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Irmã Dulce será a primeira mulher brasileira a virar santa

Reconhecimento do feito do "anjo bom da Bahia" foi anunciado pelo papa Francisco nesta terça-feira (13)

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 15 Maio 2019, 11h00 - Publicado em 15 Maio 2019, 09h17
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  • O cego voltou a enxergar. Entretanto, desta vez, o milagre não é atribuído a Jesus, mas a Irmã Dulce, que ainda este ano deverá ser canonizada, tornando-se a primeira mulher brasileira a ser considerada santa – o primeiro homem brasileiro a ser considerado santo foi Frei Galvão.

    O reconhecimento do feito do “anjo bom da Bahia” foi anunciado pelo papa Francisco nesta terça-feira (13). Conforme o arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil, d. Murilo Krieger, a data da canonização deverá ser confirmada pelo Vaticano no mês de julho.

    Na sede das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), no bairro de Roma, em Salvador, o arcebispo disse que o processo de canonização da freira será o terceiro mais rápido da história, pois ocorrerá 27 anos após a sua morte, atrás apenas da santificação do Papa João Paulo II (9 anos) e de Madre Tereza de Calcutá (19 anos).

    Conforme ainda d. Murilo, a cura do cego, segundo milagre atribuído pelo Vaticano à beata, passou por três etapas de avaliação, com peritos médicos, teólogos e, finalmente, pelo colégio cardinalício, sendo reconhecido de forma unânime em todas essas etapas “como algo cientificamente inexplicável e duradouro”. “Agora, vamos esperar o consistório (reunião de cardeais) com a declaração oficial e definição da data da canonização, e então a Igreja, numa cerimônia belíssima presidida pelo papa no Vaticano, colocará Irmã Dulce dos Pobres no altar dos santos”, disse.

    O médico perito que integrou a Comissão de Avaliação, Sandro Barral, contou que o homem, de aproximadamente 50 anos, trabalhava na área de informática e passou por um período de perda da visão, a partir de 1998, decorrente de uma doença severa, que preferiu não identificar, mas cujos sintomas se assemelham aos do glaucoma. Ele teria perdido completamente a visão pela destruição do nervo óptico, precisando readaptar sua vida e se utilizar da companhia permanente de um cão-guia.

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    “Ele pediu a intercessão da Protetora dos Pobres em sua cura”, comentou o médico. Segundo Barral, em 2014, o beneficiado foi acometido por uma forte conjuntivite, sentindo muita dor e, de repente, sem explicação, voltou a enxergar. Ele diz que “todos os exames apontam para um paciente cego, cujas lesões o impediriam de enxergar, mas ele enxerga”, garantiu.

    O primeiro milagre atribuído a Irmã Dulce, que motivou sua beatificação em maio de 2011, refere-se à recuperação de uma paciente que teve uma grave hemorragia pós-parto e cujo sangramento cessou, de forma inexplicável, sem intervenção médica.

    Celebração

    Fiéis lotaram a igreja em comemoração. “Estamos em festa, é a melhor notícia que podíamos ter recebido. Tenho vontade de sair pela rua gritando ‘Viva santa Irmã Dulce'”, disse Ana Deolinda, que trabalha em projetos sociais criados pela freira.

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    O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), afirmou que a canonização é um reconhecimento à história de vida da beata. “Estou muito feliz e emocionado com a confirmação divulgada pelo Vaticano, mesmo sabendo que Irmã Dulce sempre foi considerada santa por nós, baianos. É um reconhecimento à história do anjo bom da Bahia, que construiu uma obra grandiosa de amor e caridade.”

    Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador. Segunda filha de um dentista e de uma dona de casa, ela manifestou interesse pela vida religiosa no início da adolescência. Aos 13 anos, atendia doentes no portão de casa, mais tarde conhecida como “a portaria de São Francisco”, pela aglomeração de desassistidos. Em 1933, ingressou na Congregação da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão (SE), e recebeu o hábito, adotando o nome de Irmã Dulce.

    Falta de verba

    Feliz com o reconhecimento do segundo milagre atribuído a Irmã Dulce, a superintendente das obras sociais que levam o nome da freira, Maria Rita Lopes Pontes, diz esperar com muita expectativa por um terceiro milagre: o de recursos que lhe permitam seguir com o trabalho social, que enfrenta sérias dificuldades financeiras. “Nos defrontamos com grandes desafios, e o principal deles é a falta de dinheiro. Sem dúvida, este é o momento mais crítico que já passamos nesses 60 anos de trabalho” diz Maria Rita.

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    Ela conta que encerrou o ano de 2018 com déficit de R$ 11 milhões. “Acho que continuamos de pé graças a ajuda de Irmã Dulce”, comenta. Nesta quinta-feira, 16, ela vai para Brasília, ter uma audiência com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sobre a necessidade de liberação de verba. A reportagem contatou a pasta na noite desta terça-feira, mas não obteve resposta.

    As Obras Sociais de Irmã Dulce abrigam um dos maiores complexos de saúde mantidos 100% pelo SUS. São cerca de 4 milhões de procedimentos ambulatoriais por ano, atendendo a pessoas em situação de rua e risco social, entre outras. Entre os 21 núcleos que compõem as obras estão o Hospital Santo Antonio, o Hospital da Criança e a Unidade de Alta Complexidade em Oncologia, todos em Salvador.

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