Homens ganham espaço no mercado de blogs de estilo

Todo domingo, pouco antes de dormir, Kadu Dantas esvazia seu armário e espalha sobre a cama calças, camisas, sapatos, lenços e gravatas. Diante do espelho, inicia o ritual de mesclar peças da Gucci, Burberry e Ricardo Almeida com outras garimpadas em lojas de fast-fashion. Na manhã seguinte, veste as combinações, vai para a rua, faz uma pose, e um fotógrafo registra uma sequência de seis visuais, que serão postados depois como “look do dia” no Blog do Kadu.

Com quase 2 metros de altura e pinta de bom moço, o autor da página transformou a paixão por roupas em atividade lucrativa: é hoje, aos 31 anos, o mais bem-sucedido blogueiro de moda em atividade, com um rendimento mensal de aproximadamente 50 000 reais. Numa área dominada por mulheres — uma das poucas, aliás, na qual elas ganham muito mais dinheiro do que eles —, tenta criar por aqui uma cultura fashion masculina. Como propor soluções mais ousadas em meio à multidão de paulistanos que, para não errar, optam pelo combo jeans e camiseta? “Quando comecei, tinha medo de ser motivo de piada, mas fui bem recebido pelos leitores”, lembra Kadu. “As pessoas me procuram para tirar dúvidas básicas. Querem saber, por exemplo, se devem ou não usar meias com mocassins ou por que coloco o lenço dobrado no bolso do paletó.”

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No início deste mês, a repercussão de seus textos levou o Blog do Kadu a fazer parte do portal F*Hits, plataforma digital que reúne 27 blogueiras e tem 15 milhões de visualizações por mês. Agora, ele disputa o post de “melhor look do dia” com nomes badalados como Camila Coelho, Lalá Noleto e Sophia Alckmin. Formado em jornalismo, Kadu descobriu a vocação para o negócio quando tocava sua empresa de relações públicas para marcas de roupas e calçados. “Diziam queeu tinha potencial para blogueiro. Arrisquei porque não havia nenhum homem com relevância na área.” Um mês depois de sua estreia, em julho de 2012, a grife Gant o convidou para cobrir a Semana de Moda de Nova York. A partir daí, associou-se a companhias como IWC (relógios), Sony (celular) e Qatar (aviação). Em dezembro, fechou sua agência de relações públicas para se dedicar exclusivamente ao site.

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Enquanto o Blog do Kadu investe num público que paga até 7 000 reais por um costume, o publicitário Guilherme Cury dá dicas práticas a marmanjos para que não façam feio no escritório ou num encontro amoroso em Moda para Homens. A página surgiu em 2010, depois de Cury passar por uma revoluçãofashion. “Eu só usava jeans e camiseta”, diz. “Quando comecei a frequentar as agências de propaganda, passei a entender de tendências. Comprei roupas coloridas, calças justas e camisas xadrez.” O visual inspirou um texto sobre a mudança em seu blog pessoal, que fez sucesso entre os amigos. Ele decidiu, então, profissionalizar-se. “Uso o espaço para matar minha curiosidade sobre estilo e compartilho as descobertas”, explica. “Escrevo demaneira simples, porque quero atrair quem não entende do assunto.” Cury manteve o hobby em paralelo ao trabalho como diretor de arte até 2012. Hoje, vive do site e recebe, por mês, cerca de 7 000 reais com a venda de anúncios. “Não ganho tanta grana, mas domino meu tempo e tenho menos stress”, afirma. “Faturaria mais se topasse todas as propostas que recebo. Já fui convidado para divulgaruma boneca inflável, mas recusei.” Para ampliar a renda, fundou em 2013 outro site, o Tudo para Homens, que trata de tecnologia, esporte, mulheres e, é claro, moda masculina.

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Mas nem só de “look do dia” vivem os blogueiros da área. O Manual do Homem Moderno quer ser o “melhor amigo do internauta” tratando de assuntos como comportamento, cerveja e estilo. O espaço procura abordar o mundo fashion masculino de maneira simples, como se fosse um guia. Os posts, em geral, são em formato de lista e explicam, por exemplo, “16 maneiras de se vestir bem como umhomem adulto” e “32 regras do terno que todo homem deve saber”. “Nosso foco é a praticidade,não as tendências das semanas de grandes desfiles”, diz Leonardo Filomeno, coautor do site ao lado do jornalista Edson Castro. “Escrevemos como se fosse uma conversa na mesa de um bar. Aliás, é de lá que saem nossas melhores ideias”, completa.