No último mês, o empresário italiano Claudio Leone passou dez dias em São Paulo com a mulher, Giulia, sem nenhum compromisso de trabalho na agenda. Em vez de conferirem clássicos como a Praça da Sé ou o Masp, eles passearam pelas galerias de arte Nara Roesler, na Avenida Europa, e Vermelho, em Higienópolis. Também foram a lojas de design e de móveis, nos Jardins.
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Antes de embarcar de volta para a Europa, o casal encarou ainda um tour pela favela de Paraisópolis, na Zona Sul. Foi a quarta vez que Leone esteve na capital. “Não há outra cidade no mundo com contrastes tão interessantes”, afirma. Desde 2007, ele vem sendo ciceroneado em suas visitas pela guia turística Flavia Liz Di Paolo.
Ela faz parte da categoria dos personal guides, como são chamados os profissionais que se dedicam a preparar roteiros especiais para viajantes do exterior. Boa parte desses pacotes inclui passeios por pontos que até muitos moradores daqui desconhecem. “O objetivo é propiciar experiências que tornem a estada inesquecível”, explica Flavia Liz, uma intérprete e ex-relações públicas que criou em 2008 uma empresa especializada nesse tipo de serviço.
Dependendo do perfil do cliente — a relação inclui investidores, políticos e colecionadores de arte, entre outros —, ela organiza visitas a ateliês de estilistas e pintores, além de jornadas para ver de perto alguns ícones da arquitetura modernista, como o edifício Copan. “Uso minha rede de contatos para abrir portas”, afirma.
Segundo dados da SPTuris, o número de estrangeiros na cidade aumentou 40% entre 2004 e 2011, quase três vezes a média brasileira no mesmo período. No ano passado, passou por aqui 1,7 milhão de pessoas de outras nacionalidades. Ainda é um número tímido se comparado ao de outros grandes destinos internacionais. Paris, por exemplo, recebe 17 milhões de visitantes por ano. Apesar dessa diferença com relação à capital francesa, a evolução da procura por São Paulo foi suficiente para formar um público que já conhece os principais pontos turísticos e retorna em busca de novas experiências.
É esse cenário que facilita o surgimento dos personal guides. Viajados e fluentes em pelo menos três idiomas, eles cobram até 300 reais por hora para ajudar seus clientes a desbravar pontos interessantes.
Nos últimos dois anos, o empresário Lincoln Paiva, dono da U-Bike, calcula ter levado mais de 1.000 gringos para conhecer a metrópole pedalando. O ponto de saída é o Hotel Unique, no Jardim Paulista, que mantém um acordo de parceria com o guia. “É um jeito bacana e sustentável de conhecer nossa paisagem”, acredita. No ano passado, o cantor David Byrne, ex-líder do Talking Heads, acompanhou um desses tours. “Fomos até a Vila Madalena, e ele adorou”, conta Paiva.
Com seus 11 milhões de habitantes, São Paulo pode ser um desafio até para os turistas mais experientes e acostumados a situações difíceis. Mesmo habituada ao trânsito caótico da capital de seu país, a mexicana Angélique Malavialle, de 31 anos, apavorou-se nos seus primeiros dias por aqui, no início de agosto, e acabou pedindo ajuda para concluir sua programação. “Demorava muito tempo para chegar aos lugares e sempre achava que estava perdida”, diz. Amante de arte urbana, ela pagou 370 reais por um passeio com Luis Simardi, proprietário da Around SP. Em cinco horas, conferiram grafites do Beco do Batman e foram a algumas galerias da Vila Madalena, como a Tag and Juice. “Achei o máximo”, afirma Angélique. “Jamais conseguiria encontrar esses lugares sozinha.”
AS APOSTAS DOS “PERSONAL GUIDES”
Algumas das opções de passeio oferecidas pelos guias
■ Lugares: parques do Ibirapuera e do Povo; Praça Benedito Calixto; e centro histórico. Há paradas para lanche no Museu da Casa Brasileira, na Zona Oeste, ou no Café Girondino, no centro
■ Quem leva: U-Bike, tel.: 3042-4513, www.u-bike.com.br
■ Preço: a partir de 50 reais
■ Lugares: galerias e lojas de design e móveis, nos Jardins; casas particulares projetadas por Paulo Mendes da Rocha; favela de Paraisópolis; restaurantes D.O.M. e Maní; Mercado Municipal; e feiras de rua
■ Quem leva: Flavia Liz Personal Guide, tel.: 98119- 3903
■ Preço: a partir de 200 reais por hora
■ Lugares: becos do Batman e do Aprendiz, na Vila Madalena; galerias de arte urbana e ateliês de grafiteiros; Praça do Pôr do Sol; Museu do Futebol; e estádios do Morumbi e do Pacaembu
■ Quem leva: Around SP, tel.: 2361-6821
■ Preço: a partir de 100 reais por hora