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Haddad critica “uso oportunista” de tiroteio em Paraisópolis

No 'Roda Viva', candidato disse que alarde dessa natureza "coloca em risco a integridade dos candidatos"

Por Hyndara Freitas
Atualizado em 17 out 2022, 23h53 - Publicado em 17 out 2022, 23h53
Fernando Haddad (PT).
Fernando Haddad (PT). (TV Cultura/Reprodução)
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Em sua participação no Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (17), Fernando Haddad (PT) criticou propostas de Tarcísio de Freitas (Republicanos) – que não quis participar do programa – e disse que ele se mudou “há seis meses para São Paulo”. Falou ainda ver com naturalidade não ter o apoio do prefeito Ricardo Nunes (MDB), afirmou que seu apoio na região metropolitana de São Paulo está “consolidado”, mas admitiu a dificuldade de conseguir votos no interior por conta da falta de prefeitos petistas no estado.

O candidato iniciou a entrevista comentando sobre o tiroteio ocorrido em Paraisópolis durante agenda de Tarcísio na manhã desta segunda. Haddad disse que ligou para o adversário no início da tarde, mas que ele só o retornou a noite, e lhe relatou que descartava motivação política do que ocorreu – em coletiva à imprensa, Tarcísio também falou que não acreditava que a ação tinha cunho político-partidário.

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“Eu acho que é um uso oportunista que o bolsonarismo está fazendo, o fato de já levar para a TV, já mudar no Wikipedia o currículo do Tarcísio, já torná-lo uma vítima de um atentado político, causa uma certa apreensão. Eu vejo com muita preocupação. Esse tipo de coisa põe em risco a vida do Tarcísio e da minha, porque quando você estimula esse tipo de compreensão da realidade, você faz com que algumas pessoas – não dá para contar com a sanidade de cem por cento dos habitantes – eu não ando com segurança armado nem com militar à paisana. Então isso coloca em risco a integridade dos candidatos a partir do momento em que você faz um alarde dessa natureza”, falou Haddad.

O petista disse que Tarcísio “não tem propostas”, que seu plano de governo “não tem nada de objetivo” e que “ele tá falando que vai diminuir a maioridade penal”, o que não é tarefa do governador. “Ele nem sabe que isso não é problema da Assembleia Legislativa”, falou. Questionado se concorda com a redução da maioridade penal, Haddad se esquivou de responder: “Não vou cometer a má-fé do meu adversário de ficar trazendo assuntos que não são da alçada estadual para discutir com a população de São Paulo. Essa decisão não será tomada em âmbito estadual”.

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O petista avaliou de maneira negativa a falta de Tarcísio no programa. “Ele não está aqui, ele deveria estar aqui até em respeito ao estado de São Paulo afinal se tem um programa tradicional de entrevistas neste estado é o Roda Viva. Eles saíram [do debate] da Band sem som e sem imagem, não sabiam onde estavam e não sabem onde estão. Estou disputando eleição com uma pessoa que está caindo de paraquedas. Teve o astronauta, que não sei em qual veículo que ele chegou aqui, mas o Tarcísio eu tenho certeza que foi de paraquedas”, falou.

Interior

Haddad foi questionado sobre seu baixo desempenho em cidades do interior, que tende a ser mais conservador. Ele rechaçou a ideia do conservadorismo das regiões longe da capital, e disse acreditar que “quando você chega com uma proposta que faz sentido, uma hora [a pessoa] vai se abrir”. Ele afirmou que a falta de prefeitos petistas no estado é uma das dificuldades, mas se mostrou otimista em relação ao segundo turno.

“Acho que temos uma oportunidade agora no segundo turno, tendo sido bem votado, acho que me dá condições de dialogar com esses setores. Eu entendo que, muitas vezes, o programa do PT não dialogava com o interior. Nós procuramos fazer um programa de governo que dialoga, eu vejo que existe uma aderência aos anseios do interior. Mas é difícil fazer chegar, a campanha é curta, nós não temos prefeitos no interior de São Paulo. Nós ainda estamos vivendo o rescaldo da crise de 2016, que afetou o PT barbaramente. 

