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Instalação de sistemas solares aumenta oitenta vezes na capital desde 2019

Saiba como paulistanos e empresas estão adotando nova matriz energética; empresas anunciam investimentos milionários e criam até serviço de assinatura

Por Clayton Freitas
Atualizado em 4 ago 2023, 13h16 - Publicado em 4 ago 2023, 06h00
Luciene Fonseca e Alex Nóbrega: placas de captação sobre o teto do imóvel de três pavimentos
Luciene Fonseca e Alex Nóbrega: placas de captação sobre o teto do imóvel de três pavimentos  (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Com o objetivo de reduzir a conta de energia elétrica de sua loja de moda infantil e também de sua casa, ambos na Casa Verde (Zona Norte), o empresário Silvio Inada decidiu implantar um sistema de geração de energia solar. Desembolsou 40 000 reais para dispor 25 placas fotovoltaicas (confira abaixo como funciona) no telhado da loja, o que fez com que suas contas de 800 reais ao mês passassem para os atuais 300. “O custo de implantação é alto, mas consegui reduzir e terei retorno do investimento”, afirma. Do outro lado da cidade, em Moema (Zona Sul), a ceramista Malu Serra aproveitou o teto do ateliê que fica nos fundos de sua casa para ali instalar um sistema semelhante, o que vem ajudando a reduzir em 20% o alto consumo de energia elétrica, turbinado pelo forno que usa para produzir as suas caprichadas peças. No Butantã (Zona Oeste), as placas instaladas pelo casal Luciene Fonseca e Alex Nóbrega geram energia para abastecer a casa de três pavimentos e ainda sobra. O excedente vai para a rede da Enel, concessionária que atua em 24 municípios da região metropolitana, e fica como crédito para amortizar novas contas. Na Lapa (Zona Oeste), uma empresa pretende criar até 2030 a maior usina de energia solar em telhados da capital (confira ao final). Esses são alguns exemplos de como os paulistanos, empresas e vários setores da economia da cidade de São Paulo estão aderindo cada vez mais à geração própria de energia elétrica a partir de instalação de equipamentos que captam a energia solar nos espaços que encontram disponíveis. Dados da Enel indicam que a quantidade de clientes da chamada geração distribuída (quando alguém produz a própria energia elétrica no local em que vai consumir) au mentou oitenta vezes de 2019 até julho deste ano (passou de 192 clientes para os atuais 15 700). Desses consumidores paulistanos de energia solar, 98,3% são do varejo, residências incluso. “Trata-se de um movimento natural de amadurecimento e expansão de uma solução ainda recente, se comparada ao modelo tradicional de geração e distribuição de energia do sistema elétrico”, diz André Oswaldo, responsável por Mercado na Enel Distribuição São Paulo.

1 painel solar: Capta a luz do sol e gera os elétrons e a corrente elétrica contínua sendo transportada por cabos; 2 inversor: É o equipamento que transforma a corrente elétrica contínua vinda dos painéis em corrente elétrica alternada, usada nas residências; 3 quadro de luz: Responsável pela distribuição da energia dentro dos equipamentos utilizados em uma residência; 4 equipamentos: A corrente elétrica é adequada para uso em qualquer aparelho doméstico (TV, geladeira, máquina de lavar, computadores etc.); 5 relógio: O modelo é bidirecional, já que mede não somente a entrada de energia mas também a saída; 6 rede: Energia solar produzida e não utilizada (excedente) é encaminhada à rede e fica como créditos para o cliente usar em uma próxima fatura
1 painel solar: Capta a luz do sol e gera os elétrons e a corrente elétrica contínua sendo transportada por cabos; 2 inversor: É o equipamento que transforma a corrente elétrica contínua vinda dos painéis em corrente elétrica alternada, usada nas residências;
3 quadro de luz: Responsável pela distribuição da energia dentro dos equipamentos utilizados em uma residência;
4 equipamentos: A corrente elétrica é adequada para uso em qualquer aparelho doméstico (TV, geladeira, máquina de lavar, computadores etc.);
5 relógio: O modelo é bidirecional, já que mede não somente a entrada de energia mas também a saída;
6 rede: Energia solar produzida e não utilizada (excedente) é encaminhada à rede e fica como créditos para o cliente usar em uma próxima fatura (Absolar/Divulgação)

