece em posição modesta no quesito joias, lista encabeçada por nações orientais. “Vamos abrir quatro lojas na Ásia nos próximos três anos”, diz Andrea. Funcionários de Ivanka juram que Donald Trump não se intromete nos negócios da filha, como poderia concluir quem já viu seu estilo agressivo no programa de TV. Além de acesso privilegiado a mercados internacionais, ela parece ter herdado do pai o espírito empreendedor e workaholic.

    Trabalha aos domingos para compensar o fato de não dar expediente às sextas — ela é judia convertida e respeita o shabat com o marido, Jared Kushner, herdeiro de uma empresa de imóveis e dono do jornal “The New York Observer”. Prometia Ivanka, às vésperas de dar à luz a primeira filha do casal, nascida em 17 de julho último, que tiraria apenas duas semanas de licença-maternidade. Pretende construir um berçário no escritório para a menina, batizada de Arabella Rose. Provavelmente, a mais jovem aprendiz de que se tem notícia.

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