O candidato ainda falou que “só o bolsonarismo” explica a adesão a Tarcísio e também a Marcos Pontes (PL), que foi eleito senador por São Paulo. “O astronauta, por exemplo, ninguém sabe o nome dele. Que que o astronauta fez, o que ele propôs?”, questionou. “O que houve na reta final da campanha foi que votos do Rodrigo se transferiram para o Tarcísio. A partir do momento em que eles começaram a fazer uma campanha muito parecida, esses votos começaram a migrar de um pro outro. Agora, não houve uma soma, e isso que nos dá perspectiva de dialogar com setores tão indecisos da sociedade paulista”. 

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Acordos políticos

Em relação a apoios de outros partidos, Haddad disse que é mais difícil conseguir os endossos dos diretórios estaduais de partidos que, na esfera nacional, estão apoiando Lula (PT), como é o caso do MDB, que decidiu apoiar Tarcísio. Para o petista, é “natural” essa decisão vinda especialmente do prefeito da capital Ricardo Nunes (MDB) porque há um planejamento já para a eleição municipal de 2024. “Nós temos um acordo com o Guilherme Boulos (PSOL) de ele representar o campo progressista na eleição de 2024, como nós temos uma prefeitura muito apagada aqui, que não disse a que veio, eu considero quase que natural o prefeito buscar um abrigo em algum lugar e aí o bolsonarismo pode se prestar a ser a força política que pode apoiá-lo em 2024. Então é mais difícil aqui em SP em virtude dos interesses do MDB na Prefeitura de São Paulo”, afirmou.

Questionado por que focou mais suas críticas durante a campanha do primeiro turno mais em Rodrigo Garcia (PSDB) do que em Tarcísio, ele afirmou que fez isso após ter sido atacado pelo tucano e por Edson Aparecido (MDB), candidato ao Senado na chapa do atual governador.  “O Edson Aparecido era candidato a senador, ninguém nem lembra, porque ele usou as 14 inserções para me atacar. Eu tinha seis a sete inserções, eles tinham 28, eu fui obrigado a me defender, aí soou mal, mas ninguém lembrou de me perguntar”, afirmou.

Ele acredita que já havia um acordo no PSDB para apoiar o candidato do Republicanos mesmo antes do segundo turno ser definido, citando um encontro do presidente da Assembleia, Carlão Pignatari (PSDB), com o presidente Jair Bolsonaro (PL) em junho. “Creio que havia ali um combinado, vida a pressa com a qual o PSDB, o que sobrou do PSDB, aderiu à candidatura do Tarcísio”, falou. “Tanto é que o Rodrigo, dois dias depois, estava junto com o Bolsonaro no aeroporto. Ele reeditou o ‘bolsodoria’”.

Cracolândia

Haddad comentou a política atual do atual prefeito da capital na cracolândia, e disse que há espaço tanto para internações de dependentes químicos quando para ações de redução de danos. “Você tem que olhar pro indivíduo, na grande maioria dos casos uma política de redução de danos é completamente suficiente para tirar a pessoa daquela situação. Redução de danos: dar um teto, dar tratamento ambulatorial e trabalho, você consegue tirar a maioria das pessoas da situação de extrema vulnerabilidade. Tem casos em outro extremo em que a internação se justifica, inclusive a internação compulsória, porque a pessoa está colocado em risco a própria vida ou a vida de terceiros. Você precisa oferecer tudo porque para cada caso você vai ter uma solução, mas para a maioria, não precisa de internação compulsória”, opinou.

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Segurança pública

Haddad ainda rebateu o discurso de bolsonaristas que associam o PT e Lula ao crime organizado, dizendo que “o extremismo vive de associação de ideias desconexas”, e defendeu que os presídios federais, construídos nos governos petistas, foram positivos para combater o crime organizado. “Se tem uma coisa que funcionou contra o crime organizado no país, e é um problema complexo, foram os presídios federais. Todos os presídios federais foram feitos pelo Lula, aí pergunta ‘por que fulano só foi transferido tal hora?’. O presídio federal está disponível, quem define a hora de transferir é o juiz de execução penal, não é o presidente da República. É o juiz que fala se cabe a transferência. Realmente, nós começamos a combater o crime organizado quando a União entrou”, argumentou.

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