Dos 15 700 clientes, 10 962 (69,8%) aderiram ao sistema entre 2022 (7 003) e este ano (3 959). O que motivou esse boom foi a corrida para aquisição dos equipamentos antes da entrada em vigor da lei que criou uma espécie de taxação sobre o excedente de energia solar gerado, em janeiro deste ano. Até então, se uma família produzisse 200 quilowatts/hora com painéis solares, mas só usasse 100 quilowatts/hora, os outros 100 eram injetados na rede elétrica e ficavam como crédito, e poderiam ser usados integralmente. Agora isso mudou e haverá custo para quem utilizar os créditos excedentes, com a justificativa de remunerar a concessionária pelo uso das redes, que pode chegar a 30% do valor da tarifa em 2028. Isso, porém, não deve ser entrave para o mercado, segundo Marco Souto, professor de pós-graduação especializado em eficiência energética. “O custo não inviabiliza nenhum projeto. Continuará sendo vantajoso, já que trata-se de um investimento que se paga”, afirma. “Se alguém colocar essa quantidade de dinheiro na poupança, o benefício econômico será três vezes inferior em relação à economia de energia”, calcula o físico Roberto Zilles, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP.

Empresários do setor encaram o rápido avanço da base de clientes apenas como um começo. A análise leva em conta um mix que engloba isenção fiscal na aquisição dos sistemas, linhas de financiamento alia- das ao barateamento dos custos de insumos em até 20% e aperfeiçoamento da mão de obra. “Sem dúvida veremos uma expansão residencial muito representativa”, afirma Barbara Rubim, vice-presidente da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica). “Para pequenos e médios comércios, a eletricidade muitas vezes fica atrás apenas do custo da folha de pagamento de funcionários. De 2015 a 2022 a alta da conta de luz chegou a 80%. Toda vez que isso acontece, o consumidor comercial fica mais propenso a buscar soluções”, diz.

Uma aposta do setor é na expansão do serviço de geração compartilhada. Quem adere a esse sistema não precisa instalar nenhum equipamento, já que pode apenas fazer uma assinatura de energia solar e ter os créditos descontados na conta de luz. Embora já difundido no país e no estado, só agora ele será oferecido na capital, pela Sun Mobi.

Apesar de todo cenário, o alerta para uso racional é necessário. “Há o argumento de que se está produzindo uma fonte renovável e de menor impacto ao meio ambiente. Porém, se as pessoas não reduzirem o seu consumo, estarão apenas jogando a sujeira para debaixo do tapete”, diz Zilles, da USP.

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Casa solar: próximopasso de família de Luciene Fonseca e Alex Nóbrega será aquecer a piscina
Casa solar: próximo
passo de família de Luciene Fonseca e Alex Nóbrega será aquecer a piscina (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Conta mensal de família passa de 480 para 70 reais

Moradores da região do Butantã, na Zona Oeste da capital, a coordenadora de T.I. Luciene Fonseca e seu companheiro, o engenheiro de soluções Alex Nóbrega, sempre se preocuparam em separar o lixo de forma correta, instalaram um equipamen- to que capta água da chuva para usar em áreas como o quintal e, mais recentemente, resolveram investir 27 000 reais em um sistema de energia solar. “Foi um misto de questão ambiental e financeira também”, afirma Luciene, sobre o valor gasto. Agora, todos os eletrodomésticos da casa e equipamentos como computadores, TVs e os aparelhos de ar condicionado do imóvel de três pavimentos são alimentados pela energia solar que vem do teto. Desde que o sistema começou a funcionar, em janeiro deste ano, a média mensal da conta de energia elétrica passou de 480 reais para pouco mais de 70. Além disso, eles possuem créditos de energia gerada e que foi devolvida à rede da Enel. Nóbrega está fazendo os cálculos para o próximo investimento da família, o de um aquecedor na piscina.

Sun Mobi: pioneira em oferecer assinatura de energia solar na Grande SP
Sun Mobi: pioneira em oferecer assinatura de energia solar na Grande SP (Distribution Center Cajamar/Divulgação/Reprodução)

Empresa lança serviço por assinatura

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Comprar energia solar de uma forma tão simples quanto assinar um serviço de streaming é a proposta da Sun Mobi, que a partir deste mês de agosto passará a oferecer a opção a clientes de 24 municípios da Grande São Paulo atendidos pela Enel, incluindo a capital. A usina da startup do setor de energia conta com 16 000 metros quadrados de placas fotovoltaicas instaladas em parte do telhado do DCC (Distribution Center Cajamar). “O público-alvo é uma combinação de residências, pequenos negócios, padarias e restaurantes”, diz Guilherme Susteras, um dos sócios. No modelo de assinatura, a pessoa não precisa gastar para instalar placas no lugar onde consumirá a energia solar. O valor pago custeia a produção do sistema em qualquer outro lugar, desde que esteja na concessão da empresa de energia elétrica, e os créditos são lançados na conta do titular da assinatura. A promessa da startup é de uma economia de 10% a 20% no valor final da conta.

