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OLÁ,

Imóvel do Nacional Club deve ir a leilão para quitar dívidas

Está marcado para o próximo dia 11 um leilão em que a mansão e o terreno deverão ser oferecidos por 5 milhões de reais

Por Sara Duarte
Atualizado em 1 jun 2017, 18h46 - Publicado em 22 fev 2010, 16h49
Sconza Nacional Club_2153
Sconza Nacional Club_2153 (Fernando Moraes/)
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Vestido com seu elegante uniforme grená, o barman Bernardo Sconza, de 69 anos, passa tardes e noites à espera de clientes que nunca chegam. Há quatro décadas no posto, ele é o mais antigo funcionário do Nacional Club, uma associação privada em que ricos e poderosos costumavam reunir-se para almoços de negócios e happy hours regados a uísque escocês, martínis e charutos. Fundado em 1958, o clube ocupa uma mansão situada em um terreno de 5 124 metros quadrados no bairro do Pacaembu. Nos anos 60 e 70, rivalizava com o Clube São Paulo, em Higienópolis, como ponto de encontro da aristocracia paulistana (veja o quadro na pág. 44). Entre seus quase 1 000 sócios havia personalidades como os mandachuvas dos Diários Associados, Assis Chateaubriand e Edmundo Monteiro, o banqueiro Amador Aguiar e o jurista José Luiz de Anhaia Mello, além de políticos como Jânio Quadros, Marco Maciel e Delfim Netto. “O uso de paletó e gravata era obrigatório, e não se admitia a entrada de mulheres”, lembra o barman, um dos cinco funcionários remanescentes — há cinco anos, eram 43. Hoje, com menos de 100 membros, a associação corre sério risco de fechar as portas. Está marcado para o próximo dia 11 um leilão em que a mansão e o terreno deverão ser oferecidos por 5 milhões de reais. O valor equivale a cerca de 40% do que alcançaria no mercado (13 milhões de reais).

Fernando Moraes

O barman Sconza: restaram apenas cinco dos 43 funcionários

A razão da pechincha é a complicada situação financeira enfrentada pelo Nacional Club. A penhora do imóvel foi pedida pela Sabesp, que entrou com três ações na Justiça para reaver 550 000 reais em contas atrasadas. A associação também deve 100 000 reais em encargos trabalhistas, 1,8 milhão de reais de IPTU e 3,5 milhões de reais de INSS. Há ainda dívidas com o Bradesco. “Quem comprar o imóvel pode passar anos tendo de arcar com as pendências deixadas pelo clube”, afirma o advogado Marco Antonio Fanucchi, do escritório Cigagna Júnior.

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Tanto do ponto de vista imobiliário quanto do histórico, a sede do Pacaembu pode ser considerada uma joia. Projetada pelo arquiteto Jacques Pillon, pertenceu ao banqueiro Orozimbo Roxo Loureiro, dono do Banco Nacional Imobiliário. Toda a decoração tem um estilo clássico e requintado. No térreo, além de uma piscina e um jardim assinado por Roberto Burle Marx, há salões de festa, restaurante, bar e biblioteca. No andar de cima, seis salas de reunião e um imenso banheiro social revestido de mármore — nos anos dourados, barbeiros e engraxates davam plantão ali.

Para o atual presidente, o advogado Adauto Rocchetto, a crise ainda pode ser revertida. Ele espera conseguir barrar o leilão por meio de liminar — foi o que ocorreu em 1999, quando o clube foi processado por um ex-empregado. “O imóvel não pode ser leiloado porque foi dado como garantia para o pagamento das outras dívidas”, afirma Rocchetto. Antigos sócios, como o empresário Raul Sulzbacher, acreditam que, mesmo que escape do martelo, o Nacional jamais recuperará seu prestígio. “O dinheiro mu dou de mãos, os sócios originais foram morrendo e os jovens não se interessaram em manter a tradição”, afirma. “Ele perdeu sua razão de ser.”

Mudar para não desaparecer

Fernando Moraes

Clube São Paulo_253
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Clube São Paulo: dívidas e associados incorporados pelo novo proprietário

Na última década, alguns dos principais clubes sociais de São Paulo desapareceram. O exemplo mais famoso é o centenário Automóvel Clube, que fechou por falta de sócios. No seu antigo endereço, o número 367 da Rua Formosa, no centro, funciona hoje o Instituto Fernando Henrique Cardoso. Já o aristocrático Clube São Paulo, fundado em 1959 por Gastão Bueno Vidigal, dono do Banco Mercantil, foi incorporado pelo Iate Clube de Santos, que não tinha sede própria na capital. Em 2008, a associação dedicada a esportes náuticos comprou o palacete da Avenida Higienópolis, avaliado em 12 milhões de reais, e herdou suas dívidas e associados. Mais drástica mesmo foi a transformação da Associação dos Amigos do Museu de Arte Moderna (Aamam), que reunia intelectuais como Ciccillo Matarazzo, Vinicius de Moraes e Lygia Fagundes Telles. Além de abrir as dependências a não sócios, ela mudou de nome e de endereço. No local que ocupa atualmente, na Avenida Ipiranga (antes, passara por outros sete imóveis), sobraram apenas alguns móveis e telas dos artistas que a frequentavam. O público é de universitários. “Dependemos dos jovens para não deixar o ‘Clubinho’ morrer”, afirma a presidente, Clarice Berto.

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