Projeto: E-business Park tem projeto para se tornar a maior usina em telhados
Projeto: E-business Park tem projeto para se tornar a maior usina em telhados (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Complexo investe 25 milhões em energia solar

O E-business Park, um conglomerado gigante de escritórios corporativos na Lapa (Zona Oeste) que reúne empresas como Nokia, GE, Lenovo, EDP e estúdios Mauricio de Sousa, poderá se tornar nos próximos anos a maior usina de energia solar em telhados da capital. O projeto tem previsão de investir 25 milhões de reais até 2030 para cobrir 30 000 metros quadrados dos telhados dos prédios existentes no local. As placas fotovoltaicas começaram a ser instaladas em julho e, por ora, atendem a 10% do consumo do hall de alimentação do complexo, composto de doze restaurantes e serviços diversos, que atendem as cerca de 8 000 pessoas que circulam por lá diariamente. Segundo Renata Hirata, gerente do E-business Park, a meta é amortizar toda a conta de energia elétrica dos prédios, estimada atualmente em 4,5 milhões de reais ao ano. No futuro, os gestores avaliarão se outros 20 000 metros quadrados de telhado também serão usados para gerar energia solar para atender clientes fora do complexo, de acordo com Paulo Belluco, engenheiro de patrimônio da empresa, criando uma fonte de renda extra.

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No alto: placas geram energia que abastece café ao lado do Mirante da Pedra Grande
No alto: placas geram energia que abastece café ao lado do Mirante da Pedra Grande (Roberto Capobianco/Urbia Parques/Divulgação/Reprodução)

Placas geram luz a café isolado no Cantareira

Mesmo não sendo conectado à rede da Enel, o Café da Pedra Grande, localizado ao lado do mirante de mesmo nome no Parque Estadual da Cantareira (Zona Norte), conta com energia para abastecer os freezers, luzes do banheiro, micro-ondas e máquinas de café instaladas no local. A forma que a gestora do espaço, a Urbia Parques, encontrou para que a energia fosse gerada a 1 100 metros acima do nível do mar foi instalar dezoito placas fotovoltaicas no teto do imóvel. Esse tipo de geração usado geralmente em locais remotos e sem ligação com a rede da concessionária é chamado de off grid. No caso do Café da Pedra Grande, a energia excedente é armazenada em um conjunto de baterias com autonomia de 24 horas. Essa reserva do sistema permite que o local funcione inclusive à noite, quando são realizados os passeios noturnos na trilha que dá acesso ao local.

USP: meta é chegar ao final de 2026 com 20% de cobertura
USP: meta é chegar ao final de 2026 com 20% de cobertura (Marcos Santos/USP Imagens/Divulgação/Reprodução)
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USP vai dobrar capacidade de usina Até o fim deste ano

A USP pretende mais do que dobrar a capacidade de geração de energia solar. A ideia é acrescentar mais 1 megawatt (1 000 kilowatts) aos atuais 750 kilowatts gerados hoje em quatro sistemas que estão espalhados pelo campus da Cidade Universitária (na Zona Oeste) e que alimentam o Hospital Universitário, o IEE-USP (Instituto de Energia e Ambiente), parte da Poli (Escola Politécnica) e a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. De acordo com o físico Roberto Zilles, diretor do IEE, a geração atual é suficiente para atender a 1% da demanda de energia elétrica de todo o campus, ou o equivalente ao con- sumo mensal de 300 residências. A meta é chegar ao fim de 2026 com 20% da energia consumida na Cidade Universitária proveniente de sistemas de geração de energia solar. Atualmente são 5 000 metros quadrados de placas fotovoltaicas instaladas em paredes, telhados e coberturas de garagem. Para chegar aos 20%, serão necessários mais 95 000 metros quadrados de placas. Se a ideia vingar, a USP terá a maior usina de energia solar dentro de uma universidade pública do país.

Publicado em VEJA São Paulo de 9 de agosto de 2023, edição nº 2853

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